Capítulo 6 – Cabelos vermelhos. Um jeito quente. Uma garota sensual.
Conheci Leila Diniz quando fui promovido para Executivo Sênior na BMP, isso há exatamente 2 anos. Ela era secretária de um funcionário que tinha sido demitido, e por seu bom currículo a empresa não quis demiti-la, só readequá-la em sua função. Então a garota virou minha secretária particular. Como funcionária ela é responsável, pontual e organizada. Como amante é uma mulher extremamente intensa. E isso até hoje não consegui definir é se um defeito ou uma qualidade dela. De sua vida pessoal eu sei o básico. Tem 24 anos, nasceu no interior de Minas Gerais e veio para São Paulo há quatro anos para tentar trabalhar como modelo, mas a vida acabou tomando outros rumos e Leila virou secretária.
Logo criamos uma afinidade, talvez por sermos jovens e pensarmos da mesma forma ou por ser algo de destino mesmo. E olha que eu não acredito nessas coisas. Enquanto amigos, já recebia cantadas nada discretas que fui obrigado a resistir, pois ainda era casado com Elena na época. Até que chegou um determinado tempo que eu não fui mais capaz de dizer não as investidas da ruiva e de lá para cá vivo um caso com ela. Leila nunca me cobrou nada mais sério porque no começo fui claro sobre o nosso relacionamento. Era apenas sexo, sem apego ou todas aquelas coisas complicadas que o sentimento cria entre duas pessoas. Eu gosto dela. Me sinto bem com ela. Só não a amo. Na verdade, desde Maria Luíza eu não sei o que é amar alguém. Eu vivi com Elena por tanto tempo sem gostar dela. Tive um ou outro caso sem importância, mas até hoje a única mulher que eu amei foi a loira infeliz. E isso faz tanto tempo que eu não me lembro mais como é gostar de alguém.
No escritório era mais um dia de negociações, reuniões e projetos complexos de novas campanhas que aconteciam mensalmente. Me encontrava num nível de concentração tão alto que me assustei quando a porta fora aberta e Leila entrou em silêncio, a expressão séria e vários papéis em mãos. Desde que (graças a Maria Luíza) me descontrolei gritando com ela nós não conversamos nada além de coisas do trabalho.
- Aqui está o cronograma do Roger de filmagem para o comercial do dia dos namorados. Falta só a aprovação da Maria Luíza. – O nome fora dito com nojo. Sorri, involuntariamente.
- Ela não chegou ainda?
- Ela não veio trabalhar hoje.
- Por que?
- Pergunte para a Neusinha, já que vocês são tão amigos.
A ruiva deixou os papéis em minha mesa e cruzou os braços. Estava magoada comigo e com razão.
- Ah, Leila! Qual é!
- Eu vou voltar para a minha mesa, senhor Taino. Precisando estarei à disposição!
- Eu preciso agora.
Tentei soar galante. Ela revirou os olhos.
- Chama a Neusinha.
E saiu batendo a porta.
Mulheres...
(...)
Antes do horário do almoço liguei para Bernard. Ele estava lidando com um problema típico de quem trabalha com varejo. Sempre me divirto com o trabalho dele.
“– Fala, Michel. Espera um pouco! CLAUDIA MULHER DE DEUS COMO VOCÊ ME OFERECE UMA ROUPA DE GRÁVIDA PRA UMA MULHER QUE ESTÁ ACIMA DO PESO?” Ouvi uma voz baixa que devia ser da funcionária, mas ele a cortou. “CALADA! E SAIA! DEPOIS NÓS CONVERSAMOS E SAIBA QUE ISSO VAI SER DESCONTADO DA SUA COMISSÃO.”
- Dia ruim?
“Ah, só as vendedoras descontando dia ruim nas clientes. Nada anormal. E aí, o que manda?
- Viu a Maria Luíza?
“Graças a Deus, não. Por quê?”
- Ela não veio trabalhar hoje.
“E isso não é bom?”
- Mais ou menos... Mas não é isso que eu quero te perguntar. Quando vocês se viram, ela comentou algo sobre namorado ou noivo?”
“Não...”
- Eu entrei na sala dela e a vi numa foto com um cara loiro, acho que era o namorado.
“Muito me surpreende algum homem ter coragem de se envolver com a Malu.”
- Você já beijou ela.
Apesar de não estar vendo, tenho certeza de que ele revirou os olhos, como em todas as vezes que o lembro desse fato.
“E me arrependo disso.”
Recordei-me rapidamente do dia em que vi Maria Luíza aos beijos com Bernard e do ódio descomunal que senti. Descobri um tempo depois que ele fez isso para nos aproximarmos. E conseguiu. Isso rendeu um soco em Bernard e um tapa nela, mas deu certo.
