Elite Zênite - Cap.2: ENIGMA Z
CAPÍTULO 2 :ENIGMA Z
PARTE 1
Dezesseis meses se passaram.
Ela se arrumava pra sair naquela noite, maquiando- se em frente de seu espelho em forma de coração. Passou sombra lilás nas pestanas, e um batom roxo pra combinar. Os cabelos, que haviam crescido nos últimos meses, exibiam mechas vermelhas nas pontas. Hoje era sábado, dia de sair com seus melhores amigos: Mocca, Gregório e Alicia, que eram, respectivamente: irmã, primo e amiga de infância. Os únicos amigos verdadeiros que ficaram ao seu lado desde que ela decidira ser assim. Porém nesta noite ela teria uma companhia mais improvável: sua mãe.
Numa das noites passadas, encontrou na volta para casa, dentro de um trem, algo que lhe chamou atenção. Era uma mulher de cabelos maciços e da cor marrom, armados em volta da cabeça, e com mechas amarelas frisadas como relâmpagos. Era um penteado incrivel, e o visual fascinante: uma jaqueta de plástico sobre um vestido que parecia ser feito de metal, com armações no busto e na cintura, como uma dama de ferro. Do seu pescoço, pendia um cordão, que os olhos de Flox percorreram até encontrar um medalhão de cobre, uma circunferência estilística com um Z no centro... Um Z que parecia emitir um brilho hipnótico, alguma espécie de radiação incomum, ou seria apenas uma falsa impressão?
A partir daquela noite, pequenas coincidências começam a ocorrer em seu caminho, todas trazendo à tona a letra Z. Num outdoor que fora arrancado do painel do ponto de onibus, as rasuras do papel que exibia letras pela metade. Mas no rodapé, a marca z assinando o recado. Não era possível entender as palavras, o que suscitou seu interesse.
Algo assim voltara a acontecer nesta noite, dessa vez mais nitidamente.
Ela voltava da livraria com sua mãe, dentro de um ônibus, quando coincidentemente um estranho casalzinho sentou – se nos bancos detrás dela e começaram a conversar baixinho. Ela não havia trazido os fones de ouvido aquela noite, e inevitavelmente pode ouvir.
- A noite vai ser bárbara.- disse a garota, mostrando dentinhos pontiagudos ao sorrir. Flox espiava- os discretamente pelo reflexo do vidro. Ela era estranhamente interessante: tinha olhos grandes e levemente caídos, com um par de minúsculas e pretas. Os cabelos eram pretos e lisos, a maquiagem sombria de punk da pesada, a pele branca feita porcelana e o formato do rosto redondo. Ela parecia ter saído do seriado “Ugly Americans”, com aqueles olhos expressivamente fantasmagóricos dos personagens animados, o que era uma visão incrível no plano da realidade.
O rapaz respondeu alguma coisa num tom mais baixo. A garota fez o mesmo, e o diálogo secreto transcorreu no som de cochichos e chiados. Algumas palavras podiam ser captadas, como “Zumbira”, e “elite”. A luz do medalhão que cada um usava pendurado no pescoço se refletiu na janela de Flox... Aquele Z de novo, aquela letra intrigante que a perseguia, lhe perturbava, lhe atraía.
Então era isso... o enigma do Z. Tratava- se de uma elite, talvez uma elite secreta. Pensou em segui-los para descobrir... Mas sua mãe estava do seu lado, e como ela explicaria a decisão de mudar de rota para seguir uma dupla de estranhos até um lugar desconhecido?
“ Mãe, venha comigo, precisamos seguir aqueles dois, quero descobrir onde fica a elite secreta que eles frequentam”
“O que?” - sua mãe falaria mais alto que o normal, daquele seu jeito indiscreto. - Que historia é essa de seguir os outros?
Eles olhariam para as duas, enquanto Flox tentaria explicar a confusa situação á sua mãe, que encararia os dois diretamente, então eles se descobririam que estavam sendo espionados. Esqueceu a ideia imediatamente, lamentando- se por não ter vindo sozinha.
