A ORDEM DAS VALQUÍRIAS - A CONVOCAÇÃO ( cap 1)

O continente Midgard nunca foi pacífico. Anões, dríades, gigantes e homens travavam batalhas devastadoras por causa de terras. Foram tantas eras de guerra que ninguém lembrava mais de como ela iniciou. No ano zero, conforme o calendário dos homens, foi assinado - por todas as raças - o tratado da fênix que pos fim a guerra e dividiu o continente entre os quatro reinos.

Aos anões foi concedida as montanhas que vão do oeste ao sul de Midgard, nesta região se encontra o vulcão de Ifrit, um ser tão antigo quanto os deuses mortos. O reino das dríades se resumiu a floresta das árvores anciãs - Floraterra - no leste do continenente. Os gigantes foram para as terras gélidas do extremo norte enquanto que os homens, os mais afortunados, ficaram com a maior parcela do continente.

Mesmo assim a paz não reinou em Midgard. Os ventos ainda carregavam os gritos de guerra de todos os cantos e as aves carniceiras continuavam a acompanhar os exércitos em marcha pois a natureza humana não cessou em sua maldade mesmo após o tratado.

Sem um inimigo em comum os homens se dividiram em tribos e logo encontraram motivos para atacar umas as outras. Os anos passaram e aconteceram muitas alianças, traições e morte entre os humanos. Foi então que no ano 230, da união de duas poderosas cidades, surgiu o maior flagelo da humanidade.

A princesa Sílvia da cidade do norte, Nevaska, casou-se com Augusto, regente da Cidade do Sol. Dias após o matrimônio o regente de Nevaska faleceu e Augusto percebeu que tinha dois poderosos exércitos em suas mãos. Augusto não se autointitulava mais regente de uma cidade ou outra, mas imperador de todo o reino dos homens. As cidades Neto e Baldur não contestaram sua afirmação, sem o apoio destas, as pequenas vilas e aldeias nada puderam fazer para impedir a marcha de Augusto, o conquistador e seu exercito da luz, como eram chamados. Assim nasceu o Império do Sol.

Havia nos prados uma cidade que não se curvava a senhor algum. Era Fornovo. Seus cidadãos tinham os cabelos vermelho, pareciam labaredas de fogo quando agitados pelo vento; Havia entre eles um porta-voz mas não um líder - " Todo homem é livre e senhor de seu próprio destino" - diziam os fornovenses. Fornovo atrasou os planos do império de conquistar o deserto por muito tempo pois ficava próximo ao único ponto que era possível atravessar o rio prata sem violar o reino das dríades ou dos anões. Fornovo resistiu bravamente até o fim. Os que foram capturados cometeram suícidio pois para eles era melhor ser livre na morte do que escravo em vida. Os poucos que escaparam cruzaram o rio prata e assentaram na floresta dos espíritos, local que causava medo nos homens do império mas mesmo assim, vez ou outra, eles a adentravam em busca dos selvagens - nome que adotaram para se referir aos remanescentes de Fornovo.

Fornovo caiu mas levou consigo o imperador Augusto, tombado no último cerco. Seu filho mais velho, Teodoro, sucedeu-lhe o trono e desejava ser tão glorioso quanto o pai. Ele decidiu dar continuidade aos trabalhos de seu antecessor conquistando o deserto mas aquele ambiente não era para ser apreciado por qualquer homem e o império não contava com a astúcia do khaf Sallah-Aldeen, regente de Anuha, a cidade do deserto, não esperava também que os mujahidin, combatentes do deserto, fossem tão resistentes ao calor quanto os escorpiões daquele lugar. Mesmo com a imensidão daquele lugar só havia um oásis - Belafonte - e ficava dentro da cidade. Enquanto o exército da luz sucumbia à loucura da desidratação, os mujahidin tinham uma abundante fonte de água. Teodoro realizou quatro campanhas no deserto e nenhuma vez conseguiu sitiar Anuha. Era derrotado pela sede, pelas tempestades de areia e pelos ataques relâmpagos realizados por destacamentos pequenos de combatentes do deserto, apenas para inquietar as tropas.

