ELE ME ODEIA - capítlo II

No seguinte dia de trabalho, algo me deixou apreensiva, Dante não apareceu na empresa. Achei que ele havia se atrasado, mas depois de meia hora comecei a imaginar um turbilhão de coisas... Imaginei que Dante tivesse ido atrás de Júlia e que Júlia estivesse na Antarctica e que a Antarctica estivesse derretendo... Meu Deus! Onde Dante estaria? Quando eu voltava para casa, fui surpreendida com Dante junto a alguns amigos, ambos embriagados. Dante me viu e apontando para mim e cambaleando, disse num pronunciado todo enrolado, para os amigos:

- Olha quem... Tá... Tá Vindo ali... É o meu... Chulé! Ha! Ha! Ela faz tudo... Que eu... Que eu mando! Se eu fizer assim ó... Ela... Ela vem correndo, por... Porque ela me... Me ama! Ha! Ha! Ha! Quer ver?

Eu me aproximei e Dante veio para perto de mim, e me fitando com aqueles belos olhos verdes que agora estavam avermelhados, ele falou:

- Ô... Meu amor... Você me faz um favorzinho... Por... Por favor?

E eu, sempre tão fraca e entregue a ele, falei:

- Claro. O quê?

- Vai ver se eu... Tô na esquina!

Ele e os amigos caíram na gargalhada e, furiosa, peguei a latinha de cerveja da mão de um deles e aticei a bebida no rosto de Dante, no que os outros agora riam dele. Dei de ombros e Dante gritou em sarcasmo:

- Ei, volta... Aqui! Essa conversa está... Sendo gravada! Ha! Ha! Ha!

Olhei revoltada para trás e Dante havia caído e batido o rosto no chão.

- Dante!!

Chamei um táxi e o motorista me ajudou a colocar Dante dentro do automóvel e o levei para a casa dele, que por sorte eu lembrava onde era. Horas depois, eu remexia Dante, que já estava sobre a cama, tentando despertá-lo.

- Acorda, Dante, seus pais estão aqui!

Dante abriu os olhos aos poucos e seu pai, o sr. Daniel, se punha de frente a ele. Dante, ainda desorientado, disse:

- Mãe?

- Que mãe? Sou seu pai! Que deu em você para beber? Você nunca gostou de bebida alcóolica!

Dante olhou para mim e perguntou:

- O que você tá... Tá fazendo aqui? Pai, o que ela faz aqui... Em casa?

O sr. Daniel deu um tapa em Dante e a sra. Fátima, a mãe de Dante, falou:

- Não bate nele!

- Mas eu tenho que bater! Nenhum filho meu vai falar feito um bêbado! Logo agora que voltamos do Canadá...

- Canadá? Vocês não são da Suíça?

Eu perguntei, intrigada, e a sra. Fátima disse:

- Suíça? Não!

O sr. Daniel tentava erguer Dante da cama e falou para ele:

- Levanta, Dante!

- O que você vai fazer, amor?

- Vou jogar ele debaixo do chuveiro.

Dante era arrastado para o banheiro pelo pai e falava:

- Não, papai, eu não quero... Tomar banho!

A sra. Fátima virou-se para mim e disse:

- Obrigada por trazer meu filho para cá, não quero nem imaginar o que poderia ter acontecido com ele naquele estado.

- De nada. Preciso ir para casa agora...

- Eu levo você de carro.

- Não preci...

- Sem conversa! Você ajudou Dante. Vamos. Amor, vou levar a Iva em casa e já volto!

No carro, uma conversa repleta de dúvidas se estendia entre a sra. Fátima e eu...

- Iva, você sabe se algo de errado anda acontecendo com Dante?

Eu não tinha certeza se deveria dizer algo ou me calar...

- Pode falar, não se preocupe, Iva.

- Bom... Acho que seu filho está chateado porque... Estraguei o que havia entre ele e uma moça de quem ele gosta.

- Quem seria essa moça?

- ...

- Por acaso se chama Júlia?

- Sim. A senhora a conhece?

- Não pessoalmente, mas Dante vivia falando dela a todo instante... Dizia que estava loucamente apaixonado e pretendia até se casar com ela. Mas, o que aconteceu?

Repentinamente, uma angústia percorreu todo o meu corpo e relembrei das cenas passadas, quando beijei Dante e quando deixei a caixinha do anel cair no boeiro. Então falei:

- Eu... Eu beijei seu filho... E Júlia viu.

- Você beijou Dante?

- Eu não sei por que o fiz! Não deveria ter me atrevido.

- Iva, você gosta dele?

Fiquei em sigilo por um instante, refletindo sobre tudo, lembrando das vezes que me arrisquei, que inventei desculpas somente para me aproximar de Dante. Então acreditei que aquilo não era só um "gostar", era muito mais forte, todavia, eu a ela só disse:

- Gosto.

- Humm... Só gosta?

- ...

- Vamos lá! O gato comeu sua língua? Diga a verdade, Iva, você sente algo a mais pelo meu filho?