Naquela noite tinham saído de ônibus, o carro estava na oficina do namorado da sua mae, recuperando- se de um pequeno desastre que sofrera numa corrida maluca entre sua mãe e seus amigos malucos. Era tão contraditório que uma adulta de 40 anos, que saia frequentemente com uma gangue de coroas barbudos e cabeludos podia impor restrições aos filhos. Que belo exemplo estava dando com seu comportamento!
Ela ainda tinha pensado em pegar a Vulcan cilindrada do namorado para levar Ludivine até a livraria, mas ela recusara prontamente. Quando Jacinto aparecia sua chegada era sempre um acontecimento intenso, graças aquele ronco brutal do motor enraivecido de sua moto. Era algo digno de... medo.
Descem no ponto próximo á sua casa, enquanto o casal segue de ônibus para a festa que os esperava. Ela ouviu risos após sua descida. Uns grupos de estudantes olhavam- a com sarcasmo cruel.
- Ainda não é Halloween e os monstros estão á solta – disse um rapaz, em tom intencionalmente alto. Seus amigos explodiram em gargalhadas.
- Mande lembranças ao seu namorado, o Frank Stein.
Flox fingiu que não ouviu. Não estava com animo para brigar com estranhos hoje.
PARTE 2
Flox esta anormalmente calada enquanto pisavam pelas calçadas desertas, sentindo um estranho aperto na garganta. Tinha a estranha sensação de que esta perdendo algo, não sabia se eram as informações que desejava obter a fim de resolver aquele mistério em torno da letra Z. Ou se era a atração da qual eles tanto falaram. Sua mãe chupava um pirulito, descontraidamente. Aquela noite, tinham ido a uma livraria, e Flox voltava com a versão original “Os androides sonham com ovelhas elétricas”
Sua mãe parecia não notar seu incomum silencio, talvez porque nunca saiam juntas. Ou graças á sua personalidade egocêntrica, que não permitia enxergar nada além de si mesma. Como se ela fosse a protagonista do filme e os outros fossem meros figurantes.
Logo chegavam ao portãozinho branco da casa onde moravam, que parecia a versão gigante de uma casa de bonecas. Fora um projeto desenhado e construído por seus pais enquanto eles ainda eram namorados, uma casa de dois andares, com telhado e janelas brancas, paredes pintadas de lilás, e uma varanda.
O portãozinho abriu- se facilmente, e elas passaram pelo jardim exótico que seu pai, botânico profissional, plantara. Ele, sim, era lindo, o lugar preferido de todos. Em outros tempos, ali se reuniam com os amigos da família, e ficavam até altas horas da madrugada. Eles costumavam pendurar luzes pisca - pisca coloridas naquelas ocasiões, e o ambiente ficava incrível. Tempos em que ela era apenas uma garota normal.
Mocca, sua irmã pré- adolescente, e sua amiga Nic, estavam deitadas no tapete da sala, frente á televisão ligada. Elas estavam concentradas em um papel que estava no chão, e Mocca mordia a tampa da caneta. Assim como Flox, a irmã tinha o nome de uma flor, Margarida, do qual sentia profunda vergonha. Então ela e sua amiga tinham combinado de adotar apelidos parecidos. No caso de Nic, foi a abreviação de seu nome, Nicole. No caso de Mocca, foi a substituição por uma marca de café.
A primeira coisa que a mãe das garotas fez foi sentar- se em frente à TV e manda- las preparar o jantar. Nic não quis ir para a cozinha com as duas, por isso preferiu ficar com sua mãe assistindo a um programa de decoração de casas, que Ludivine não perdia.
Mocca tirava os condimentos da geladeira, enquanto, Flox apanhava mecanicamente os potes, contendo os alimentos, que ficavam no armário com portas de vidro.
- Está tudo bem com você,?
A resposta foi imediata, irônica, acompanhada do barulho que ela fez ao pousar os potes sobre a mesa:
- Há dois anos que nada está bem comigo.