Percebendo que a teimosia de seu irmão estava sacrificando a vida de muitos guerreiros de seu povo, o filho mais novo de Augusto, príncipe Hélio, se ofereceu para liderar a quinta campanha no deserto. Sabendo que Sallah-Aldeen tinha olhos atentos em toda a região, ele partiu sob o disfarce de uma comitiva de comerciantes. Desta maneira quem os via passar, enxergava apenas quatro carroças guiadas por um homem cada sem saber que sua carga não era outra se não vinte e cinco guerreiros imperais, cada uma. Assim eles entraram na cidade e os homens, escondidos na carga, foram se misturando ao povo do deserto até que substituiram algumas das sentinelas, escondendo seus corpos e usando suas vestes, da mesma maneira substituiram alguns comerciantes. Ao sinal de Hélio - o assassinato do khaf pelo próprio príncipe - seus homens se revelaram e atacaram os mujahidin em diversos pontos da cidade ao mesmo tempo, os combatentes do deserto hesitaram ao reagir pois de repente viram seu khaf ser assassinado e toda a cidade ser inundada por inimigos que pareciam surgir da areia de forma sobrenatural.

Hélio poupou a vida dos que se renderam mas os fez jurar que nunca mais ocupariam aquela cidade e nem tentariam impedir o avanço do império. Porém o Império do Sol nunca se fixou no deserto, os grupamentos de pessoas que tentataram não sobreviveram mais que uma semana. Foi por isso que passaram a chamá-lo de terra dos ossos ou deserto da morte.

Hélio, o bravo. Assim ficou conhecido o jovem príncipe no Império do Sol. Temendo que o irmão usurpasse seu trono, o imperador Teodoro nomeou Hélio regente de Nevaska, a cidade do norte, fazendo-o partir da Cidade do Sol, sede do império, na esperança de que caisse no esquecimento do povo. O novo regente levou consigo os centuriões que o ajudaram na tomada de Anuha e lá eles viram, pela primeira vez em suas vidas, os gigantes. Eles viram silhuetas de figuras enormes caminhando lentamente, distantes, em meio as tempestades de neve; ouviam uivos longos e ensurdecedores a noite, dos animais de estimação dos gigantes, os lobos da neve. Hélio sentiu um terrível temor em seu coração e ordenou que construíssem uma muralha tão alta que nenhuma ave seria capaz de sobrevoá-la.

No século V o Império do Sol já havia conquistado todo o reino dos homens com exceção da ilha Njord, a floresta dos espíritos e a terra das valquírias.

Njord fica a cerca de 20 milhas ao sudeste do continente. Ali vivem os senhores do mar, são mestres na arte de velejar que ganham a vida saqueando as cidades do império. Os njordinianos tem a pele morena e olhos escuros. Dizem que eles vieram de terras distantes ,d'além mar, mas não sei mais que isto, são eles que vêm até nós, nunca o contrário e não conversam muito sobre sua terra natal.

A floresta dos espíritos sempre incomodou o império. Muitas foram as buscas pelos selvagens sobreviventes de fornovo, mas o povo livre conhece bem estas matas e os imperiais nao arriscam adentrar tanto no coração da floresta. As infiltrações do exército da luz começaram a ter sucesso quando um traídor do nosso povo se tornou um general do império, era Bersek, meu irmão mais velho.

Certa noite acordei assustada no meio de um tranquilo sono para ser dominada pelo pavor do que estava acontecendo. A floresta estava em chamas, para onde eu olhava via o fogo consumindo tudo. Reconheci minha mãe agachada sobre o corpo imóvel de alguém, era meu pai. Corri para alcançá-los mas derepente um machado enorme de lâmina dupla cortou sua carne, quase dividindo seu corpo em dois. Eu não sei o q pensei, de repente me senti tão leve mas meus pés pareciam ter criado raízes no solo que me impediam de agir. O dono do machado o recolheu e olhou para mim, ele veio caminhando lentamente em minha direção - usava calças, sandálias, manóplas e camisa de couro de salamandra pois o fogo nao lhe incomodava - naquela época eu não sabia sobre o couro da salamandra tampouco me importei porque ele nao se queimava, só queria saber como aquele homem foi capaz de fazer tal coisa. Dois metros de altura; braços tão grossos quanto um tronco de carvalho; os cabelos vermelhos parecendo flamejar junto as chamas; aquele era Bersek, o assassino dos meus pais que liderou o ataque que exterminou nosso clã, meu irmão mais velho. Por alguma razão ele poupou a minha vida. - Mate-me também! - implorei quando ele partia.

