As Lendas do Milho

1ª versão: Há muito e muito tempo dois índios amigos (Abaty e Tarubá) costumavam caçar e pescar, nas terras sem fim de seus antepassados. Como rezava as leis entre eles, tudo que caçavam ou pescavam era repartido entre todos os habitantes da taba. Mas, chegou o dia em que uma grande seca chegou. Os rios e córregos secaram e não havia mais pesca! As matas secaram e quase todas as árvores morreram. As caças não tinham onde beber, nem onde comer. Dessa maneira foram se extinguindo; a começar pelos mais fracos. Era noite de lua cheia. O pajé reuniu a tribo e pediu que todos rezassem para o deus Nhandeara (Nosso Senhor), para que Ele os provesse de alimentos; pediam também algum novo tipo de alimento, já que todos os alimentos conhecidos estavam quase exauridos.

Nisso, à luz da lua cheia, surgiu um valente guerreiro, enviado por Nhandeara.

O valente guerreiro propôs aos habitantes da aldeia que provassem que mereciam receber a ajuda solicitada pelo pajé e pelos índios da aldeia. Propôs dar o alimento, desde que lutassem entre si. Ele afirmou que aquele que fosse mais forte, vencedor, iria sepultar o vencido. Havia então a necessidade de alguns índios se apresentarem para lutar, caso contrário Nhandeara não lhes daria alimento.

Os primeiros que se dispuseram a lutar pela aldeia, foram os dois amigos caçadores, Abaty e Tarubá. No entanto, Abaty era mais fraco que seu amigo. Foi vencido e morto pelo amigo e por ele foi enterrado.

Quando deram por si, todos viram o guerreiro subir ao céu, numa nuvem de cor amarela, levado por Nhandeara.

Então todos ficaram mais tristes, pois Abaty era muito querido na aldeia.

O amigo de Abaty, o Tarubá, não conteve as lágrimas, arrependendo-se do que havia feito e chorou copiosamente sobre a sepultura de Abaty. Em poucos dias, em pleno inverno, uma verde folhagem brotou da sepultura de Abaty. Depois de algum tempo, aquelas folhagens fizeram nascer lindas espigas de cabelos vermelhos, parecidos com os cabelos dos curumins e das cunhãs e que escondiam dentro de suas palhas, os grãos suculentos e dourados que reluziam ao sol. O pajé recebeu uma mensagem de Nhandeara, de que deveriam se alimentar daquele fruto. E assim, o nutritivo cereal enviado por Nhandeara passou a ser cultivado por todos e, em nome de Abaty, de Abaty foi chamado.

PS: Abaty é o nome do milho na língua tupi; Tarubá é o nome de uma bebida alcoólica feita a partir da mandioca ralada (caxixi).

N. A.: lenda recolhida na internet em versão de poesia e transformada pelo Tio Babá, em prosa. Autor desconhecido.

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2ª versão: Uma lenda pareci da origem do milho: Um grande chefe pareci, dos primeiros tempos da tribo, Ainotarê, sentindo que a morte se aproximava, chamou seu filho Kaleitôe e ordenou-lhe que o enterrasse no meio da roça assim que terminasse os seus dias. Avisou, porém, que, três dias depois da inundação, brotaria de sua cova uma planta que, algum tempo depois, rebentaria em sementes. Disse-lhe que não a comesse: guardasse-a para a replanta, e ganharia a tribo um recurso precioso. Assim se fez; e apareceu o milho entre eles. A lenda guarani da origem do milho (Zea mays) também envolve o sacrifício humano: Dois guerreiros procuravam inutilmente caça e pesca e já desanimavam de encontrar alimento para a família, quando apareceu um enviado de Nhandeara (o grande espírito) dizendo ser uma luta entre os indígenas a solução única. O vencido seria sepultado ali mesmo, e de sua sepultura nasceria uma planta, que alimentaria a todos, dando de comer e beber. Lutaram os dois, e sucumbiu Avati. De sua cova nasceu o milho, avati e/ou abati, no idioma tupi.

PS: “Zea Mays” é o nome usado (em guarani) para “grãos do povo Maya”

BIBLIOGRAFIA

- Clemente Brandenburger, Lendas dos Nossos Índios, Rio de Janeiro, 1931.

- Pe. Carlos Teschauer, Avifauna e Flora, etc., Porto Alegre, 1925.

- Câmara Cascudo, Dicionário do Folclore Brasileiro, Rio de Janeiro, sem data.

Tio Babá
Enviado por Tio Babá em 15/09/2015
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