OS DEZ / ENCONTROS DE ANA - 03
OS DEZ / ENCONTROS DE ANA - CAP. 03
Passava das dezoito horas quando um mensageiro do hotel bateu à porta. Trazia um envelope. Ana agradeceu, fechou a porta e fez a leitura.
Tinha muito tempo disponível. Deveria permanecer no hotel nos dois dias seguintes até a próxima instrução. Sair para passear era fato descartado. Assinara um contrato que teria que se manter de maneira a não levantar suspeitas. Junto com o envelope viera um livro: uma história de máfia. Gostara do título: De operário a Mafioso. Tudo indicava que o tal operário virara mafioso, mas como? Teria que ler. E, para isso, tinha tempo disponível: dois dias.
A noite caíra rapidamente na cidade de São Paulo. A estação do ano ajudava: inverno. Assistiu a todas as novelas da televisão, jornais e ao filme do fim de noite.
A manhã já era alta quando o telefone de seu apartamento tocou.
- Sim?
- Ana?
- Ela mesma.
- Há uma encomenda para você retirar aqui na entrada do hotel.
- Dentro de cinco minutos pegarei. Obrigada.
E o recepcionista desliga o telefone.
Ana estranha, mas apronta-se e desce. Apanha a encomenda que não é muito grande e dirigi-se ao apartamento.
No apartamento abre a caixa e depara-se com uma pequena arma e uma folha explicando o que deveria fazer.
Ana lê tudo duas vezes, presta bem atenção nos detalhes que estão colocados; atenta para um pequeno detalhe no final das explicações: “Você não pode falhar.”
Assiste atentamente os noticiários da televisão. Na cidade do Rio de Janeiro havia uma conferência – O Mundo pela Paz através da Leitura. Vários representantes de chefes de Estado estavam presentes, alguns reis e príncipes; organizações não-governamentais e literatos renomados também se faziam presentes. Todos buscavam soluções de paz associadas à leitura.
Estranha a posição que tem que tomar. Passa o dia na leitura dos últimos capítulos do livro que lhe fora enviado. O escritor estava de parabéns! Este conduziu o enredo tão bem que somente na última folha é revelado a chefe da máfia. Pensa bem nos entraves da história que acabara de ler; percebe que ela já faz parte de um dos lados, mas ainda não sabe qual; talvez um dia ficaria sabendo, aliás, seria difícil, pois não sabia para quem trabalhava.
No fim da tarde atenta para a avenida em frente ao hotel. Bem movimentada. As pessoas parecem que não possuem tempo para se olharem, para trocar um gesto de amor; quando uma destas coisas acontece percebe-se que é para se castigarem – atos de desamor. Raríssimas vezes nota-se um gesto de amor... mas, ainda bem que há algumas raridades na humanidade que ainda lembram que existe o outro.
Anoitece. Faz o mesmo do dia anterior: novelas, telejornais. Resiste ao filme, pois no outro dia deveria viajar pela manhã para a cidade do Rio de Janeiro.
Logo pela manhã recebe novo telefonema para retirar nova encomenda na recepção do hotel.
A encomenda, um pouco maior que a anterior, trazia roupas perfeitas para o seu corpo e uma credencial – tudo dentro de uma pequena valise. Fora ótimo: já não agüentava mais ficar sem trocar de roupas, mas nada podia fazer, apenas cumpria ordens.
O tempo passa; a hora de Ana chega. Prepara-se para dirigir a cidade do Rio de Janeiro.
Prof. Pece
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Esperando nº da Bibl. Nacional. OBRA: DESENCONTROS DE ANA
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