- Você tem duas opções. - ele falou - Ficar na floresta vivendo como uma caça ou partir para o leste, para a terra das valquírias, lá você se tornará uma caçadora e talvez adquira a habilidade necessária para vingar nossos pais.

De repente, num movimento rápido ele estava a alguns centímetros de mim, a sensação que tive foi de que uma montanha surgira diante dos meus pés e foi crescendo até seu tamanho colossal. Senti uma pancada forte e minha visão escureceu.

Despertei sobre uma cama feita com folhas e ervas; os raios solares entravam fracamente pelas frestas do teto do bivaque; senti o cheiro de comida e por um instante meu coração se alegrou. - Mamae? - chamei - Não querida, infelizmente não. - Respondeu uma voz rouca.

Era uma senhora que já havia chegado a muito nos seus últimos anos, os cabelos brancos não me assustaram pois as roupas de pele de urso que ela vestia, o bivaque bem construído e o guisado de coelho com ervas que ela estava cozinhando denunciavam que era do nosso povo.

- Onde estou? Quem é a senhora? O quê aconteceu?

- Calma menina! - ela sorriu - Ai! As crianças são tão apressadas -começou a murmurar algo consigo mesma falando sobre como as crianças no seu tempo eram mais pacientes e quase não falavam na presença de um adulto.

- Bem! - voltou sua atenção para mim - Você está num bivaque improvisado que meu fillho, Bolgar, construiu. Somos do clã Rocha, meu verdadeiro nome já não é de conhecimento de mais ninguém além de mim mesma. Pode me chamar de Rocha Mãe como todos os outros me chamam. Mas o que aconteceu - ela me olhou e pude ver em seus olhos um mar de conhecimento adquirido com o passar dos anos - só você pode nos dizer.

Rocha Mãe apanhou uma cuia feita com casca de coco e pos um pouco do guisado dentro dela.

- Coma um pouco - disse ela - quando se sentir melhor vá para fora, queremos ouvir de você o que aconteceu na noite passada.

Ao sair do bivaque vi tantas pessoas reunidas que deduzi que não eram todos do mesmo clã, tinha no mínimo três clãs ali reunidos. Todos interromperam o que estavam fazendo e começaram a formar um aglomerado em arco na frente do abrigo que eu estava. Rocha Mãe saiu dentre eles ficando a frente, ela apoiou-se em um cajado velho e me encarou com um longo movimento de cabeça para que eu começasse a falar. Inspirei profundamente o ar e senti o cheiro de água por perto - o rio prata talvez - pensei.

- Sou Lenna! - comecei a falar após escolher cada palavra com cuidado. - Filha de Erik e Emma do clã Carvalho. O que aconteceu esta noite a floresta jamais esquecerá, mas não foi a primeira vez nem será a última que o exército da luz faz um ataque que tira a vida de nossos irmãos. - Contei detalhadamente sobre o que acontecera na noite anterior houve murmúrio quando citei a traição de Bersek.

- Ele era um de nossos maiores guerreiros - disse Bolgar - conhecido por muitos clãs.

Muitos concordaram e voltaram a conversar entre si até que Rocha Mãe ergueu seu cajado e todos se calaram outra vez. - Infeliz destino teve o clã Carvalho - ela disse - mas nem tudo está perdido - Rocha Mãe apontou para mim com o seu cajado - Lenna Carvalho vai passar o legado de seu clã adiante e não permitirá que a história esqueça esta família importante de nosso povo. - todos reagiram em concordância - Vamos povo livre, deixemos a menina descansar.

A multidão foi se dispersando, voltando aos seus afazeres e a Senhora me conduziu para dentro do bivaque novamente.

Só então percebi que estava exausta, não estava preparada para a traição de meu irmão que causou o extermínio do meu clã, nem para encontrar tantos da floresta num só dia. Sentei sobre a cama de folhas e ervas, Rocha Mãe me ofereceu água que bebi com muita avidez. Entraram no pequeno espaço do bivaque Bolgar e dois homem, um jovem, com, mais ou menos, a idade do meu irmão, e o outro velho, mas não tanto quanto Rocha Mãe.

- Pronto mamãe - disse Bolgar - Aqui está Jaime do clã Oliveira - ele disse apontando para o mais novo - e Klaus do clã Pinheiro - este era o mais velho. Ao apresentar os dois, Bolgar se retirou.