Era era a primeira coisa negativa que ela dizia sobre a “praga”. Ela que achava tão encantadora sua pele verde... Mas é que as atitudes das pessoas em relação á sua anormalidade era desanimadora, as vezes
Mocca torceu o nariz redondo. Mas não disse nada.
- Eu preferia que você tivesse saído comigo hoje.
- Voce sabe que nós adoramos sair com você, mas odeio livrarias. E o Gregório também não pode, ele saiu com a namorada hoje.
Flox estava de braços cruzados, e tinha as pestanas retas, sobre um olhar não triste, mas meditativo.
- Ela tem vergonha de mim. Eu sei. Ela fica perturbada com reação das pessoas ao me ver. Tem vergonha por sair ao lado de alguém como eu.
Isso era tão inegável, que até mesmo Mocca fez um gesto de concordância. Ela também percebera isso, quando seus amigos visitavam a casa da família. Flox nem mesmo era convidada para o jantar, ela inventava a desculpa de que era um jantar para adultos, e que ela e Mocca não poderiam participar.
Flox recebia o aviso com expressão calma, mas sempre descia e passava pela sala de jantar para dar um alegre oi aos convidados. Ela podia até proibi- la de participar do jantar, mas não de ir buscar alguma coisa pra comer na cozinha. Mesmo que sua aparição alienígena causasse reações estranhas, ela queria mesmo era ser vista e não se esconder.
- Não somos exatamente “as filhas dos sonhos dela”.- Mocca estava de cabeça baixa com olhos fixos nos vegetais coloridos que quebravam- se em suas mãos, e caiam dentro da tigela. - Eu até entendo que ela não aprove muito meus modos, meus gostos, minha imagem... Mas pelo menos deveria ter orgulho por ter você.
Flox engasgou com o comentário, até tossir.
- Orgulho de ter uma filha com cara de sapo? – balbuciou em meio as tosses.
- Até isso torna você mais interessante do que eu.
Ela ergueu as sobrancelhas rebeldes, desceu os olhos para si mesma. Estava se referindo á sua baixa estatura, ao seu corpo roliço e troncudo, que lhe fazia parecer uma anã de jardim. E á sua própria voz, que para combinar, era rouca, um tanto sem timbre natural.
- Não fale assim. Você é uma garota incrível, realmente incrível.- Foi com profunda sinceridade que Flox disse isso.
- Eu sei. - ela respondeu com sarcasmo- Só disse isso para que você se sinta melhor.
- Mas eu não estou mal, não, não estou. Só um pouco entediada.
Então Mocca pôs- se a tagarelar sobre as coisas inéditas que faria naquela viagem de férias, e Flox fingiu distrair- se com isso.
Seu pai sempre fora botânico, e sua mãe, decoradora. Ambos uniram seus talentos e fundaram uma loja que era um misto de floricultura e designer decorativo. Havia uma assistente que trabalhava para eles, uma mulher mais velha, baixa e gorducha, que costumava pendurar nos cabelos cacheados uma flor diferente a cada dia. Ludivine achava esse detalhe pavoroso, e zombava da mulher pelas costas, mas Alfredo achava aquilo encantador. Uma verdadeira arma de sedução. Ludivine percebia a reação do marido e o maltratava por isso, inclusive na presença dos clientes. Não conseguia entender que beleza ele podia enxergar naquela mulher fora de moda que usava vestidos com estampas florais, batom vermelho, e aqueles cabelos ondulados iguais aos da Medusa, que era como ela lhe chamava. Demitiu-a então, e eles brigaram por isso. Ela tinha um temperamento forte, que fazia com que Alfredo aceitasse suas decisões, por influencia de sua personalidade, mas dessa vez ele manteve- se firme. Estava cansado de se submeter aos seus caprichos, e logo concluiu finalmente que, na verdade, estava cansado dela. Então pediu o divórcio, que ela inicialmente resistiu em conceder, mas pensou melhor e compreendeu que seria interessante ser solteira novamente. Ter novos namorados, viver novas experiências. Então lhe deu o divórcio, mais pensando em si mesma do que nele, ou nas filhas. Então ele mudou-se para outra cidade e casou- se com sua ex - assistente, que a propósito, chamava- se Frida.
