Segunda-feira - Capítulo 8

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Capítulo 8

- Então vocês estão juntos? – Tess perguntou a Renata, após ela contar sobre a noite que dormiu na casa de Rafael.

- Sim. – Respondeu, com um sorriso apaixonado. As duas estavam a caminho da casa dela. – Quer dizer, juntos de “não estamos brigados”, se é que você me entende.

- Entendo. O aniversário de vocês está chegando!

- Eu nem tinha me lembrado disso...

- É. Você não vai querer fazer nada?

- Acho que não, porque?

- Sei lá, você vai fazer 22 anos, é uma data importante. – Renata revirou os olhos. – Não revire os olhos para mim, tá?

- Conheço você e sei onde essa conversa vai chegar. Pode fazer uma festa SIMPLES para mim.

- Uhu! – Tess abraçou a Renata. – Eu faria surpresa, mas sei que você detesta surpresa. Porém, podemos fazer uma surpresa para o Rafa, o que acha?

- Acho que ele vai gostar. – Os olhos de Tess brilharam. – Tess, vou entrar, tenho que ligar para a dona Lidia para saber o dia certinho que ela volta das férias.

- Ok! Se cuida amiga e até mais tarde.

- Até!

Renata parou na frente de sua casa e surpreendeu-se ao ver que a luz estava ligada. Olhou para a janela e viu de relance a figura de sua mãe passando.

- MÃE! – Ela gritou, correndo para dentro de casa. Abriu a porta e travou ao ver a mãe de Rafael sentada no sofá. Seu coração disparou de forma urgente e o sorriso que Olga Pellegrino lhe direcionou não a ajudou.

- Filha! – A mãe de Renata levantou-se para abraça-la. – Eu resolvi vir de surpresa e recebi a visita da Olga, ela me disse que você e o filho dela são muito amigos.

Renata fitou a mãe de Rafael, mas não conseguia dizer nada. Viu quando sua mãe a olhou preocupada e resolveu falar.

- Hã, sim, somos. Como vai dona Olga?

- Bem, Renata e você?

- Estou bem também. – Olga olhou para a mãe de Renata. – Pensando bem, eu aceito aquele cafezinho que você tinha me oferecido!

- Oh, claro, vou prepara-lo agora! – Inocente, a mulher levantou-se e foi para a cozinha.

O clima na sala de estar era pesado. Renata sentou-se no sofá vazio e fitou Olga, que parecia repleta de uma tranquilidade assustadora.

- Eu confesso que fui contra meu sexto sentido de mãe quando vi você e Rafael juntos. A troca de olhares, o jeito que um perto do outro parecia estranhamente combinatório... Até que resolvi mandar seguirem Rafael num domingo e vocês foram ao Parque das Flores. Infelizmente eu estava certa.

- A senhor..

Olga continuou como se não tivesse ouvido Renata.

- Não sei o que leva uma jovem a se envolver com alguém comprometido e do nível social de meu filho, mas vim te pedir gentilmente que esqueça Rafael.

- E porque eu deveria fazer isso?

- Sejamos honestas, você e meu filho são de classes distintas.

- Você quer dizer que eu sou pobre e Rafael é rico. – Renata murmurou, abismada com as palavras da mulher à frente. - Meu Deus, o Rafael estava certo mesmo.

- Veja bem, Renata. Eu não tenho nada contra gente pobre, eu até desejo que algum deles cheguem onde eu cheguei. – Renata não acreditava no que ouvia - Eu sou apenas uma mãe preocupada com o futuro de seu filho. Quando você for mãe me entendera... – Ela deu um sorriso gelado a Renata. Os olhos eram inexpressivos. – Se você for mãe, é claro.

- E você já se perguntou o que Rafael pensa sobre isso? Será que ele quer que eu o deixe?

- Rafael é um menino. Ele não sabe o que quer da vida!

- Ele vai fazer 23 anos! Sabe muito bem o que quer da vida!

- Estou pedindo a você gentilmente... Se eu tiver de repetir o pedido talvez eu não seja tão gentil assim.

E apesar de Renata sentir o tom de ameaça, não se deixou abalar.

- E o que é que a senhora vai fazer?

- Você já imaginou como seria triste algo acontecer com a sua mãe? - A expressão de Olga tornou-se de falsa pena. – Seria horrível...

- Você não teria coragem!

- Pague pra ver. – A mulher se levantou, limpando sua saia, como se o sofá estivesse sujo. – Agradeça a sua mãe o café.

Renata, sem conseguir ter reação, viu a mulher levantar e sair da sala de sua casa. Seu coração voltou a disparar, mas dessa vez era de medo. Pensou em Rafael e nas promessas que fizeram um ao outro, pensou na vida de sua mãe e na ameaça de Olga Pellegrino.

- Ué, cadê a Olga? – Perguntou a mãe de Renata, segurando uma xícara de café na mão.

