ACEITAÇÃO
Aceitação... Precisamos entender aquilo que somos, o que queremos, mais do que tudo é uma aprovação. Só que quem vai dar essa aprovação? Quando falamos em aceitação etimologicamente falando refiro-me a compreender nossa essência... Se as lagartas viram borboletas por que não podemos passar por essa metamorfose e transformar nossas vidas. Essa é uma história de aceitação.
Meu nome é Daniel, não tem sido fácil ser eu. Desde os 18 anos que não consigo entender meus sentimentos, isso quando revi Adrian um primo distante. Moro no interior há 400 km da capital e quando criança minha mãe prometeu que seu eu sobrevivesse a um grave acidente minha mão seria dada a Yana, outra prima, só que esta mora aqui.
Cresci sabendo que eu e Yana ficaríamos juntos, só que tudo mudou. Comecei namorar com ela aos 15 anos, erámos felizes, até então eu julgava como felicidade - na verdade fui conhecer a verdadeira felicidade mais tarde.
Quando completei 18 anos a data do casamento foi marcada, nossa casa já estava construída, os móveis comprados, tudo com muito esforço dos nossos pais. A data era 25.12, só que três meses antes a chegada de Adrian mexeu comigo. Sempre fomos apegados, ele vinha uma vez por ano, só que nos últimos três isso não vinha acontecendo; ele tinha a mesma idade que eu, estava mais másculo, rosto angelical, sorriso envolvente. Confesso que passei a reparar mais nele e reparava seus olhares para mim.
Um dia, fomos tomar banho de rio, lá levamos algumas bebidas, enchemos a cara e começamos a falar de mulher, nisso ele confessou ser homossexual e roubou-me um beijo. Fiquei sem reação, e sai correndo. No dia seguinte, fingi que nada aconteceu ao encontra-lo na praça. Ficamos ali conversando só que inexplicavelmente o beijo não saia da minha cabeça.
Os dias foram passando e eu começava a não sentir o mesmo de antes por minha pequena estrela, e ela começava a reparar. O fato é que aquele beijo não saia da minha cabeça. Eu queria experimentar novamente, mas o medo consumia-me, tinha medo do que meus pais falariam, do que os pais de Yana falariam, enfim do que a cidade falaria, afinal o assunto homossexualidade nunca foi falado abertamente, os mais velhos dizia que isso não era coisa de homem direito. Chegou um ponto que não consegui mais conter meus sentimentos e arquitetei uma forma de ficar a sós com meu primo.
Falei pra ele que fiquei mexido com aquele beijo, ele me disse que também ficou e que queria outros, só que isso não dependia dele e sim de mim, nisso nossos olhos se encontraram e um beijo aconteceu, foi mágico, esqueci-me do mundo e me entreguei ao sentimento, cada pegada me deixava arfando, as coisas foram esquentando até que não resisti, está ali de corpo e alma, nem imaginava as consequências. As horas passaram e continuamos ali até que vejo alguém bater à porta, me apavoro, não teve escapatória, era Yana que veio me dar um beijo de boa noite e presenciou a cena.
Ela saiu de lá chorando e eu fui atrás dela com a esperança de que não contasse a ninguém. Prometi não mais vê-lo. As semanas se arrastaram, pedi o Adrian para ficar longe, tudo em vão, pois, meu coração não queria esquecê-lo. Ainda assim, consegui ficar com eles algumas vezes escondido, o que não sabia que Yana me seguia todas às vezes.
Então chega o dia 24.12 véspera do casamento, estávamos reunidos para uma despedida de solteiro e lá estava Adrian; bebemos muito, curtimos, dançamos até que todos foram embora restando apenas ele e eu. Minutos depois o vejo com aquele olhar cheio de lágrimas, me pedindo pra eu não casar que ele era meu verdadeiro amor, o que respondi que aquela seria nossa despedida, porque eu não queria arriscar quebrar a promessa da minha mãe; tivemos uma noite torrencial de amor. Então, vejo os primeiros raios de sol chegou o grande dia, ou então os dias de sofrimento. Não sabia ao certo.
Mesmo com o coração apertado me arrumei e fui em direção à igreja, ao chegar lá observo que o Adrian está chorando feito criança, não consegui segurar e fui aos prantos também.
Minha mãe se aproxima e avisa que a noiva chegou, então seu pai vem trazendo-a. Tudo transcorria bem até o padre pergunta se eu aceitava Yana Reis Dourado como minha legitima esposa, minha garganta ficou seca, não parava de olhar para Adrian e meio anestesiado a resposta sai, é um sim.
Então o padre pergunta à Yana se ela me aceita como seu legitimo esposo, de bate e pronto ela pede que Adrian suba ao altar que é ele que eu amo, que eu venho traindo-a todo esse tempo com ele. Todos da cidade entraram em choque, minha mãe foi parar no hospital, perguntei qual era a motivação dela ter feito aquilo na frente de todos. Ela disse que não queria sofrer que todas as vezes que me seguia dormia aos prantos ao saber que eu não a amava. Depois disso ela saiu e foi embora.
Foi um verdadeiro auê na cidade, todos comentavam e falavam mal de mim, senti-me como um pecador que merecia ser apedrejado. Cheguei ao hospital, meu pai não deixou entrar disse que eu era a vergonha da família. Horas depois minha mãe acorda só que em um estado deplorável, por sua religiosidade profanava palavras me excomungando, que não era mais minha mãe.
Fiquei sem ação, não sabia que ia atrás do meu amado ou tentava revidar, fiz o que meu coração mandou, arrumei as malas e chamei-o para irmos morar na capital. Um mês depois recebo a notícia que minha mãe estava em depressão e que meu pai queria se matar. Aquilo foi como um punhal cortando meu ser, mas agora era tarde tinha que aceitar meu ser.
Fiquei 10 anos sem voltar à cidadezinha, hoje vejo que pouca coisa mudou, o assunto ainda é tratado com frieza, meus pais não me aceitam só que estou feliz por estar ao lado do meu amado, quanto à Yana ela casou com Bob e redescobriu o amor, além disso é uma das advogadas mais conceituadas e possui um escritório no interior e dois na capital. Enfim, foi fundamental reconhecer a minha essência e respondendo a questão inicial quem dá a aprovação, somos nós mesmos, precisamos acima de ter de consciência e sermos sujeitos da nossa própria ação.