LENDAS DA MANDIOCA

1ª Lenda da Mandioca (por Câmara Cascudo):

Entre os "parecis", povo indígena de Mato Grosso, a história é a seguinte:

“ Zatiamare e sua esposa Kôkôtêrô tiveram um par de filhos - o menino

Zôkôôiê e uma menina, Atiolô - que era desprezada pelo pai, que a ela

nunca falava senão por assobios. Amargurada pelo desprezo paterno, a

menina pediu à mãe que a enterrasse viva; esta resistiu ao estranho

apelo, mas ao fim de certo tempo, atendeu-a: a menina foi enterrada no cerrado, onde o calor a desagradou, e depois no campo, também lugar que a incomodara. Finalmente, foi enterrada na mata onde foi do seu agrado; recomendou à mãe para que não olhasse quando desse um grito, o que ocorreu após algum tempo. A mãe acorreu ao lugar, onde encontrou um belo e alto arbusto que ficou rasteiro quando ela se aproximou; a índia Kôkôtêrô, porém, cuidou da planta que mais tarde colheu do solo, descobrindo que era a mandioca”.

2ª Lenda da Mandioca

“Entre os bacairis a lenda conta de um veado que salvara o bagadu

(peixe da família Practocephalus) que para recompensá-lo deu-lhe mudas

da mandioca que tinha ocultas sob o leito do rio. O veado conservou a

planta para alimentação de sua família, mas o herói dos bacairis,

Keri, conseguiu pegar do animal a semente que distribuiu entre as

mulheres da tribo”.

.............................

3ª Lenda da Mandioca

"Em tempos idos, apareceu grávida a filha dum chefe selvagem, que

residia nas imediações do lugar em que está hoje a cidade Santarém. O

chefe quis punir no autor da desonra de sua filha a ofensa que sofrera

seu orgulho e, para saber quem ele era, empregou debalde rogos,

ameaças e por fim castigos severos. Tanto diante dos rogos como diante dos castigos a moça permaneceu inflexível, dizendo que nunca tinha tido relação com homem algum. O chefe tinha deliberado matá-la, quando lhe apareceu em sonho um homem branco que lhe disse que não matasse a moça, porque ela efetivamente era inocente e não tinha tido relação com homem. Passados os nove meses, ela deu à luz uma menina lindíssima e branca, causando este último fato a surpresa não só da tribo como das nações vizinhas, que vieram visitar a criança, para ver aquela nova e desconhecida raça. A criança, que teve o nome de Mani e que andava e falava precocemente, morreu ao cabo de um ano, sem ter adoecido e sem dar mostras de dor. Foi ela enterrada dentro da própria casa, descobrindo-se e regando-se diariamente a sepultura, segundo o costume do povo. Ao cabo de algum tempo, brotou da cova uma planta que, por ser inteiramente desconhecida, deixaram de arrancar. Cresceu, floresceu e deu frutos. Os pássaros que comeram os frutos se embriagaram, e este fenômeno, desconhecido dos índios, aumentou-lhes a superstição pela planta. A terra afinal fendeu-se, cavaram-na e julgaram reconhecer no fruto (tubérculo) que encontraram, o corpo de Mani.

Comeram-no e assim aprenderam a usar a mandioca como alimento".

4ª Lenda da Mandioca

"Nasceu uma indiazinha linda e a mãe e o pai, tupis, espantaram-se:

- Como é branquinha esta criança!

Chamaram-na de Mani. Comia pouco e pouco bebia.

Mani parecia esconder um mistério. Uma bela manhã, Mani não se levantou da rede.

O Pajé deu ervas e bebidas à menina. Mani sorria, muito doente, mas sem dores. E sorrindo Mani morreu.

Os pais enterraram-na dentro da própria oca e regaram a sua cova com água, como era costume dos índios tupis, mas também com muitas lágrimas de saudade.

Um dia, perceberam que do túmulo de Mani rompia uma plantinha verde e viçosa. A plantinha desconhecida crescia depressa.

Poucas luas se passaram e ela estava alta, com um caule forte que até fazia a terra rachar ao redor.

- Vamos cavar? - comentou a mãe de Mani.

Cavaram um pouco e, à flor da terra, viram umas raízes grossas e

morenas, quase da cor dos curumins, nome que dão aos indiozinhos. Mas, sob a casquinha marrom, lá estava a polpa branquinha, quase da cor de Mani.

- Vamos chamá-la de Mani-oca. - resolveram os índios.

Transformaram a planta em alimento.

E até hoje, entre os índios do norte e do centro do Brasil, este é um

alimento muito importante".

5ª Lenda da Mandioca

“A filha de um poderoso tuxaua deu à luz uma linda menina, muito

branca, que chamou de Mani. Logo a criança se tornou amada por todos.

