OS DEZ / ENCONTROS DE ANA - 07
OS DEZ / ENCONTROS DE ANA - CAP. 07
Ana dormiu tanto que acordou com olheiras. Já era o noticiário da madrugada do dia seguinte da chegada a Paris. Ellen parecia que estava acostumada a viagens contínuas. Sentada num canto da sala ouvia atentamente a reportagem: um cidadão da comitiva egípcia que fora ao Brasil fora assassinado brutalmente em pleno centro da cidade do Rio de Janeiro.
O assassino, descrito por um garoto de catorze anos, era uma pessoa que trajava calça jeans, camisa verde clara, tênis, feição oriental, e que fugira num veículo de cor preta – mas que não soubera identificar.
- Atente para esta notícia, Ana.
- É. Escutei-a quase por inteiro.
- Fizemos o que nos mandaram, mas um ficou para trás.
- Mas não foi culpa nossa.
- Eu sei.
- Mas um dia este assassino será capturado.
- Você não tem medo de ser capturada?
- Todo mundo tem, Ana, mas temos que cumprir o nosso dever. Afinal – balançando a cabeça, completa – ganhamos para isso.
- É.
Ellen continua a ouvir os fatos do dia pelo mundo. Ana dirige-se para a cozinha e prepara um lanche. Já sabia que ali todos eram donos. Nada faltava desde boas comidas e bebidas, mas cada uma preparava o seu.
Os dias se passavam e as parceiras continuavam a ler revistas que sempre chegavam a casa; ou a assistir tevê. Na casa Ana percebeu desde a chegada que não havia telefone – talvez para evitar suspeitas. Ana já se adaptara perfeitamente ao fuso horário da Europa.
Quinze dias depois, logo ao anoitecer, encontram um envelope debaixo da porta. Teriam que viajar no próximo dia para Portugal. Tudo já estava preparado: desde passagem até hospedagem. Para Ana tudo aquilo deveria ser uma máfia perfeita – como no livro que lera. Em parte estava certa.
Pela manhã no aeroporto Ana olha atentamente para Ellen que demonstra semblante triste.
- O que há contigo, Ellen?
- Nada.
- Não é o que parece. Não quer falar?
- Lembro-me que dois anos atrás fiz uma viagem para Portugal com uma grande parceira e amiga...
- E o que aconteceu?
- Faleceu no meu colo.
Silêncio.
- Como?
- Fomos designadas para estar em ‘sinal de alerta’ numa apresentação do Príncipe de Gales na Rua Augusta, na Baixa, na altura que liga a Praça do Comércio e a Praça do Rosário. Eu estava numa posição de costas para o Príncipe e ela seguiu alguns passos à frente...
- E...
- Repentinamente caiu estirada no chão ferida com um projétil.
- Meu Deus!
- Nada pude fazer... apenas ouvi-la dizer que cumpriu o seu dever.
- Meu Deus!
- Soube depois que atrás dela passava um membro da família real inglesa.
- É bem chocante!
- Muito! Lembro-me deste fato todas as vezes que vou a Portugal.
A conversa logo cessou. Poucas palavras trocaram no percurso. Ana observava cada vez mais a parceira. Seus movimentos pareciam calculados – talvez fossem.
Em Portugal se hospedaram num pequeno hotel, de segunda classe, na periferia de Lisboa. Conforme o comunicado deveriam permanecer – como sempre – no lugar até a próxima ordem.
Uma semana passou rapidamente. Entre uma refeição e outra, entre um dia e outro, caminhavam pelas ruas do bairro sem perturbar ou chamar a atenção de ninguém. Ana ‘curtia’ um novo momento em sua vida. A lembrança da mãe ao despedir era a que trazia sempre em mente. Do pai apenas a recordação do velório. No fim de dez dias um envelope foi deixado embaixo da porta.
Deveriam retornar a Paris, a missão havia sido cancelada. Ana estranhou, mas o que fazer. Ellen nada disse, nada pensou. Apenas cumpriu a ordem: pegou o primeiro avião para Paris.
Prof. Pece
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Esperando nº da Bibl. Nacional. OBRA: DESENCONTROS DE ANA
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