- Então somos quatro membros de clãs diferentes reunidos num só lugar. - disse Rocha Mãe - Isto não é por acaso.

- Com certeza não. - falou Klaus - Fornovo irá ressurgir.

Ao ouvir este nome, lembrei das histórias que os mais velhos do clã contavam sobre uma cidade em que todos os clãs viviam unidos, trabalhando juntos. Nós fomos um dos maiores desafios do Império do Sol por isso eles nos perseguem até que não tenha mais nenhum de nós sobre a terra.

- Você ja deve ter ouvido estas histórias Lenna. - falou o homem mais novo - Nos separamos na floresta para que não fôssemos capturados todos de uma só vez.

- E um dia, quando fôssemos tão grandiosos quanto éramos em Fornovo, reconstruiríamos nossa cidade pondo fim a tirania no reino do homens. - completei - Sempre ouvi estas histórias.

- Muito bem - elogiou Rocha Mãe - isso evita muita conversa já que estamos nos entendendo. - ela focou em mim - Lenna, vc fará a convocação.

Todos concordaram exceto eu.

- O quê!? - gritei - Mas eu só tenho doze anos! Como vou convencer todos os clãs a trabalharem juntos? Não sou uma espécie de líder. Sou uma criança.

- O povo livre nunca teve um líder. - falou o homem dos Pinheiro - Tínhamos porta-vozes eleitos pelo povo mas jamais tivemos alguém que tomasse a decisão por nós todos.

- Mesmo assim - protestei - Não sou capaz de fazer isto. Não posso.

Klaus olhou nos meus olhos e perguntou : "- Não é capaz ou não pode?"

Contei para eles o que Bersek me disse, sobre a terra das valquírias e sobre me tornar uma delas. Eles trocaram olhares numa conversa sem palavras e Jaime foi quem falou primeiro.

- As valquírias libertaram algumas aldeias da ocupação do império e ja resistiram a dois cercos. Dizem que com seu longo treinamento de quatro anos, uma simples menina é transformada numa guerreira que vale por vinte soldados do império.

Rocha Mãe ficou de pé e bateu o cajado no chão.

- Está encerrado o conselho! - anunciou - Foi decidido que Lenna, filha de Erik e Emma do clã Carvalho fara a convocação do povo livre esta noite e partirá amanha de manhã para a terra das valquírias.

- Mas...

- Não se preocupe menina - interrompeu-me Klaus quando eu ia protestar - você sabe usar as palavras.

- Mas...

- Boa sorte! - desejou-me Jaime

Sairam e me deixaram sozinha no bivaque. Como não havia nada que eu pudesse fazer, apenas tentei descansar e torcer para que os espíritos da floresta - se é que existiam - me abençoassem com o dom da fala.

- Está na hora criança - Rocha mãe veio me acordar com delicadeza - me acompanhe.

Saí do abrigo e encontrei Bolgar, Jaime e Klaus do lado de fora, já era noite e fomos caminhando, os cinco, pelo caminho que levava ao Rio Prata. Do alto de uma pequena elevação avistei postes com fogo oferecendo iluminação. Os três clãs estavam ali, mais a frente - nas margens do rio - haviam balsas funerárias. Desci o pequeno monte e fui até as balsas enquanto a multidão abria caminho para passarmos. foi um trabalho muito bem feito, os corpos foram preparados para a cerimônia e meus pais foram colocados na mesma embarcação, tive que resistir à vontade que meu coração sentiu de me deitar ali com eles, pareciam estar apenas dormindo. Bolgar incediou uma tocha num poste e fez com que todos prestassem atenção nele.

- É chegada a hora das muitas despedidas - ele disse em voz alta para que todos ouvissem - Gostaria de falar em homenagem aos mortos esta noite mas, embora meu coração esteja pesado pela tragédia que acontecera não seriam de todo sinceras as minhas palavras. Por isso deixarei que um sobrevivente do ocorrido, o último dos Carvalho, faça as honras desta cerimônia.

Bolgar entregou o objeto incandescente nas minhas mãos e de repente todos os olhares se voltaram para mim. Respirei profundamente muitas vezes durante aquele silêncio constrangedor. Isto foi diferente do que acontecera mais cedo, eu devia fazer a convocação. Há mais de 200 anos o povo livre espera o grande guerreiro que fará a convocação e está noite eles iriam descobrir que este guerreiro é na verdade uma menina com 12 anos de idade.