E as garotas, como já era de se esperar, adoraram a madrasta.
Época em que elas passavam as férias no apartamento novo do pai. Essa seria a segunda temporada de férias escolares que Flox não iria viajar. Desde a sua mutação, as coisas tinham mudado um pouco. Sua mãe simplesmente não autorizara a viajem, como uma espécie de castigo por ela não confessar a verdade.
Flox se ocupava de cortar as tampas das abóboras pequeninas, e arrancar seus miolos internos, enquanto Mocca finalizava a salada colorida com um tempero agridoce, cortava sobre a tábua de madeira as berinjelas destinadas ao arroz, e despejava as rodelas do legume dentro de uma panela ao fogo. Ela era dinâmica, tinha os braços fortes e dedos curtos e grossos, e aprendera várias receitas culinárias com Frida. Esvazia um sachê de coco dentro do arroz e veio ajudar Flox com as abóboras. Em pouco tempo o jantar estava pronto.
- Eu adoro quando vocês duas cozinham. - cantarolou Ludivine, erguendo a tampa da assadeira repleta de mini- abóboras recheadas e aspirando seu aroma forte.
Mocca e Flox trocaram um sorriso brejeiro. Jamais diriam com quem aprenderam aquelas habilidades, ou estariam proibidas até mesmo de entrar na cozinha.
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No fim da noite, quando a louça do jantar já havia sido lavada, e as garotas prontas para dormir, Jacinto resolveu fazer uma visita surpresa por lá. O motor uivando antes da meia- noite anunciava a chegada do príncipe motoqueiro da mulher mais velha da casa.
- O que é isso?- gritou Ludivine quando fora atender a porta, mas não havia raiva em seus olhos. Foi imediatamente agarrada pelo gigantesco namorado tatuado.
- Isso é saudades.
E beijou-a com intensidade. Ela se desvencilhou com uma tapinhas, e olhou para as garotas que assistiam a cena. Elas não estavam espantadas.
-Tem crianças na sala, seu ogro.
Ele olhou para elas, parecendo um lobo prestes a uivar.
- Uau! Essa casa é sempre tão cheia de garotas. Hoje tem uma a mais! - acrescentou, ao ver Nicole.
- Mas a sua garota é essa ai, de 40 anos. - replicou Mocca com ironia .
- Eu sei! Eu adoro a minha garota! - Jacinto abraçou a mae das meninas, enquanto ela mostrava a língua para Mocca.
- Deveria cuidar mais dela, já que ela não consegue. Ou melhor, pelo menos cuidem do Ted, eu ficaria contente com isso.
- De quem ela esta falando? - indagou Jacinto a Ludivine.
- Ah. Daquele trambolhão que esta na ala cirúrgica da sua oficina.
Mocca lançou- lhe um olhar mortal, e ia abrir a boca para lhe dizer alguma coisa da pesada. Então lembrou- se de que ela era sua mãe.
- Hum, entendi. Você foi má com ele, Lua. Eu te avisei pra ir devagar....
- Aquele carro não aguenta nada. Por mim eu vendia, mas ela não deixa.
Ted era o nome que Mocca havia dado para a caminhonete amarela que eles haviam ganho numa competição em família. Ela sonhava em herda- lo quando crescesse.
- É claro que não... Nem pense nisso.
- Eu não vou mais correr com ele, ok? Descobri que ele não é bom para corridas. É péssimo, na verdade.- respondeu Ludivine, com crueldade.
Mocca estreitou os olhos, e ela estreitou os dela também, devolvendo a provocação. Pareciam duas feras se estranhando. A mãe leoa e sua filhote. Flox assistia a cena com um olhar impessoal, como se não estivesse presente. Os pequenos incidentes familiares não a surpreendiam hoje. Havia uma névoa á sua frente, que fazia tudo aquilo parecer um sonho entediante.