No entanto, ao completar três anos, Mani morreu de forma também

misteriosa, sem nunca ter adoecido. Desolada, a mãe enterrou-a e lá

derramou seu pranto por horas. Pouco depois, viu brotar no lugar uma

planta que cresceu rápida e fresca. Todos queriam provar a planta

miraculosa, de raízes grossas e brancas, em honra da criança que tanto amavam. Desde então o vegetal, batizado manioca (junção do nome da criança e da palavra oca), passou a ser excelente alimento para os índios”.

6ª Lenda da Mandioca

“Lá no fundo dos rincões da selva amazônica, uma linda índia, filha do

Tuxaua (*), deu a luz a uma linda menina, a quem deram nome de Mani.

Só havia um problema: os pais da criança eram índios, morenos, no

entanto a criança nascera branca; branca como leite!

O chefe da tribo e avô da menina recém nascida pensou em matar a

netinha. Porém, um moço branco apareceu para ele em sonho e afirmou

que a mãe da criança não era a culpada.

A criança, mal acabara de nascer e já começou a andar e a falar!

Mas, ela não viveu muito tempo. Antes de completar um ano, morreu; sem

nunca haver adoecido!

O Tuxaua mandou enterrá-la na própria aldeia. A mãe da menina, todos

os dias regava a sepultura da filhinha.

Um belo dia nasceu uma planta na sepultura, que deu flores e frutos.

E os pássaros que os comiam, ficavam embriagados.

Passado algum tempo, a terra abriu-se ao pé da planta e apareceram

partes de suas raízes.

Os índios escavaram a terra e as colheram; elas eram brancas. Brancas

como o corpo de Mani!

Às raízes, os índios deram o nome de Manioca (casa ou corpo de Mani em Tupi).

E à planta, deram o nome de maniva”.

7ª Lenda da Mandioca:

"Em épocas remotas, a filha de um poderoso tuxaua foi expulsa de sua

tribo e foi viver em uma velha cabana distante por ter engravidado

misteriosamente. Parentes longínquos iam levar-lhe comida para seu

sustento e assim a índia viveu até dar a luz a um lindo menino, muita

branco o qual chamou de Mani. A notícia do nascimento se espalhou por todas as aldeias e fez o grande chefe tuxaua esquecer as dores e rancores e cruzar os rios para ver sua filha. O novo avô se rendeu aos encantos da linda criança a qual se tornou muito amada por todos.

No entanto, ao completar três anos, Mani morreu de forma também

misteriosa, sem nunca ter adoecido. A mãe ficou desolada e enterrou o

filho perto da cabana onde vivia e sobre ele derramou seu pranto por

horas. Mesmo com os olhos cansados e cheios de lágrimas ela viu brotar de lá uma planta que cresceu rápida e fresca. Todos vieram ver a planta miraculosa que mostrava raízes grossas e brancas em forma de chifre, e todos queriam prová-la em honra daquela criança que tanto amavam. Desde então a mandioca passou a ser um excelente alimento para os índios e se tornou um importante alimento em toda a região".

....................................................................

....................................................................

N.A.:

1-Este texto foi elaborado com a compilação de trechos de textos dos

seguintes escritores, jornalistas e pesquisadores: Câmara Cascudo

(~60%), Rosa Clement, Patrícia Araújo, Adriane

Pimentel, Marília Camelo, Francisco Sousa, Melquíades Jr. e os sites

“Wikipédia”,“www.pt.shvoong.com” e “WWW.qdivertido.com.br”; além das próprias observações e conclusões do autor.

2--Além dos nomes aqui informados, que fizeram parte de minha pesquisa,

utilizei também material próprio e de Christiane Araújo Angelotti, com

quem entrei em contato em junho de 2011 e que permitiu o uso de

material pesquisado dela e autorizou mencionar seu nome.

3--Estou convicto de que a Lenda da mandioca é de fato a partir de um mesmo evento místico, como pode ser comprovado, comparando-se as sete lendas aqui descritas. A novidade, ao menos para mim Tio Babá, é o fato de que a lenda tem uma versão para cada região do Brasil, onde a população indígena era maioria nos idos do descobrimento e colonização. Procurei; e ainda não encontrei, a versão do sudeste. Quem a conhecer, dentre meus leitores contumazes ou eventuais, favor enviar a versão para este autor. Portanto, este artigo ainda está aberto. Contribuam!

4- Significado de Manipuera:

• Mani = o nome da menina,

• puera (güera) = tem o significado de ruim (a parte ruim da mani), o que já foi => velho!

5- Câmara Cascudo acrescenta que o nome mandioca advém de Mani + oca, significando casa de Mani. É, segundo este autor, um mito tupi,

recontado em obras posteriores como Lendas dos Índios do Brasil, de

Herbert Baldus (1946), e Antologia de Lendas dos Índios Brasileiros,

de Alberto da Costa e Silva (1956).

6- Câmara Cascudo nos lembra que a Lenda da Mandioca existe há muito tempo. Ele afirmou que a lenda de Mani foi registrada em 1876, por Couto de Magalhães.

Tio Babá
Enviado por Tio Babá em 07/08/2015
Código do texto: T5338195
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.