Não o sabia, sábia, o sabiá

O que sei, ou imaginei, é que de nada sabia o sabiá.

Mirei-o no alto do coqueiro, a uns vinte e poucos

metros de mim, e puxei o gatilho. Trigger, trigger

happy, de ter acertado na mosca.

A espingarda, cedida pelo Marcim naquela manhã, só me

deu um coicinho leve pelo afã. Como se me cumprimentasse

pela boa mira, naquele tiro e queda que, de quebra, a

vida tira.

E o sabiá, que ensaiava gorgear inda havia pouco, nem

um gemidinho deu, colhido em pleno repouso e agora,

corpinho ainda quente, inerte, rumo ao eternamente. E

abrindo vaga a um espaço na copa do coqueiro para

algum outro sabiá igualmente aventureiro.

Era meu primeiro tiro de arma de cano longo e fiz

questão de proclamar o feito ao colegas de passeio

matinal naquele quintalão de Bertizac (Albert Isaacson), que

me cumprimentaram com um quase silente assente. Menos

o mano Beu, que me repreendeu. E mais tiros não dei

eu.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 06/02/2015
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