Segunda-feira - Capítulo 6
Capítulo 6
Renata foi encontrar Rafael em seu escritório repetindo mentalmente o seu novo mantra “não irá beija-lo, não deixará ele te beijar”. Ao parar em frente a “Pellegrino & Machado – Advocacia”, surpreendeu-se quando a porta fora aberta antes mesmo de bater e uma mulher apareceu.
- Opa! – Era uma senhora de aparentemente 60 anos de idade, cabelos grisalhos e um olhar avaliador a fitou, curiosa. Rafael apareceu atrás dela.
“Os mesmos olhos e as mesmas feições... Essa é a mãe dele.” – Pensou Renata, notando que perdera a fala.
- Hã, olá! Eu vim para estudarmos.
O olhar avaliador e curioso da mãe de Rafael aumentara.
- Você está estudando, filho? – Perguntou a mulher, o olhando.
- Na verdade eu estou dando uma ajuda para Renata, nos conhecemos na faculdade, último ano. – A forma com que Rafael fez suas palavras parecerem verdadeiras assustou Renata. – Mãe, essa é a Renata. E Renata, essa é a Olga, minha mãe.
Na hora que as duas foram se cumprimentar houve uma intensa troca de olhares que fez Renata ter uma urgência em ficar perto de Rafael.
- Olá, muito prazer! – Olga falou, crispando os lábios em um quase sorriso. Renata ficou ao lado de Rafael. – Nunca pensei que diria isso mas vocês parecem estranhamente conectados.
Rafael deu uma risadinha, mas parecia irritado com algo. Renata franziu o cenho. A mulher acenou com a cabeça para ele e foi em direção a um carro vermelho do outro lado da rua.
Os dois esperaram o carro partir para entrarem pro escritório. Rafael continuava irritado e Renata hesitou bastante até perguntar o porquê.
- O que foi? – Perguntou, seguindo-o até a sua sala.
- Nada com que você deva se preocupar. – Respondeu, seco ao sentar em sua cadeira. Renata sentou-se à frente. – Vamos começar a estudar.
- Não!
- Porque não?
- Não até você me falar o que sua mãe fez ou falou pra deixa-lo irritado desse jeito. – Ela notara que Rafael mal a olhava nos olhos.
- Eu já disse que não é nada com que você deva se preocupar, se levarmos em conta que nosso relacionamento é apenas de dois amigos.
- Você fala como se fosse algo ruim.
Rafael deu um sorriso duro a ela e abriu o livro com brutalidade. Renata respirou fundo, tentando não se deixar influenciar pelas duras palavras dele.
- É claro que não é algo ruim, porque poderia ser, não é?
- Rafael...
- Porque diabos seria algo ruim eu ficar agindo como se por acaso você não me atraísse e vice-versa né?
- Nós já falamos sobre isso e...
- SIM JÁ FALAMOS SOBRE ISSO E VOCÊ SEGUE NÃO ADMITINDO O ÓBVIO!
- CHEGA, RAFAEL!
Rafael, completamente exaltado, socou a parede atrás dele. Sua mãe o visitara para lembra-lo a respeito de seu relacionamento com Adriana, e também informar que ela voltaria na semana do aniversário dele. O que seria exatamente daqui a duas semanas. Todo o bom humor por saber que passaria a manhã com Renata acabara no momento em que ouvira a notícia.
- Renata, olha eu... – Rafael tentava se recompor. – É melhor você ir embora, eu estou irritado demais para estudarmos.
Ela se levantou e foi até ele, o abraçando carinhosamente. A proximidade física o fez esquecer por alguns momentos ao que estava condenado. Nada mais importava. Estava com Renata, isso era tudo.
- Se acalma então. – Ela disse ao pé do ouvido dele, a voz suave. – Por favor.
- Renata... – Ele segurou seu rosto, carinhosamente. Os narizes se tocavam e as respirações misturavam. Rafael depositou um beijo na testa dela. – Faz o que eu estou te pedindo, por favor.
E ela obedeceu. Via nos olhos de Rafael que ele precisava urgentemente ficar sozinho.
- Certo... Eu espero que você fique bem.
- Vou ficar.
Renata foi embora, mas não podia negar a si mesma que se Rafael pedisse, voltava no mesmo instante.
Rafael olhou o livro de Psicologia Criminal em sua mesa e deu um longo suspiro. Não havia um modo de se livrar de Adriana. Era condenado a estar com ela por negócios antigos de seu pai. Sabia que até antes de conhecer Renata não se importava com isso, mas agora era diferente. Ela chegara de repente e mudara completamente a sua vida. E tudo seria diferente se soubesse o que Renata realmente sente por ele. E também, claro, se não fosse comprometido.
- Ela pode até me desejar, mas não passará disso. – Murmurou sozinho, a voz completamente desolada. – E eu não posso cobrar nada dela, não posso querer que ela se apaixone. Renata não merece. Eu preciso deixa-la! – Sentou-se em sua cadeira novamente. – E eu não consigo deixa-la...
- É meu velho amigo, a paixão finalmente te pegou.
Ben entrou na sala com seu costumeiro sorriso suave. Rafael deu um suspiro, ainda desolado, mas balançou a cabeça negativamente.
- Cala a boca.
- Rafa, depois de anos fazendo todo o tipo de garota que você queria se apaixonar, era meio óbvio que você provaria do “próprio” veneno, né?
- Ben, eu não estou apaixonado.
- Certeza? – O rapaz franziu o cenho. – Essa sua urgência em estar sempre perto dela é o que? Tesão? Se fosse tesão você não estaria com essa cara de quem foi abandonado.
- Ela é um porre, ok? Mau humorada, maldosa, insegura, rude e não se permite. Renata não é fácil!