- Eu... Eu não sei explicar... Talvez...

- Talvez...

- Talvez eu sinta algo mais.

- Você o ama?

Eu estava tímida para me expressar, mas a sra. Fátima me encarava com uma expressão tão acolhedora e aparentava se importar comigo. Ela falou:

- Nem precisa responder, está estampado nos seus olhos. Bom, chegamos...

- Obrigada, sra. Fátima.

- Me chame só de Fátima.

Sorri para ela e saí do carro, entrando em seguida em casa. Eu morava com meus avós, Esmeralda e Pablo, eram um amor de pessoas, eu os amava demasiado. Só que, naquela noite, alguém mais estava na casa e se acomodava no sofá com uma lata de refrigente, era meu tio Ricardo, irmão de minha falecida mãe - minha mãe morreu logo após me dar à luz e meu pai trabalhava no exterior, a cada três meses ele nos visitava - eu não imaginava o que o meu tio fazia ali, porquanto raramente nos visitava.

- Tio?

Ele me olhou de baixo para cima e se punha de pé. Disse:

- Iva, como você mudou. Deixa eu te dar um abraço.

Ele me abraçou, mas eu ainda não entendia o que o trazia à casa.

- O que o senhor faz aqui? Quer dizer... É que faz tanto tempo que não o vemos.

- Pois é, vim e para ficar.

- O quê?

- Seu pai que me pediu, ele acha que você precisa de mais cuidados, se é que me entende.

- Mas, eu vivo com os meus avós aqui, eles cuidam de mim!

- Não, Iva, você cuida deles. Veja seu avô, vive de cama a tocir, e sua avó também está fraca e se entope de remédios.

- Mas...

- Sem "mas", Iva, vou ficar aqui com vocês e pronto.

Ele voltou a se sentar e eu fui até o quarto de meus avós, eles estavam dormindo. Fechei a porta e fui buscar algo para comer na cozinha, depois regressei à sala e fiz companhia ao meu tio.

- E como vai o trabalho?

Ele me perguntou.

- Bem. Às vezes estressante.

- Continua na empresa de telemarketing?

- Sim.

- Tem que avisar ao pessoal de lá para ser mais rápido no atendimento, esperar demais é angustiante.

- São poucos operadores para tantas reclamações.

- Se o serviço fosse bem feito as reclamações seriam menos.

Dia após, cheguei no trabalho na ansiedade de saber como estava Dante e ao mesmo tempo, tinha receio de o saber. Paloma murmurou para mim:

- Ele está vindo ali... Puxa! E está com um super galo na cabeça!

Tive medo de me virar e permaneci de costas, quando ele passou por mim e foi direto para sua cabine. Não teve nenhuma reação bruta e nem parecia alterado, simplismente ocupou seu lugar e bebeu seu café.

- Vou lá falar com ele.

Eu disse, e Paloma retrucou:

- Está louca? Ele com certeza está com uma péssima ressaca e mais o ódio que já sente por você...!

- Eu preciso saber se ele está bem.

- É claro que ele está bem! Está inteirinho. Ele só bebeu, não foi atropelado por um trem.

Não dei ouvidos ao que Paloma dizia e caminhei até a cabine de Dante. Ele bebia mais um gole do café e quando repousou a xícara na mesinha, eu falei:

- Olá, Dante.

Ele levantou o olhar para mim, sem nada dizer. Falei:

- Fiquei preocupada com você... Como você está?

- Não te devo satisfações.

Ele falou, com a cabeça caída para o chão e alisando o rosto com as mãos. Continuei:

- Me desculpa ter jogado a cerveja em você, é que... Fiquei sentida com as brincadeiras que você tirava com seus amigos sobre mim...

Dante franziu o cenho e levantou a cabeça, como se até àquele momento não recordasse de nada daquilo e agora a lembrança se acendia em sua memória. Ele olhou para mim e, soprando um ar de desgosto, disse:

- Você já conseguiu tudo o que queria, meu beijo, me afastar de quem mais amei na vida... Quer mais o quê? Me arruinar? Me destruir?

- Não! Jamais!

- Tenho que fazer meu trabalho, me dá licença, por favor.

- Espera, antes eu queria te entregar isto...

Retirei da bolsa a caixinha vermelha com o anel dentro e coloquei sobre a mesa. Dante fitou a caixinha, depois a abriu... Então perguntou:

- Como você conseguiu?

- Não importa. Está aí, não está?

Ele segurava o pequeno objeto e refletia, só depois de alguns minutos se manifestou...

- Fica pra você.

- O quê?

- Júlia já não está mais aqui, para que vou querer isso? Se não quiser, joga. Agora me dá licença que preciso trabalhar.

Peguei de volta a caixinha, sem a certeza de que deveria o fazer, podia ser que Dante estava deprimido e não pensava bem antes de agir, mas mesmo assim levei o objeto comigo e o guardei na bolsa.

Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 21/10/2015
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