- Eu sou Lenna, filha de Erik e Emma dos Carvalho - comecei - Não falarei mais sobre o que aconteceu pois isto já é de conhecimento geral. Falarei sobre o que faremos para evitar que isto se repita. - um burburinho iniciou entre os presente e eu tive que elevar o tom de voz para que se calassem e voltassem a prestar atenção em mim - Como disse mais cedo esta não é a primeira e nem será a última vez que o exército da luz nos atacará. Sozinho meu clã não teve chance contra eles mas unidos seremos como nossos ancestrais em Fornovo.

Ao citar o nome da antiga cidade todos voltaram suas faces com brilho nos olhos, com novo interesse em minhas palavras.

- Povo livre da floresta dos espíritos! - continuei - Faz mais de dois séculos que nos escondemos na proteção destas matas. Conhecemos cada trilha oculta desta vegetação mas aqui não é o nosso lar. As pessoas do império nos chamam de selvagens e nos perseguem como quem caça animais. Mas no fundo sabemos que quando eles olham para as nossas cabeças vermelhas, quando eles sente o espírito de liberdade confrontando sua covardia opressora, tremem de medo pois sabem que o povo livre é capaz fazer ruir seus castelos. - alguns já estavam sucumbindo à euforia de um desejo que por muito tempo fora reprimido e começavam a se exaltar gritando desafios para inimigos imaginários, tive que falar ainda mais alto. - Vejo três clãs aqui reunidos para homenagear os membros caídos de outro clã, isto não é por acaso. - a partir deste momento gritei com todo o fôlego que tinha para que toda a floreste ouvisse - Fornovo ressurgirá das lendas! É chegada a hora de seu povo regressar do exílio e fazer o império tremer outra vez! Todos vocês - apontei com a tocha na direção da multidão eufórica - Rocha, Pinheiro e Oliveira. Estas três famílias serão os arautos da convocação. Vocês levarão esta mensagem para todos os clãs nos lugares mais ocultos da floresta dos espíritos : - Os filhos de Fornovo estão voltando para casa!

O frenezi foi tanto que apreciei a visão daquela gente que demonstrava um espírito de luta que eu nunca tinha visto. Não pareciam mais clãs diversos mas sim uma única nação, Fornovo. Quando os gritos finalmente começaram a diminuir eu me virei e usando a tocha que estava carregando ateei fogo na balsa dos meus pais, fizeram o mesmo com as outras balsas e as empurramos para a aguá. Enquanto o rio prata levava os meus entes queridos para terras distantes Rocha Mãe entoou uma canção bem baixinho e todos a acompanharam no mesmo tom.

Oh! Doce amarga dama

O povo livre vem visitar

Ao toque dos teus lábios

Nos teus braços irei descansar

Desejo que te atrases

Que tarde a chegar

Mas se porventura vieres

Que a Fornovo me leve

Meu verdadeiro lar

Ao término da canção um respeitoso silêncio caiu sobre eles e pouco a pouco foram se retirando do local. Continuei olhando as balsas, lembrando os momentos felizes que passei com meu clã.

- Eu disse que você sabia falar. - me surpreendi ao perceber que Klaus ainda estava perto e estava sorrindo pra mim - O que vem agora? - perguntei.

- Primeiro vamos espalhar a notícia da convocação - respondeu Bolgar que estava junto de sua mãe - Nosso povo ficou por muito tempo divido em clãs ninguém sabe quantos são exatamente suponho que sejamos mais de 150 famílias, vai demorar muito para que possamos nos reorganizar.

- Quanto tempo? - perguntei.

- Quatro ou cinco anos. - respondeu Klaus

- Executou muito bem a tua tarefa criança. - Rocha Mãe disse - Deixe o resto conosco, agora faça o teu próprio destino, vá para a terra das valquírias ao amanhecer. Mostre para aquela mulheres a vontade de fogo que nosso povo tem e quando você for como elas, em quatro anos, o povo livre estará pronto para regressar para casa e ficará feliz se o grande guerreiro que fez a convocação estiver entre nós.

Naquela noite, antes de cair no sono, eu chorei. Deitada sobre a cama de folhas eu chorei pelo meu clã mas também chorei de felicidade pelo despertar de meu povo, o sacrifíco dos Carvalho não foi em vão.