Caruaba, Um Paraíso
Nos três poços da Caruaba sempre que possível é bom nadar lá. Águas que vêm do Brejão do Jaleco, as mesmas da cachoeira a duas léguas morro acima. Primeiro perpassam pela bueira – nível de passagem férrea –, e daí formam pequeno poço. O segundo poço é o preferido; nem fundo nem raso. O terceiro é fundão e redondo, sombreado por quatro grandes árvores de ingás, perigoso para todos os meninos. Há tempos, neste poço, um homem, modo de pegar bons peixes, fez explodir algumas bananas de dinamite. A água dali corre num desfiladeiro para confluir com o Rio Paraopeba.
Tio Lolival nos levou a Caruaba em tempo demorado, numa tarde de sol qualquer. Do gramado, capim de pastagem, todos davam pulos dentro d’água. Calor e frescor nos dá o instante do mergulho. Ele ensinou a nadar Mmamaú e Pilão que não sabiam que ansiavam pela aprendizagem, e com poucas idas, naquele lugar, todos conseguiram aprender rapidamente. Gugulim aprendeu a nadar há muito. Nus todos nadavam: – ah!, horas essas é raro que alguém passe por ali. Tio Lolival imaginava. Na verdade, vez ou outra um cavaleiro cruzava a ponte da estrada de rodagem.
Depois tio Lolival subiu numa árvore maior, alta, nas grimpas, e amarrou comprida corda, daquelas de tirar leite do curral. A corda era estendida na cabeceira e do barranco alguém saltava até atingir o centro – local mais fundo do poço. Ele soltou a corda e lá de cima daquela árvore, ainda caçou jeito de subir ainda mais alto, balançando todos os galhos aos gritos:
– Pega o rato! Pega um rato!... Negaceava que ia pular e não pulava depois de muitas mamparras. De lá de cima gritava mais palavras:
– Caurubuaba!!! Cayuaba! Caruruaba! E, menos de esperar, num pulo só, tirava água do poço que aguava o gramado.
Tio Lolival e suas macaquices. Aquilo tudo era assistido pelos meninos e outros parados em pé nas gramas daquele lugar. Reflexos do sol no ar e jatos d’água do poço formava um arco-íris.
Aí então, um de cada vez, da grama, no alto barranco, nas margens do poço, segurava a ponta da corda e o corpo contra o vento lançava, navegava, e no centro do poço, era deixado no espaço. Tibum-bum... E logo em seguida outro menino e... tibum-bum... Gritos. Os olhos do tio Lolival, argutos, se responsabilizavam daquele instante lúdico. Ele mesmo pulou no poço pela corda, em várias voltas, e a farra era sempre reiniciada.
De corpos molhados, exaustos, lábios roxos e trêmulos, Mmamaú, Pilão, Meleão e Gugulim vestiram suas roupas quentes de sol. Pisavam nas gramas, de verde vivo, e os sapatos eram calçados somente quando o quente da areia da estrada os castigava e todos atravessaram a ponte em direção ao Paraopeba e pegavam um trilho num canto da mata ciliar. Subiram na árvore e nela os ingás foram saboreados.
Fragmento: subítulo Nos Tempos de Goiaba Madura, o Lobisómem do livro um carro de bois que transportava logos, edição do autor, p 129.
Autor do romance lírico infanto-juvenil Um Carro de Bois que Transportava Logos e de coletâneas como: Rio das Velhas em Verso e Prosa (Prêmio Projeto Manuelzão/UFMG/Morro da Garça/2006); Letras Mínimas (Ed.Guemanisse/2007); Elos e Anelos – Menção Honrosa (Teresópolis/2008).