Mais que uma garota; Cap.1 - O policial, a carrasca e a órfão que sou eu.

Sinopse:

"É que eu sou problemática, dramática, irritante e chata mesmo. Eu faço tempestade em copo dágua, eu sou esquisita, e quero atenção o tempo todo, eu sou a pessoa mais possessiva desse mundo, eu sou orgulhosa, eu não sou a menina mais linda desse mundo e nem a mais comportada, eu não sou aquela que você vai se encantar, e nem aquela que você vai querer ter amizade quando ver, eu não sou tão meiga assim. E talvez por causa disso eu tenho sido cada vez mais só. Mas sabe, eu tenho caráter e personalidade. Conhece?"

- Desconhecido.

-x-

Em uma pequena sala fedendo a cigarro, encarando um pequeno homem fedendo a cigarro e sabe se lá Deus mais o que.

“O que aconteceu?”

“Você é surdo?, eu já disse que aquele imbecil me agarrou, eu só me defendi.”

“Eu vou perguntar mais uma vez e não quero gracinha, o que realmente aconteceu?”

“Mas, eu já disse... eu desisto, vocês nunca vai acreditar em mim.”

“Estou tentando, mas você não está facilitando as coisas.”

“A questão é a seguinte, ele encostou a mão em mim e eu revidei, simples assim.”

“E porque a carteira dele estava contigo, quando a pegamos?”

“Eu não sei, ele deve te-la colocado em mim.”

“Eu já estou ficando cansado das suas mentiras!”

E pela primeira vez desde que cheguei a delegacia, eu estremeci e pensei em contar a verdade, mas se eu fizer isso, estaria totalmente ferrada, eu sei que não se pode ficar preso por um crime que não foi confessado.

Ele ia dizer mais alguma coisa, quando foi chamado, pelo vidro pude ver irmã Adelar do lado de fora conversando com o policial, ela com seu rosto firme e sério e ele parecendo se acalmar e gesticulando muito,pude ler as palavras “órfão” e “problemática” nos lábios da irmã e sorri debochadamente. Minutos que pareceram eternos se passaram e o policial babaca voltou.

“Está liberada, mas se eu souber que você aprontou mais alguma coisa, nem se Jesus aparecer aqui eu a libero, estamos entendidos?.”

“Sim, senhor.”

“Está zombando de mim?”

“Não senhor,senhor.”

Ele parecia que ia explodir, era engraçado vê-lo ficar todo vermelho, mas antes que pudesse mudar de ideia, sai correndo dali para o corredor encontrando irmã Adelar com sua familiar cara de carrasca.

“Eu posso explicar.”

“Espere chegarmos ao convento e então teremos um conversinha.”

Ela não parecia nada feliz, mas ela nunca parecia feliz mesmo, então acho que estava tudo bem. Eu vivo em um convento desde os nove anos, quando de acordo com o orfanato eu estava de mais e uma criação religiosa poderia me ajudar, dá vontade de rir só de pensar, eu acho que eu piorei; Hoje com catorze anos eu continuo aprontando e sendo castigada, eu sabia que poderia ir para o juizado de menores e que seria bem pior, mas como não tenho idade para ser presa, tá tudo bem, na verdade acho que esse é meu lema, mesmo estando tudo uma bela de uma bosta, eu digo que está tudo bem, talvez eu esteja tentando me enganar.

Andamos por mais ou menos quarenta longos minutos e irmã Adelar continuava carrancuda sem me dirigir a palavra. Eu estava assobiando “The little light of mine”, eu a aprendi no convento, as irmãs estão sempre cantando e eu gosto muito desta música a letra diz para deixar brilhar sua pequena luz todos os dias, é uma letra bem otimista e é bem bizarro eu gostar dela, ao ponto de não conseguir tira-la da minha mente, mas ela é o tipo de música que não dá para esquecer.

Chegamos ao convento, irmã Adelar seguiu para seu escritório e fui atrás pouco me importando com a minha punição, provavelmente ficaria sem jantar, teria que ajudar as freiras,o que eu fazia uma vez ou outra, mas nada que eu já não estivesse acostumada,então sentei-me e esperei;Ela começou a revirar uma das gavetas e pegou algo que eu não conseguia ver direito, mas então ela me estendeu e pude notar que era uma foto, analisei a foto e lá havia o que parecia ser uma escola e modelos com o uniforme que era horrível, era uma especie de terno azul marinho para os garotos e para as garotas a parti de cima era igual,porém na parte de baixo tinha uma saia que ia até o joelho, seguida de uma meia preta que ficava só um pouco abaixo do joelho e nos pés sapatos sociais.

Encarei a foto e tive vontade de rasga-la, mas pelo que parecia meu pior pesadelo iria acontecer. Eu sempre evitei que me colocassem em um colégio com outras crianças e consegui, um pouco de muita rebeldia havia resolvido que eu não sabia viver em um meio social, mas agora pelo que parece eu teria que conviver com o pior, seres alienados e adolescentes.

“Eu não vou.”

“Helena, não estou te oferecendo uma proposta, nós aqui do convento tentamos te criar e lhe dar uma educação adequada, mas você nunca colabora, entrei em contato com uma das entidades que fazem doações ao convento e lhe arrumaram este internato com tudo pago, é o melhor que você poderia ter, você deveria agradecer, as melhores famílias tentam colocar seus filhos neste internato e não conseguem e veja pelo lado bom,você terá um estudo de primeira classe e poderá fazer amigos. Já está tudo arranjado, só falta você ir.”

“E quando eu tenho que ir?.”

“Depois de amanhã, antes tive que arrumar a sua papelada e como não a via a dois dias, não pude estar lhe avisando antes, por Deus eu fui a delegacia te dar por desaparecida, mas vou fingir que foi sua ultima visita a delegacia e que de agora em diante terá uma vida nova. Aqui estão as cópias de seus novos documentos, os originais já se encontram no internato.”

Peguei minha identidade onde constava os meus registros, como pais desconhecidos o que já me alto declarava órfão,o nome que me foi dado no orfanato, só porque fui entregue no mês de abril, triste a falta de criatividade e claro que também constava o nome da minha tutora “April ; Tutora: Adelar Dulce Dews Calbush”. Eu não sabia que reação deveria ter, mas pelo que parecia eu não teria como escapar de irmã Adelar e agora que ela não vai largar mesmo do meu pé.

“Então Helena o que acha de ter uma tutora agora?”

“Tanto faz, só vai ser legal ter alguém pra pagar pelos meus estragos.”

Irmã Adelar pareceu se sentir ofendida, mas não disse nada a respeito.

“Vá arrumar suas coisas Helena, amanhã irá conhecer o internato e depois de amanhã estará seguindo para ele.”

“Tudo bem.”

Sai da sala me sentindo meio zumbi, eu sou agora oficialmente responsabilidade de irmã Adelar, mas aparentemente ela não se importou muito com isso, ela me cria a cinco anos, mas dificilmente sorrir e esta sempre dizendo que eu sou uma má garota, eu sei que não facilito, mas também não posso dizer que ganhei na loteria.

De qualquer forma, não posso descordar de irmã Adelar quando diz que tudo agora será novo para mim, estou até ficando ansiosa pelo o por vir, talvez eu até goste da vida de um internato, se as coisas saírem a minha maneira e se não saírem, eu farei com que fique tudo bem.

\õ/

Debora Costa
Enviado por Debora Costa em 03/01/2015
Código do texto: T5089106
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.