- Eu estou pensando em pedir para a Leila me ajudar a investigar a Malu, é uma forma de controlá-la. O que você acha?
“Acho que vale a pena tentar.”
- Eu te ligo depois pra contar se deu certo.
“Beleza, tchau!”
- Tchau.
Finalizei a ligação e guardei o celular no bolso. Leila está brava comigo e eu preciso arrumar um jeito de acalmá-la. Olhei para o relógio pendurado na parede. Hora do almoço.
Saltei da cadeira e fui em direção a porta, quando abri vi Neusinha pegando sua bolsa. Ela também estava de saída. Desviei o olhar para a mesa de Leila e a cadeira se encontrava vazia.
- Neusinha vai almoçar no “Lugar de sempre”?
- Sim, Mi! Vamos?
- Claro!
(...)
O almoço com Neusinha foi como almoçar com a minha mãe. A única diferença é que a velha senhora não fica me dizendo para comer verdura toda hora ou para eu mastigar sei lá quantas vezes porque faz bem. Ter uma mãe dentista foi um dos maiores traumas da minha vida, juro.
Perguntei a Neusinha sobre Malu, que me olhou de forma significativa.
- Ela me ligou bem cedo dizendo que iria trabalhar em casa... – E deu de ombros. – E parecia um pouco triste.
- Você achou? – Engoli seco, tentando disfarçar minha curiosidade gigante.
- Sim... – Neusinha começou a me analisar. – E isso aconteceu após ela entrar na sua sala.
- Neusinha...
- Vocês se conhecem, não? – Fiquei em silêncio, não sabendo se deveria responder ou não. – Vou considerar isso um sim. – Ela deu um sorrisinho adorável. – Posso te dar um conselho?
- É claro.
- Não é nada relacionado a Maria Luíza... Mas eu acho que é válido te aconselhar da mesma forma.
- Pode falar.
- Tome cuidado com a Leila e com a confiança que você tem nela.
E antes que eu pudesse perguntar o motivo daquelas palavras, uma figura de cabelos vermelhos parou ao lado da mesa.
- E aí, velhota. – Ela disse, com um sorriso maroto nos lábios. Eu olhei de uma para a outra. Neusinha deu um sorriso meio duro para Leila e se levantou.
- Sente-se, Leila. Eu já terminei meu almoço.
- Obrigada!
Neusinha se levantou e foi até o caixa pagar sua refeição, mas antes me lançou mais um olhar que foi despercebido por minha secretária. Leila me olhava enigmática e as palavras da outra mulher começavam a rondar minha mente.
- Você convidando a Neusinha para almoçar... Logo a secretária da Barbie.
- Sim. Você saiu sem me chamar.
- Talvez porque você tenha sido bem grosseiro comigo naquele dia? – Suspirei. – Qual é, Michel! Você está diferente desde que ela chegou.
Lembrei do meu reencontro com Maria Luíza, das pequenas provocações e tentei não demonstrar para Leila.
- Não é verdade... E inclusive, desculpa por aquele dia. Toda mudança de chefia é estressante, Leila. Admito que até para mim.
- Tudo bem, desculpado. – Ela disse, dando um meio sorriso. Eu segurei suas mãos, carinhosamente. – Eu não gosto dela, Michel.
- Eu também não gosto. – Não era de todo uma mentira. - E por esse motivo que tenho que te fazer uma pergunta...
- Pode falar.
- Lembra quando o Marcos te pediu para fazer uma conferência com o pessoal da Alemanha?
- Lembro. – Ela franziu o cenho. – Foi para pedir permissão para um comercial do Dia Das Crianças ou algo assim, faz um tempo isso... Por quê?
- Você ainda tem contato?
- Acho que consigo.
- Eu preciso que você investigue como era a Maria Luíza lá. Ficha completa. Profissional e pessoal.
- Você acha que dá para derrubá-la com isso? – Os olhos castanhos de Leila tomaram um brilho ansioso. – Eu acho muito estranho o fato dela ter subido de cargo tão rápido... Ela só tem 24 anos.
- Sim. E aí, topa me ajudar?
Ela se apoiou na mesa e me deu um selinho.
- É claro. Fechamos aqui uma aliança de sucesso.
A hora de virar esse jogo está se aproximando. Vamos ver quem não perde por esperar, Malu.
-
Prévia capítulo 7 - O abraço que temporariamente selou a trégua.
Michel passou a mão pelo meu rosto, carinhosamente. Coração disparado, mão tremendo, pensamentos confusos. Eu queria xinga-lo por me fazer lembrar o quão bom era estar ao seu lado e esquecer do mundo lá fora. Ele me abraçou, apertado e eu retribui completamente inebriada por seu cheiro.
- Esse abraço sela uma trégua entre nós, certo?