- Rafael, você conheceu a garota numa situação bastante incomum. Aliás, o relacionamento de vocês é bastante incomum. Você não pode querer que ela se permita assim. Se você analisar bem soa até meio egoísmo.
- Seria muita babaquice minha me apaixonar por uma garota que não quer ficar comigo.
- Você já está.
- Porra, Ben! – Rafael exclamou, balançando a cabeça negativamente. – Ela não admite o que sente. Ela me quer por perto, mas nas condições dela!
- Entendo. E você aceita porque quer ela perto também.
- Eu a quero pra mim. Não quero ser... – Bufou, com raiva. – “amigo” dela.
- Mesmo porque você foi pra cama com todas as suas amigas.
- Verdade. – Rafael riu. – Acho que é isso que você disse. Depois de tudo o que eu fiz com as garotas, eis que me apaixono por uma que não me quer como eu a quero.
- Então admite que está apaixonado pela garota.
- É, eu acho que sim.
- Quem diria... Rafa, talvez as coisas mudem se você terminar com a Adriana.
- Você sabe que essa questão não é tão simples de ser resolvida...
- Você tá sacrificando sua chance de ser feliz com alguém por causa do seu pai e também claro, por sua mãe. Você quer que a Renata se permita, certo, ok, mas coloque-se no lugar dela cara! Ela tinha uma vida completamente “certa” antes de você. Como você pode querer que ela fique com você assim?
Rafael não sabia o que responder, então preferiu o silêncio. Todos estavam certo. Só ele que se recusava a aceitar.
Nos dias seguintes Rafael optou por evitar Renata. Ele enviava por e-mail todo o conteúdo do trabalho, e quando ela ligava, ele era breve em suas falas. Precisava esquecê-la e com urgência. Na quinta-feira à noite Rafael saia de seu escritório quando viu que alguém o esperava sentada na escada. O coração imediatamente disparou quando viu os longos conhecidos cabelos castanhos soltos e a bolsa lateral clara.
- O que você está fazendo aqui? – Rafael perguntou, descendo as escadas. – Eu te passei o conteúdo por e-mail, não?
- Você não é muito bom em me evitar.
- Ah, eu sou.
- Rafael... – Renata o segurou pelo cotovelo. – Precisamos mesmo piorar isso?
- Não, você pode me ajudar não vindo me procurar. – Ele se soltou dela. – Mas vamos, eu te dou uma carona.
Renata entrou no carro em silêncio. As palavras de Rafael a magoaram a ponto de fazê-la se arrepender de ter ido até ele.
- Desculpa ter vindo.
- Eu só estou tentando não pensar o tempo todo em você.
- Eu sei. Eu só... Hã... – Os dois se olharam. – Senti a sua falta.
- Eu também senti sua falta.
Renata sorriu, Rafael ligou o carro, o barulho do motor tornara-se familiar a garota. A noite estava amena e tinha meia dúzia de estrelas no céu. “Uma noite de clima incerto” costumava dizer a mãe dela.
- E o trabalho? - Quis saber o rapaz.
- Está indo bem. Só preciso ver com a Tess como iremos apresenta-lo! E o seu trabalho, como vai?
- Ah! – Rafael riu. – Nada demais. Processos, crimes, cliente com pressa... O mesmo de sempre.
Quando chegaram em frente à casa dela, Renata o olhou, fixamente por algum tempo, depois olhou para fora.
- Hoje tá uma noite bem bonita...
- Renata, acho que devemos nos afastar por um tempo.
- O que? - Ela arregalou os olhos e a respiração começou a falhar. – Porque? Rafael! Não precisa disso! Você não quer isso.
- Se dependesse de mim Renata nesse momento nós estaríamos na minha cama.
- Você disse que tentaria ser meu amigo.
- Renata! Olha pra mim! Você acha que eu quero mesmo só ser seu amigo? – Ele a segurou pelo braço. – Você sabe que não e ainda assim insiste pra que eu continue!
- Eu não quero que você fique longe de mim!
- Você nem sabe o que quer, Renata!
Os dois ficaram em silêncio, sem saber mais o que dizer um ao outro. Rafael sabia que sua atitude poderia estar sendo radical, mas não sabia como lidar com o sentimento por Renata. Ela queria desesperadamente dizer tudo o que sentia, mas o peso de sua declaração era maior do que o dele.
Uma vozinha em seu interior dizia “eu quero você, eu preciso de você” mas Renata a reprimiu imediatamente e deu voz a sua razão.
- Tudo bem, eu não posso te forçar a nada.
- E vice-versa.
- É!
Rafael balançou a cabeça em um sim e Renata desceu do carro. Ela olhou para o rapaz, que tinha uma expressão perturbada.
- Então... A gente se vê. – Falou, sem muita certeza.
- É. Se cuide, por favor.
- Você também.
Ela deu dois passos pra trás e viu o carro de Rafael partir até sumir entre o breu da noite. Mais uma vez olhou para o céu e viu que escurecera, até que os primeiros pingos de chuva começaram a cair. Seu suspiro foi longo.
- Eu vou esquecer dele! Ah, eu vou. E vai ser amanhã na festa!
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Prévia do próximo capítulo:
- E quem é você para mandar em mim?
- Eu sou alguém que está com muito ódio de você nesse momento. E você nunca me viu com ódio, é melhor que não queira ver!
- Você está com ódio? – Renata riu bem alto. – Vou te dar um motivo para ter mais ódio. – Ela se soltou dele.
Rafael teve que olhar duas vezes para ter certeza que o que via em sua frente não era Renata beijando outro cara. Ele deixou toda a sua educação de lado ao puxa-la agressivamente e socar Cadu, que caiu no chão no mesmo instante.