OS DEZ / ENCONTROS DE ANA - 09
OS DEZ / ENCONTROS DE ANA - CAP. 09
No final de quinze dias despachou o relatório para o mesmo local no interior do Estado de São Paulo. Esperou novo contato – que por sinal não demorou muito. Deveria viajar para a cidade de São Paulo, hospedar no mesmo hotel, no mesmo apartamento.
Estranhou o fato, mas seguiu no avião determinado na passagem. Fez a rota explicada no envelope. Na portaria se identificou, pegou a chave do apartamento. Para sua surpresa sua mãe a aguardava no quarto.
As conversas rodaram por várias partes, as únicas que não foram citadas: as suas missões. A mãe permaneceu junto de Ana apenas por duas horas. Pegou um táxi para a rodoviária e voltou para o interior.
Ana ficou feliz por aqueles momentos, feliz por estar ao lado da mãe. Sabia que poucas vezes ficaria perto da mãe. Sabia que a mãe estivera ali apenas para cumprir parte de seu contrato – mas Ana não sabia que estava sendo testada – como dizem: “as paredes têm ouvidos”. Ana passara naquele teste. Não sabia exatamente o que fazer, resolve tomar um longo banho.
Ao retornar encontra um envelope sobre a cama. Como? Não ouvira a porta abrir, muito menos alguém entrar. Mas o certo era que o envelope estava lá. E logo estando lá, deveria ser aberto.
Abre-o e em letras grandes aprecia uma pequena frase em destaque: Parabéns! – que por sinal era bem-vindo para o momento, mesmo não sabendo a que parte se aplicava o tal. Continuou a leitura e logo viu que deveria continuar ali por mais dois dias e depois seguir para a capital federal, Brasília. Deveria hospedar no Hotel Intercontinental, no quinto andar. Outro sim, deveria aguardar a visita de um parceiro e seguiriam juntos para Brasília.
Não sabia quando o novo parceiro viria ao seu encontro, no entanto, deveria ficar atenta. Todos, pelo jeito, conheciam como entrar e sair de algum lugar sem ser notado. Ela, principiante, deveria apenas observar e começar a imitar.
Nada de diferente aconteceu naquele fim de dia. Ao amanhecer do outro dia Ana foi acordada pelo toque do telefone.
- Alô?
- Ana?
- Sim.
- Eu sou Tom, o seu novo parceiro. Estou subindo.
- Sim.
Desligou o telefone. Trocou-se rapidamente. A voz meio meiga, meio tom – por assim dizer. Tentou fazer idéia de como seria o novo parceiro. Talvez jovem, ou de sua idade. Mais velho ou experiente. Ou ainda, de idade bem mais que a voz aparentava ter. Nem sempre é possível identificar alguém pelo simples ato de falar poucas palavras ao telefone.
Minutos depois um leve toque na porta. Ana abre-a cautelosamente.
Um sujeito de aparência pouco apresentável, uns trinta e cinco anos, se vê à porta, estende-lhe a mão num ato de cordialidade. Ana retribui e faz sinal para este entrar. Familiarizam-se em poucos minutos. Tom diz que precisa de um banho urgente: há dois dias que está de viagem – saíra de Fortaleza, passara pela cidade do Rio de Janeiro e agora São Paulo. Ana indica o banheiro e logo é ouvido o som da água cair.
Ana ainda não pensara que daquele momento em diante deveria repartir o quarto com um desconhecido. Embora o tal Tom trabalhasse para o mesmo senhor X – tratava-se de um desconhecido. Ana caiu em si: por que será que o tal Tom não fora para outro quarto?
Dormir com um estranho seria coisa nada fácil. Nunca fizera isto antes. Já tivera vários casos de amor, mas nunca dormira na primeira noite – sempre curtia um ‘conhecer’ com o outro e depois de um bom tempo que ia para a cama, ou inventavam para os pais alguma excursão e se viam livres para fazer o que bem entendessem.
Meia hora depois Tom aparece no quarto enrolado o corpo em uma toalha. Barba feita – já aparentava outro Tom. Puxa a sua valise para perto de si, retira as roupas que necessita, veste-se. Ana observa tudo, sua nudez, nada diz. Seus pensamentos estão a mil: um homem ali ao seu lado (e ela ali sem homem há vários meses). Tom, indiferente aos pensamentos de Ana, convida-a a almoçar. Ana sem titubear aceita.
- Então, troque-se de roupa rapidamente – que ainda pegamos alguma coisa do almoço.
- Psiu, não é para tanto.
- Às vezes, menina, já passei maus apuros. Algumas damas demoram pra se arrumarem... outras, que já sabem como sou: arrumam-se rápidinhas porque sabem que as deixo para trás.
Ana apenas ri. E continua no mesmo lugar.
- Troque-se, vamos!
Ana pega uma roupa mais apropriada para a ocasião e dá os primeiros passos rumo ao banheiro.
- Ana!
- Sim.
- Troque-se aqui mesmo. Já estou acostumado a ver mulheres trocando-se de roupas constantemente.
- Ana fixa o olhar em Tom. Tom compreende o olhar, e completa:
- Você ainda é jovem no trabalho. Acostume-se, garota, nosso trabalho – às vezes – não há tempo nem para pensar em sexo.
Ana recua e coloca a muda de roupa sobre a cama. Retira a que está e rapidamente coloca a que pegara. Ouve de Tom:
- Belo corpo você tem!
- Obrigada.
- Belo mesmo!
A frase falada por Tom repetidamente faz Ana fugir de seus pensamentos. Medita no que a mãe sempre dizia: “Todo homem sabe deixar uma mulher no céu” – ou – “no Inferno” – depende deles e do momento.
Tom abre a porta. Ana passa e Tom fecha-a. Estende o braço para Ana que também segura cautelosamente. O elevador custa a chegar – Ana apenas observa Tom que a olha de soslaio.
Almoçam um belo prato brasileiro: carnes em rodízio. De volta ao quarto encontram um novo envelope sobre a cama. Tom o abre. Deveriam no outro dia seguir viagem para Brasília. A instrução dizia que Ana já tinha conhecimento do lugar onde deveriam ficar.
Tom apenas disse:
- Tudo bem, tudo bem. Amanhã viajaremos.
- Brasília.
- É... não gosto de Brasília.
- Por quê?
- É uma cidade cheia de federais...
- Só por isso?
- É que não gostam do nosso trabalho.
- Não?
- Não. Sabem que somos superiores a eles.
- Hum.
E Tom retirou os sapatos, a camisa, a calça – apenas permaneceu de cueca. Estendeu-se na cama e suspirou:
- Tenho uma tarde e uma noite para dormir. Que bom!
Ana olhou-o cautelosamente. Retirou a roupa que colocara, colocou a camisola que recebera. Deitou na cama ao lado - observando-o sempre.
Prof. Pece
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Esperando nº da Bibl. Nacional. OBRA: DESENCONTROS DE ANA
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