Mais que uma garota; Cap.5- Algumas atitudes são necessárias, ou não.

Acho que dormi em algum dado momento, pois um barulho me assustou e eu acordei sobressaltada, levando alguns segundos para reconhecer onde estava e por que; Internato, para não me tornar um caso perdido,quarto 7A, beliche da direita, cama de baixo,ok.

Olhei para a porta e de lá que vinha o barulho, para minha surpresa a jovem bonita que vi no avião, estava tentando passar pela porta com suas milhares de malas, ela tinhas malas debaixo dos braços, entre as pernas, na boca, nas mãos, empurrando com os pés e algumas caídas no chão; Provavelmente eu tinha meus olhos arregalados, mas não sabia se queria e deveria ajuda-la, então apenas fiquei sentada vendo sua tentativa falha e esperei, esperei alguns longos dez minutos até cansar de vê-la continuar tentando ainda sem sucesso, mas uma coisa era certo, acabei de descobrir que tínhamos algo em comum, assim como eu, ela não sabia desistir facilmente.

Com isto em mente sai do meu posto e antes que ela pudesse dizer algo, fui até ela, e tirei as malas que estavam em suas mãos e terminei de empurrar as que estavam no chão para dentro, larguei em qualquer lugar, voltei e peguei mais algumas, assim estava terminado o martírio de minha colega de quarto, que em minha mente foi apelidada de garota bonita.

Com o suor escorrendo em suas têmporas e parecendo um pouco descompassada, ela me parecia mais com uma garota normal, jogou-se suspirando na minha atual cama e caiu para trás, dizendo “Obrigada.”

Apenas a fitei por um momento e dei de ombros sem responder, sem muita opção do que fazer, também me joguei na cama que aliás agora era minha e ficamos as duas em silêncio encarando o teto.

A garota de repente se virou para mim, me assustando, ela me olhava com um olhar pensativo. Eu comecei a achar aquilo estranho e fiquei esperando o que viria, então ela se sentou, arrumou seus cabelos com os dedos e finalmente pareceu se lembrar de algo.

“Ei!, você é a garota do avião, certo?!”

Ela tinha uma voz doce quase que infantil, falava alto e efusivamente, apenas concordei com uma leve afirmação de cabeça.

“Eu sabia que já te vi em algum lugar, logo de cara descartei que fosse uma celebridade ou filha de celebridade, não me leve a mal, mas você não tem ou melhor lhe falta o glamour necessário para pertencer a alta sociedade, sei lá, só acho que você tem bolsista carimbado na testa e o mais engraçado é que esse colégio não oferece bolsas.”

“Não, o mais engraçado é uma filhinha de papai idiota, que nem me conhece, achar que pode me dizer o que pensa.”

“Mas...” – ela tentou argumentar com uma das mãos no peito e falsa cara de surpresa.

“Mas eu não estou interessada no restante das idiotices que possam sair desta merda que você chama de boca e fique ciente que dá próxima vez que precisar de ajudar a bolsista aqui não vai te ajudar.”

Por um instante o clima ficou pesado, ela parecia não saber o que fazer, mas logo recuperou a pose e sem dizer mais nada foi em direção a beliche do outro lado, escolhendo também a cama de baixo, tirou seus sapatos e deitou na cama me dando as costas, melhor assim.

Já estava começando a ficar entediada, dentro daquele quarto, resolvi sair para dar uma volta; Os corredores estavam praticamente desertos, fui andando e analisando tudo, cheguei em outro andar onde, eu já sabia que seriam as aulas, cada sala tinha seu nome na porta e o nome de um professor, uma em especial me chamou atenção e entrei lá haviam vários instrumentos, um piano de cauda, muito parecido com o que tem no convento, porém este não está em decadência e sim parecendo pronto para um concerto, sem dúvidas ele era o mais esplendido de todos os instrumentos ali presentes, fui em sua direção e sentei-me no banco acolchoado que se encontrava a sua frente, olhei em volta e não vi ninguém, então posicionei minhas mãos como irmã Adelar a anos vinha me ensinando e toquei uma das poucas músicas que sabia tocar no piano e a minha favorita em qualquer momento: This little light of mine.

“Eu vou deixar a minha pequena luz brilhar...”

Eu tocava e cantava, conforme ia me deixando embalar pela melodia, me empolgava e me soltava, sabia que minha voz, soava doce e limpa ao ouvir, surpreendi irmã Adelar na primeira aula de canto do convento, onde ela sempre tentava me por para fazer o coro do coral, mas nunca aceitava, até que um dia em troca de aprender a tocar piano eu aceitei, mas assim que aprendi a tocar, eu abandonei o coro e o coral, juntamente com as aulas de piano, sendo assim o orgulho que eu via nos olhos de irmã Adelar quando me olhava, se apagou, mas eu não me importava de fato.

Continuei tocando me embalando com a música, poderia sair dançando se não estivesse tocando e soubesse dançar, mas como não podia apenas continuei tocando e cantando, terminado sem desafinar nem na voz e nem no piano, me senti satisfeita comigo mesma.

Som de aplausos me assustaram, me virei rapidamente na direção que vinham e um garoto de cabelos bem curtos, de tal forma que não saberia dizer se são loiros ou castanhos claros, olhos azuis, extremamente azuis, com a pele clara parecendo um pouco queimado de sol e o mais estranho ele sorria para mim, meu coração não funcionou normalmente quando notei aquele sorriso.

“Desculpa se te assustei, mas você se saiu muito bem, qual o seu nome ?”

“Helena.”

Me vi respondendo de automático, me sentindo corar, coisa que nunca aconteceu comigo antes, subitamente fui ficando nervosa e inquieta.

“Prazer Helena, eu sou Brendon.”

Antes que pudesse formular um pensamento coerente ele me deu um beijo no rosto, o que para minha infelicidade me fez levantar e sair correndo dali, mesmo não sendo uma atitude muito louvável, eu estava feliz por algum motivo, quando já estava longe o suficiente da sala de música, parei quase que sem ar e levei uma mão ao meu coração, como se isso fosse me fazer respirar melhor e a outra a bochecha que Brendon havia beijado.

“ Ou esquisita, sabe onde é o quarto 7A ?”

Me virei na direção da voz e ali estava uma garota de cabelos curtos e repicados em um tom de vermelho, com mais piercings do que eu era capaz de contar rapidamente, roupas rasgadas propositalmente, boca pintada de preto e mastigando chiclete com uma cara emburrada.

“ Se eu sou esquisita, me faltam palavras para dizer o que você é e não sou informante, procure.”

Eu não sei quem fez a divisória de quartos, mas trocaria as duas garotas estranhas que estavam comigo no 7A e mais a terceira que eu tenho até medo de saber como é, somente pela presença do Brendon.

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Debora Costa
Enviado por Debora Costa em 26/01/2015
Código do texto: T5114415
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