Jacinto estourou as bolhas quentes e raivosas que subiam entre as duas, com um gesto típico de bom humor.
- Lua! Trouxe algo pra você! Venha ver.
Ele levou- a para fora, para a varanda. Deveria ser uma surpresa romântica, e ele talvez a levara para o escuro para ficarem a sós, por isso elas não foram atrás.
Mas ouviram o click do interruptor de luz se acender, e em seguida, um berro, e introduziram as caras pela porta.
- Você só pode estar brincando.
Agitando -se de um lado para o outro dentro de um alçapão, um minúsculo mico- leão de olhos grandes e amarelos, preto como um morcego, olhava- os com um olhar curioso e inquieto. Ele era... exótico. Mocca arregalou os olhos como os do mico. Estava paralisada de emoção.
- Detestei- afirmou Ludivine com cruel desdém.
- O que é isso, Lua? Imaginei que você adoraria.
- Só de olha-lo sinto comichões. - ela disse enquanto coçava o pescoço com movimentos nervosos.
Mocca encaminhou- se para a gaiola, com um olhar iluminado.
- Posso solta-lo?
- Ele pode fugir. O ideal é que tranquem as portas e janelas por alguns dias, até que ele se familiarize com o ambiente. E trata- lo bem, e brincar com ele.
- Pode deixar.
- Ei! Estão falando como se eu fosse ficar com ele. E não, eu não vou ficar.
- Sem problema, mãe. Eu fico.
- Não fica não, ninguém aqui fica com esse bicho.
- Não é um bicho, é um mascote de estimação. declarou Jacinto num tom de respeito.
Seu nome é Morcego.
- QUE LINDO NOME.- respondeu Ludivine, crispando a comissura dos lábios com nervosismo.
- Fantástico!- exclamou Nic. Ela e Mocca pulavam alegremente em torno do bicho.- Onde o encontrou?
- É uma herança de família. Tinha um tio fazendeiro sem filhos que faleceu e deixou- o para mim, que era o único da família disponivel para cuidar dele.
Ludivine não se mostrou nenhum pouco emocionada pelo fato de ter recebido como presente uma herança da família de Jacinto. Só conseguia enxergar um macaco cheio de pulgas que defecaria mal educadamente por toda casa.
- Então por que não o leva para sua casa?
- Eu adoraria ficar com ele mas... Sou alérgico a macacos.
- Entendi... Daí sobrou para mim ficar com ele.
- Pensei primeiramente em você. Pareceu -me que seria uma combinação agradável.
- Esta louco se pensa que isso combina comigo.- o tom dela era cético, e duro.
- Imaginei que você gostaria de ter um anima assim pra brincar.
- Não sou nenhuma criança. Então não era só saudade, né? Você só queria um abrigo pro seu macaco órfão.
Ele então cochichou alguma coisa em seu ouvido
- Vamos pro jardim. - ela pegou -o pela mão e conduziu-o pelo jardim. Mas virou a cabeça para traz e gritou:
- Parem de nos vigiar! E levem o Morcego para dentro.
Elas demoraram algum tempo para obedecer a ordem. Ficaram olhando a mãe de longe, daquele modo surpreso, admirado e incrédulo de sempre. As vezes esqueciam- se de que ela mesmo a mãe delas. O novo visual não só a fazia parecer uns 15 anos mais jovem, fazia com que ela parecesse simplesmente a irmã mais velha.
PARTE 3
Enquanto Mocca soltava Morcego, que voou para seu colo, e Nic fechava cuidadosamente a porta, Flox finalmente começou a subir as escadas para o nível superior, suas botas estalando na madeira dos degraus.
Entrou em seu quarto sem acender a luz, apenas deixando uma fresta da porta entreaberta. Baixou o capuz que lhe cobria a cabeça, despiu a capa escura cujas mangas faziam suas mãos desaparecerem, tirou as botas, as meias e assim, ficou apenas de saia de pregas e um blusão preto com letras tremeluzentes de uma banda de rock que ouvia feito maníaca. Caiu de costas na cama, com o rosto voltado para o teto pintado de preto e repleto de adesivos, estrelas laranja- cósmicas que acendiam na escuridão.
