Não o sabia, sábia, o sabiá
O que sei, ou imaginei, é que de nada sabia o sabiá.
Mirei-o no alto do coqueiro, a uns vinte e poucos
metros de mim, e puxei o gatilho. Trigger, trigger
happy, de ter acertado na mosca.
A espingarda, cedida pelo Marcim naquela manhã, só me
deu um coicinho leve pelo afã. Como se me cumprimentasse
pela boa mira, naquele tiro e queda que, de quebra, a
vida tira.
E o sabiá, que ensaiava gorgear inda havia pouco, nem
um gemidinho deu, colhido em pleno repouso e agora,
corpinho ainda quente, inerte, rumo ao eternamente. E
abrindo vaga a um espaço na copa do coqueiro para
algum outro sabiá igualmente aventureiro.
Era meu primeiro tiro de arma de cano longo e fiz
questão de proclamar o feito ao colegas de passeio
matinal naquele quintalão de Bertizac (Albert Isaacson), que
me cumprimentaram com um quase silente assente. Menos
o mano Beu, que me repreendeu. E mais tiros não dei
eu.