Mais que uma garota; Cap.2 - Convento...não,internato...menos;Qual a terceira opção?

Cheguei ao “meu” quarto, quarto este que eu dividia com as irmãs ABC,na verdade eram as irmãs: Annabeth,Beatrice e Cristine, o que não fazia muita diferença para mim, afinal são tantas irmãs que lembrar o nome de todas é impossível e torturante,então todas elas tem apelidos mesmo que não saibam, irmã Adelar é a carrasca e as outras suas subordinadas de apelidos diversos.

O quarto estava vazio, todas as camas estavam arrumadas exceto a minha, como sempre; Me joguei em cima da cama de barriga para cima e fiquei pensando que logo não dormiria mais naquele quarto,nesta cama, neste lugar que foi o mais próximo de um lar que pude conhecer e senti uma tola lágrima rolar pela minha face e não a impedi, comecei a sentir um nó se formar na garganta e tentei segurar as lágrimas, foram necessários alguns minutos mas eu consegui.

Puxei uma mala surrada que estava em baixo da cama e abri a comoda ao lado da minha cama, meus pertences eram poucos, umas quatro calças desbotadas, algumas camisas e dois casacos, um eu havia ganho de irmã Adelar, já estava velho e ficando curto e o outro, era de lã cinza e parecia novo, era o casaco a qual eu estava enrolada no dia que fui entregue a porta do orfanato.

Com minhas coisas já prontas, voltei a me jogar na cama com Ferrugem no colo, Ferrugem era meu urso de cor meio acobreada, seu antigo dono se chamava Tommy, ele foi adotado quando tínhamos uns seis anos, como ele era praticamente meu único amigo no orfanato, ele deixou o Ferrugem comigo, hoje há única coisa que me lembro de Tommy são de seus olhos azuis, tão azuis que pareciam brilhar e seus fartos cabelos loiros anelados, a tipica criança boa para se adotar; Já eu aparentemente era e sou muito sem graça para ser merecedora de um lar, meus cabelos são lisos e quase tão acobreados quanto o pelo de Ferrugem, minha pele muito pálida parecendo que não vejo o sol a milênios, eu tinha sardas no rosto e gostava delas, mas as infelizes fizeram o favor de começar a sumir a partir dos meus doze anos e agora, não me resta nada; Eu queria poder dizer que meus olhos são lindos com uma cor linda, mas não, eles tem cor de esterco, isso mesmo coco de cavalo, um verde muito escuro e tão estranho que nem sei se são realmente verdes e por Deus eles são puxados, talvez minha não família tenha asiáticos.

Em algum dado momento eu acordei sentindo cheiro de comida e como comida é vida, tratei de me levantar corri pro banheiro, tomei um banho rápido e ainda de roupão que eu nem sei de quem era, mas foi o primeiro que eu encontrei, desci as escadas em direção ao refeitório, todas as irmãs estavam ali, peguei um prato, me servi de macarrão com queijo e me sentei ao lado das irmãs ABC, ciente do olhar de reprovação que irmã carrasca jogava em cima de mim.

“É verdade que você vai embora amanhã?”

Mal me sentei e Beatrice já estava com os olhos arregalados esperando a resposta.

“As noticias boas correm rápido e sim eu vou,por favor esperem eu estar longe antes de comemorarem”.

“Não fale assim Helena, quem vê pensa que não gostamos de você.”

Annabeth disse mas não me importei, elas podiam até não me tratar mal, mas eu sabia que não gostavam realmente de mim; Continuei comendo a minha comida e quando terminei , levei o prato para a pia de lavagem da louça, a norma era que cada um lava-se sua própria louça, mas eu sempre despistava, já estava me retirando quando vi irmã carrasca me encarando de braços cruzados, sorri meu melhor sorriso inocente, dei meia volta e lavei a minha bendita louça.

Voltei pro meu quarto e enquanto o tédio me consumia, peguei meu diário que nunca recebia nenhuma noticia importante e escrevi uma única linha, “eu estou com medo Tommy do que o amanhã me reserva”, sim, eu batizei o meu diário com o nome do meu antigo e basicamente único amigo que tive.

De fato eu estava com medo de não me adaptar de sofrer por parte dos meus colegas de internato, de ficarem jogando na minha cara que sou órfão, ou simplesmente me maltratarem por se acharem no direito de o fazerem, caso isso aconteça, não sei o que farei.

O tédio era tanto que adormeci, sonhei que estava encostada em uma parede gritando em total desespero, mas só ouvia gargalhadas e uma voz em seguida disse “ preparar, apontar, fogo” e então eu acordei suando e com a respiração descompassada.

Estava sentada em minha cama ainda tentando recobrar a calma, quando a porta foi aberta irmã C entrou, sem nem reparar que eu não estava bem.

“Que bom que já está acordada, irmã Adelar, mandou você se arrumar e descer com as suas coisas.Agora.”

Fui para o banheiro com uma roupa qualquer,quando saí do mesmo havia uma maçã e uma garrafa de iogurte sobre a minha cama, comi e bebi rapidamente, terminei de me arrumar fazendo um coque mal feito em meus cabelos e fui ao encontro de irmã Adelar com minha surrada mala na mão esquerda e Ferrugem na mão direita.

A encontrei em seus escritório e quase levei um susto,pois pela primeira vez ela não estava com seu tipico traje de freira, mas sim, com um terninho bege, sapatos sociais que combinavam com o terninho e nas mãos um par de luvas de um rosa claro e seus cabelos eram prateados,porém estavam presos em um coque perfeito e elegante sem nenhum fio fora do lugar, na verdade irmã Adelar estava inteiramente elegante.

"Nossa toda essa produção é a alegria de me mandar para longe?"

“Sem brincadeiras Helena e tem certeza que não prefere deixar este urso velho aqui, ou em algum lixo?”

“ Não, eu não quero deixar o Ferrugem em lugar nenhum, a não ser comigo, mas se a senhora quiser pode me largar em um lixo por aí, eu não me importo.”

“Mas quanto audácia, espero que o internato lhe der jeito pois se não ele, só a vida lhe dará.”

“Duvido muito.”

“Isso é o que veremos, mas agora, vamos.”

Sim, isso é o que veremos, foi o que pensei enquanto a seguia em direção ao meu destino.

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Debora Costa
Enviado por Debora Costa em 06/01/2015
Reeditado em 06/01/2015
Código do texto: T5092831
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