- Ela precisou ir embora, mãe. – Renata se levantou e deu dois passos até a mãe. – E nós precisamos conversar.

- Você está séria.

- É porque o assunto é sério.

- Então fale!

- Mãe...

(...)

E assim como foi com Tess, a mãe de Renata ficou por um longo tempo calada, digerindo as informações que ouvira da filha. A garota observava as reações da mãe, esperando por um sermão enorme.

- Eu não vou te julgar por ter se envolvido com um cara comprometido. Afinal, você não sabia que ele estava noivo quando vocês dormiram juntos, certo?

- Certo.

- Mas me diga uma coisa, você está apaixonada por ele?

Renata engasgou com seu próprio ar ao tentar responder. A mulher riu.

- Não estou apaixonada, nós só vivemos uma situação um tanto... Intensa.

- Você tem certeza que não está apaixonada?

Como se fosse proposital, relembrou dos momentos vividos com Rafael e o coração acelerou, mas balançou a cabeça, afirmando.

- Eu sempre soube que você viveria uma grande história, Renata. – A mulher levantou-se com um sorriso doce nos lábios. – Mas não pensei que seria tão intensa assim.

- Eu também, mãe. Eu também... – Renata se levantou e abraçou a mãe. – Eu estou feliz por você estar de volta.

- Eu também, filha. – Ela disse, retribuindo ao abraço. Depois foi para a cozinha, ajeitar algumas coisas que trouxera de viagem. A garota subiu para seu quarto e ligou para Tess.

- Oi Tess!

“Oi amiga, como você tá?”

- Acho que bem, Olga Pellegrino, mais conhecida como a mãe do cretino do Rafael veio até a minha casa hoje.

“Sério?”

- Sim, sério. Você vem aqui ou eu vou ai?

“Eu já estou chegando!!”

10 minutos depois Tess estava no meu quarto da amiga roendo as unhas de ansiedade para ouvir sobre a inesperada visita. Renata contou a ela sobre a conversa com Olga, que não se surpreendeu com a ameaça da mulher.

- O Ben me contou sobre a Olga, me disse que quando ele e Rafael se conheceram ela era contra a amizade deles.

- Por que?

- Porque o Ben é negro, Renata. Quando eles se conheceram na faculdade o Ben era bolsista e pobre, não era uma amizade que ela aprovava.

- Aquela mulher é desprezível!

- Você vai contar para o Rafael?

- Não sei... – Renata suspirou alto. Tess franziu o cenho. – Eu não sei.

- Renata, a mãe dele te ameaça e você não vai contar pra ele?

- Tess, eu.. – Na hora que iria responde-la, o celular toca, ela no visor e é o número de Rafael. – Falando no diabo... – E atende à ligação.

“O que você está fazendo?”

- Olá, Rafael Pellegrino, como vai?

“Quando você fala assim eu tenho a impressão de que está braba comigo. Eu não fiz nada dessa vez não é?”

Sorriu, revirando os olhos. Tess fingia que ia vomitar, debochando da amiga. Renata ficou de costas para ela.

- Não, não fez nada dessa vez.

“Eu quero ver você hoje.”

- Minha mãe voltou de viagem... Não sei se terei tempo.

“Sério? Posso ir ai conhece-la, o que você acha?”

- Uma péssima ideia.

“Ah, Renata, qual é!”

- Vamos fazer assim, amanhã eu vou no seu escritório e a gente conversa. O que você acha?

“Eu preferia hoje.”

- Você está preferindo demais, não acha??

“Se você acha isso demais, não sabe nem a parte que eu não te contei...”

- Nossa! Mas você... – Renata balançou a cabeça, sem-graça, seu rosto esquentara na mesma hora. – Nossa!!

Rafael riu, sabendo que a deixara desconcertada.

“Até amanhã, Renata!”

E o rapaz finalizou a ligação, ela olhou pra Tess, que fizera um coração com os dedos.

- Ah o amor!!!

- Cala a boca!

“Por que eu estou com essa sensação de que se eu contar para o Rafael sobre a visita da mãe dele iremos brigar?” – Ela se perguntou mentalmente enquanto se sentava ao lado de Tess, que agora mexia em seu celular. “Talvez seja melhor eu não contar... Pelo menos não agora.”

Alguns dias depois...

- Eu não estou te enrolando! – Exclamou, enquanto Rafael a olhava, sério. Ele a buscou na saída da faculdade e a levou para jantarem. Ela não sabia como haviam parado novamente nesse assunto dele conhecer sua mãe, mas sabia que isso renderia uma discussão. – Eu só acho que não está na hora da minha mãe conhecer alguém que tecnicamente falando é meu amante.

- Bom eu seria seu amante se eu tivesse um relacionamento de verdade com a Adriana, o que não é bem o caso.

- Você tem uma aliança!

- Eu nem uso aquela porcaria.

- Não começa, Rafael.

- Renata, sinceramente...

