Tizôra prêta

Chamêmo-lo tizôra prêta, para usar e lambuzar do circunflexo. E quiçá, entrar em assunto menos complexo. Era uma tesoura de comum tamanho, de negro aço, se não temperado em Toledo, em outro sítio que também dominasse esse segredo. E confinada a uma gaveta, da também mesa preta, residia - e prali voltava, sempre que de lá saía - a tizôra preta.

Vivia a cortar, era o seu obrar, quando não estava a descansar. Tarefas outras, não era de se esquentar.Até que um dia. Chegou à casa outra nova tesoura, que luzia. E por mais nova, o trabalho do corte das telas é que fazia. Com elegância e maestria.

A tesoura preta saída da gaveta, chegou a cortar lata, e até canaleta. Foi pro quintal, pro depósito, fazer parte da família de ferramentas, que era pequena, mas que a acolheu da forma mais amena. A torquês, olho o circunflexo aí outra vez, o martelo, o sovelão, a sovelinha. E a tizôra prêta sentiu-se de novo novinha, afiadinha, uma rainha.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 22/01/2015
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