Ela era somente Flox, não importasse em que estado bizarro estivesse, isto, claro, na opinião deles. Monstrenga ela não era.
Uma ansiedade começava a nascer. Ela acendeu a luz de repente, trancou a porta do quarto para que ninguém viesse perturba- la, ligou o rádio e colocou para tocar o cd de música mais power da sua coleção. Apanhou sua agenda velha e anotou algumas ideias que fervilhavam em seu cérebro. Pensava em seu aniversário, que aconteceria em duas semanas. Estivera pensando numa festa a fantasia, estilo dia das bruxas, na qual ela seria a garota verde aniversariante. Seria interessante, e possivelmente atrairia muita gente. Seria engraçado, divertido, incrível, onde todos seriam monstros... Mas... seria um tanto estupido convidar pessoas que um dia haviam zombado dela por causa de sua cor. Pessoas como aqueles rapazes do ponto de ônibus.
Ela não se preocupou imediatamente com isto, apenas colocou no papel. Suspirou.
Até que ela voltou a sua mente, como uma esfera de luz. Girando em torno de sua cabeça, ou era sua cabeça que girava em torna dela?
A letra Z.
Aquele nome vinha em sua memória com ondas de frenesi, caracóis de inquietação. Era de novo aquela sensação de que uma serpente elétrica se movia no interior de seu abdômen, como se a menção imaginária da palavra ativasse o movimento da serpente. Aquilo sim, era tão estranho, que podia ser considerável temível. Essa palavra tinha poderes sensoriais?
O que era a elite Z? Como descobrir o que havia por trás daquele nome? Tinha algumas informações, que lhe fizeram riscar todas as coisas que tinha escrito anteriormente e escreve- las em letras grandes na agenda amarelada:
- é uma elite, com membros aparentemente excêntricos que carregam o medalhão z no pescoço.
- um dos membros chama- se “Zumbira”
- Ligou o notebook e pesquisou referencias sobre a letra Z e a palavra elite. Nada diretamente relativo. Parecia que a elite não gostava de publicidade, e nem mesmo de ser mencionada em sites de pesquisa. O que a fazia parecer ainda mais misteriosa. E interessante.
Pesquisou sobre a tal garota chamada Zumbira, e nada referente aquele estranho apelido. Ou seria um codinome? A ideia mais provável era de que o nome fora criado a partir da inicial Z, caso contrário, isso seria uma coincidência inacreditável.
Uma insônia, provocada pela frenética necessidade de descobrir o significado oculto daquelas coisas, fez com que o percurso de sua busca se estendesse até altas horas da noite. Seus olhos vermelhos de insônia pareciam alarmes de incêndio. Pesquisar por elites secretas trazia artigos sobre seitas do mal, e subgêneros de bruxaria praticados por grupos pouco conhecidos. Não seria possível... Seria? Fosse o que fosse ela iria até o final. .
Não encontrou nenhuma referencia, mesmo após usar milhões de palavras- chave. Eram quase tres horas da manhã, e ela estava debruçada sobre a mesa do computador, extenuada. Por que tanto segredo em torno de um nome? O que tinha ele de tão oculto, estranho, ou mesmo perigoso?
Não tinha respostas, apenas dúvidas. Então lembrou- se de alguém que possuía todas as respostas para questões desse tipo.
Buscou aquele nome, de repente tão importante, na sua agenda velha e desbotada. Revirou as páginas, embora não se lembrava de ter anotado o seu número de telefone. É, realmente não estava lá. Lamentável. Então, teria que ir até a casa dela a pé mesmo, e agora.
Sem esperar nenhum segundo a mais, apanhou a capa, calçou suas botas e partiu para a rua. Pegasus, seu gato preto, acordou com o barulho e veio correndo atrás dela.