- Shiu. – Ela colocou o dedo indicador na boca dele. – Você sabe que ainda não é a hora.

Rafael revirou os olhos, gesto que aprendera com ela e então mudaram de assunto. Ele estacionou o carro em frente ao restaurante, que tinha uma placa em neon escrita “La Cucaratcha”.

- Rafael?

- Oi?

- Isso é um restaurante mexicano ou é impressão minha?

- É um restaurante mexicano, porque?

- Eu odeio comida mexicana.

- Sério? – A expressão dele murchou automaticamente. – Ah...

Renata entrelaçou sua mão a dele e o guiou até a pizzaria que ficava ao lado do restaurante mexicano. Ele sorriu na hora.

- Pizza é certamente uma das coisas mais marcantes do nosso relacionamento. – Comentou ele, sorrindo enquanto a abraçava de lado.

- Eu pensei que fosse o fato de você ter me atr... – Ele tapou a boca de Renata para não a deixar concluir sua frase.

- Tá bom, Renata, já sei, já sei fica quietinha agora.

Ele entrou na pizzaria revirando os olhos, mas não parecia de fato, irritado. Fizeram o pedido e enquanto esperavam Rafael a olhava de um jeito que a desconcertou.

- O que?

- Nada, só te olhando...

- Para!

- Por que?

- Porque eu fico sem jeito quando você me olha assim.

- Eu estou com a impressão de que você está me escondendo algo.

- Você está louco!

- Toda vez que você mente ou me esconde algo você começa a bater o pé e piscar muitas vezes.

Ela revirou os olhos, mas agradeceu pela toalha da mesa esconder seu pé, que de fato, não conseguia parar de bater.

- Eu não estou escondendo nada! – Exclamou, olhando o cardápio.

- Renata...

- Ah, Rafael. Você me chamou para jantar para ficar desconfiando de mim?

No momento em que ele abriu a boca para responder a garçonete chegou com os dois refrigerantes na mesa. Rafael se manteve calado, mas nada tirava da cabeça que Renata escondia algo. Quando a pizza chegou até a mesa, os dois pegaram um pedaço, ainda em silêncio.

- Você vai continuar agindo desse jeito... – Renata murmurou, quando terminaram de comer.

- Eu só quero que você me fale o que está escondendo.

- Eu não estou escondendo nada!

- Beleza, então vamos fingir que eu acredito nisso.

E o silêncio voltou a reinar entre eles. Na hora de irem embora, Renata calculava mentalmente as chances de Rafael brigar com ela por ter omitido a visita de sua mãe.

- Tá ok! – Ela exclamou, o olhando de soslaio, enquanto ele ligava o carro. – Sua mãe me visitou.

- Como é que é? – Na hora que ela o viu soltar a chave com surpresa, se arrependeu de sua atitude. – Quando?

- Quando minha mãe voltou de viagem. Eu não iria te contar porque ela me ameaçou e também ameaçou a minha mãe.

- Você não ia me contar? Porra Renata!

- Rafael eu..

- Não, não e não! – Rafael soltou o volante. – Você não ia me contar, minha mãe poderia fazer algo com vocês e aí? Iriamos terminar de novo?

- Se fosse necessário sim.

A resposta de Renata o surpreendeu tanto que ele ficou sem saber o que dizer. Ela o ouviu soltar uma longa respirada, mas não ousou olha-lo. Não sabia o porquê respondera de forma dura, e apesar do arrependimento instantâneo, manteve-se calada.

- É isso que difere o que sentimos um pelo outro. Eu simplesmente não sei o que você sente por mim.

Rafael ligou o carro em silêncio e dirigiu da mesma forma. Silencioso. Começou a se questionar se valia a pena lutar por alguém como Renata. Ela amargou o arrependimento, sabia que suas palavras plantariam dúvidas infinitas nele. E eram dúvidas desnecessárias.

Quando o carro estacionou em frente à sua casa, ela o olhou de canto, viu que Rafael estava com o olhar perdido, e havia um toque de tristeza nos olhos que eram quase sempre alegres.

- Rafael...

- Melhor você não falar mais nada, Renata. Pelo menos não hoje.

Ela assentiu, sentindo um peso de 500kg cair em suas costas. Desceu do carro e olhou novamente para Rafael. Foi então que ele pronunciou a frase que a garota não esperava ouvir.

- Acho melhor darmos um tempo no que temos. Seja lá o que for o que temos.

E sem esperar respostas, o rapaz foi embora. Renata deu um longa e tremula respirada. Daquelas que os olhos começam a piscar e um bico magoado vai se formando, antecedendo uma longa e dolorosa crise de choro.

- Eu fiz merda. Deus do céu eu fiz uma GRANDE merda. – Murmurou, entrando em casa lentamente. Já sentia todo o seu emocional abalado. Tinha perdido Rafael.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 23/06/2015
Reeditado em 15/04/2022
Código do texto: T5286493
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