Ésoj em busca do coração de ônix- Capítulo Um- O coração de Ônix
Numa cidade distante, cercada por cachoeiras e coberta por árvores frondosas existia o pequeno reinado de Edadh, conhecida também por Coração Negro.
Edadhianos eram criaturas pequenas, mas com corações enormes. Eram conhecidos por sua bravura e generosidade. O rei Siliak já estava em posse do trono há mais de trinta anos.
Era considerado um bom rei. Amado pelo povo e respeitado até mesmo por seus inimigos. No passado, Siliak liderou batalhas que o permitiam viver hoje em perfeita harmonia.
Havia uma vantagem grandiosa em se nascer Edadhiano. Eles podiam ser pequenos, mas eram fantásticos.
Edadh foi sitiada por fadas em tempos anteriores. Quando os anões chegaram naqueles montes, estes não passavam de pedras amontoadas e sem vida. Era um lugar vazio e sombrio para se viver. Por serem pequenos foram separados dos demais seres que se acreditavam superiores. Um absurdo. Na realidade, os outros povos além de muita inveja, tinham medo, pois os anões eram extremamente unidos e corajosos. Sua pequenez era compensada por sua agilidade.
Eram cento e cinquenta ao todo, como nada conheciam além dos muros da cidade natal, resolveram que pela primeira vez teriam que se separar e procurar um novo lar.
Vinte e três chegaram a Edadh. E dali fizeram morada.
Ellenin, era uma das fadas que vivia na cidade das Fadas, vizinha de Edadh. Infelizmente, Fae, a líder das Fadas assim como os outros acreditava que Fadas não podiam se misturar e deviam se casar apenas entre eles. Uma fada namorar um ser não mágico era extremamente proibido, um problema para Ellenin que estava apaixonada por Aber, um dos anões que sempre encontrava nas mediações da cachoeira.
Assim que soube do romance de Ellenin com Aber, Fae tratou de mandá-la embora por desonrar sua crença. Sem lar e nem família, Ellenin se escondeu em Edadh. Lá, se casou com Aber e eles tiveram um filho. Rogi, pai de Siliak.
Nunca antes na história houve um filho de anões com fadas e embora estivessem receosos de perder o filho, o casal já o amava. Nasceu então o primeiro Edadhiano. Mas, ele nasceu estranho e tinha muita febre. Ninguém entendia o por quê.
Depois de muito lutarem, descobriram que Rogi puxou toda a estrutura do pai, se assemelhava fisicamente com os anões, e até mesmo na grandeza de coração, mas os poderes eram os da mãe.
Todos ficaram surpresos. Será que sempre seria assim? Filhos entre fadas e anões sempre nasceriam com os dois poderes?
Logo souberam a resposta, pois Aber e Ellenin tiveram mais três. Todos nascendo do mesmo jeito.
Cansadas da tirania de Fae, mais duas fadas decidiram fugir e também se abrigaram em Edadh. Não tardou para que casassem e ajudassem a povoar a atual cidade. Todos tinham poderes.
Mas, ao passo que a povoação crescia, a cidade das Fadas tornava-se mais fria e vazia.
Fae, era muito poderosa, mas também muito vaidosa e um tanto má. Um dia, vendo a felicidade de seus vizinhos, juntou o resto das fadas (que agora eram poucas) e resolveram atacar Edadh com o objetivo de castigar as fadas traidoras.
Elas lançaram sobre a cidade feitiços de agouro que os fariam entram em discórdia, brigar e adoecer.
O que Fae não esperava porém, era que as fadas, justamente por serem fadas, fossem imunes ao feitiço.
Percebendo que uma energia estranha começava a dominar aquela tão amada terra, e alterar todos os nascidos em Edadh, logo identificaram que se tratava do feitiço de agouro e tentaram varrê-lo dali.
Contudo, era muito forte e elas fracassaram.
Depois de um mês vivendo sob aquele agouro, os corações bons dos anões e dos Edadhianos se dissiparam e em pouco tempo estavam se agredindo verbal e fisicamente. As fadas se desesperaram, pois conseguiam prever a separação dos filhos e a guerra da terra.
Precisavam de uma solução urgentemente. Lembraram que um dos feitiços mais exaustivos, porém eficazes que faziam eram prender energias em pedras e objetos. A pedra pegava a energia e a armazenava. Fizeram então um novo feitiço. Um feitiço de escudo. Acharam uma pedra grande o suficiente, em forma de coração. E, varreram o agouro para dentro dela. Como o feitiço tinha sido jogado sobre a cidade, o coração não poderia sair dali, mas ficaria no centro da cidade sem atingir nenhum Edadihano e concentraria sua força. Assim que o feitiço entrou na pedra, ele ficou tão escuro quanto a noite sendo chamado por todos como Coração Negro. Aquele tão frio quanto a rocha e inquebrável como aquela pedra.
Aos poucos os Edadhianos voltaram a serem eles mesmos, e se harmonizaram. Mas, as fadas acharam que não era o suficiente. A pedra havia prendido a energia, mas a luz e a pureza daqueles pequeninos estavam gastas. Pegaram uma pedra maior ainda, feita de ônix e a colocaram do lado da outra. Nela concentraram cada bom sentimento, cada boa lembrança e amor que podiam e a prenderam bem no meio das casas, no alto. Ela irradiava uma linda luz, que refletia o coração de todos. Mantinha as fadas más longe, pois ao se olharem apenas sombras veriam, uma vez que era apenas isso que existia nelas.
Aquele espelho podia ser visto de longe. E todos, sem exceção, conseguiam enxergar nele o reflexo de seu coração.
Como a luz voltara, os Edadhianos viviam feliz. E Fae ficou uma fera em saber.
Tentou retornar, mas o espelho era forte demais e se mostrou uma boa arma.
Eles viveram assim por trezentos anos. Seria um final feliz, se os outros povos não começassem a pensar em pegá-lo para usar e se o rei não tivesse um neto tão xereta.
Ésoj era um garoto diferente. Ele era o único que não possuía os poderes da mãe. Mas tinha a bravura do pai. Ele sempre foi muito querido, mas seu mal era que vivia metendo o nariz onde não era chamado.
- É mais forte do que eu vô. Não é que eu queria ser xereta, é sem querer. – ele se desculpava.
- Ésoj, você tem que se controlar. A curiosidade é um problema para quem não sabe usá-la. – dizia-lhe Siliak, que por mais que tentasse nunca ficava bravo com as travessuras de Ésoj.
Um belo dia, Ésoj, Tahta e Oris voltavam da escola quando foram chamados por uma senhora num longo vestido.
- O que será que ela quer? Parece precisar de ajuda.
- Não Ésoj, não dê ouvidos, você não pode falar com estranhos.
- Ela não me parece uma estranha.
- Você não a conhece. – dizia Tahta.
- Ela parece boazinha. Deve estar precisando de nós.
Sem pensar, Ésoj segue na direção dela.
- Que droga! – dizem Tahta e Oris juntos.
Quando Ésoj finalmente chega até ela descobre que cometeu um grande erro.