Por trás da máscara - Prólogo

Eu tentei de todas as formas impedir que meus pais me matriculassem em uma nova escola. Até chorei, mas não adiantou. Então, aqui estou eu, no meu novo colégio. El Dourado. Um nome estranho, eu sei. Mas o que eu posso fazer?

Cheguei no colégio, e fiquei sentada num banco. Peguei um livro e comecei a ler. Até que percebi que a zoada do lugar estava mais perto do que parecia: havia duas meninas sentadas na outra ponta do banco, junto a mim.

Olhei leve e rapidamente para o lado, tentando não parecer curiosa. Eu sabia que ninguém ia querer conversar comigo, uma garota esquisita e quieta até demais. Porém, uma vontade imensa de me arriscar e dizer um "oi" me veio quando consegui distinguir o rosto das duas. Elas perceberam a minha cara olhando para elas e eu bruscamente voltei a me concentrar no livro.

Elas continuaram com a conversa até que o sinal tocou. Eu guardei o livro na mochila e me levantei. Andei até onde seria, mais ou menos, o centro do pátio colegial. Várias filas começaram a se formar e eu me dei conta de que cada uma representava uma turma diferente. Droga! Vou ter que me enfiar no meio da multidão e sair procurando pela fila do nono ano e, para isso, vou ter que puxar assunto com alguém.

Odeio puxar assunto. Sou péssima com amigos. Sou péssima em fazer qualquer tipo de nova relação. Estava passando milhares de coisas no cinema que é a minha mente, quando senti uma cutucada pelas costas. Virei involuntariamente a procura da pessoa que me chamou e reconheci assim que a vi. Era uma das meninas que estava no banco a pouco tempo.

- Oi! - ela falou tão tímida quanto eu. - Está procurando a sua turma?

- Tá tão óbvio assim? - tentei parecer legal, mas como ela não sorriu, desmanchei minha cara patética e continuei. - É, eu tô.

- Qual séria vai cursar?

- Nono. - respondi.

- Oh, vem! É por aqui! - ela me puxou e eu só pude ser arrastada.

Ela me levou a uma das últimas filas. Chegando lá, se posicionou em frente a mim e me deixou atrás dela. Agora foi a minha vez de cutucá-la.

- Ei! - chamei. - Você também vai fazer nono ano?

- Sim, prazer Elizabeth Castro. Me chame de Liz.

- Ah... prazer! Eu sou Aline... Aline Goulart. - gaguejei.

Ela então virou-se para frente e andou até a outra garota, com quem há pouco estava conversando. Puxou-a e a trouxe até mim.

- Van, essa é a Aline. - Liz falou sorrindo. - Lembra dela?

- Ah, claro! A garota esquisita que estava curiando as nossas conversas! Prazer, Vanessa. - ela estendeu a mão que eu, logo depois, apertei.

Sabia que as pessoas daqui não iriam gostar de mim. Sabia que seria assim. No outro colégio era assim!

- Prazer! - falei.

- Então, Aline - Liz começou a tagarelar. -, aqui em El Dourado as regras são um pouquinho rígidas - ela enfatizou o "pouquinho". -, mas tenho certeza que você vai se acostumar logo. Não é nada fora do comum, é só que eles gostam de dar um pouquinho de medo. Então, já que você é novata, é normal que eles te deixem meio sobrecarregada.

Eu não estava entendendo nada do que ela estava querendo dizer. Mas, como se tivesse lido a minha mente, Vanessa tentou me explicar melhor:

- Resumindo: os professores costumam fazer perguntas relacionadas ao assunto para os novatos durante as aulas. Ou seja, é bom você estar preparada. Temos cinco aulas por dia, então daqui até o dia em que terminaremos de ter aula de todos os professores, você terá que responder às perguntas deles.

Não sou nerd, mas também não ignoro os estudos. Basicamente, posso me considerar pronta para responder as perguntas deles. Mas fiquei calada, que é como eu gosto de reagir às relações sociais.

- Acha que tá pronta para encarar? - as duas me perguntaram, quase que como se tivessem ensaiado.

Apenas balancei a cabeça em sinal de afirmação e fomos para a sala. A primeira aula era de Ciências, matéria que costumo me sair bem. As perguntas foram até fáceis e consegui me safar. Ainda assim, era meio constrangedor, já que o professor me perguntava e toda a sala olhava para mim como se eu tivesse cometido um crime. Tivemos o intervalo, onde conversei com as meninas sobre coisas naturais da minha vida. Elas tentaram ser o máximo de convenientes e se saíram muito bem! Eu finalmente entendi como pode ser legal ter amigos. Bom... pelo menos eu acho que elas são minhas amigas.

Depois do intervalo, tivemos duas aulas seguidas de Geografia e por último, Matemática. Na hora da saída, parecia que eu era outra pessoa. Nunca - e eu disse NUNCA - havia me acontecido de criar "amigos", talvez colegas, no primeiro dia de aula. Liz e Vanessa - ela insistia que não queria que eu a chamasse de Van ainda - me fizeram companhia desde os meus primeiros minutos na escola. Mesmo comigo tentando escutar os diálogos delas, mesmo eu parecendo uma intrometida. Elas vieram até mim e logo passaram o dia comigo, fazendo coisas que eu nunca havia experimentado.

Talvez você esteja achando exagero de minha parte. Mas é a verdade. Nunca consegui fazer amigos, nunca me dei bem com as pessoas. Um dos motivos que fizeram meus pais procurarem um novo lugar para eu estudar foi porque me chamavam de "antissocial", me excluíam dos seus grupos e eu acabei me distanciando. Acabei não formando amigos, acabei sozinha e sem ninguém com quem pudesse conversar e me abrir.

Agora eu pude notar o quão legal pode ser ter amigos. O quão importante pode ser ter uma amizade valiosa e preciosa. EU QUERO MUDAR. Quero fazer coisas que nunca fiz e me... LIBERTAR. Sair deste corpo tão sem vida, quero começar a mostrar o meu verdadeiro eu. Sem nenhuma máscara cobrindo a minha face.

Beatriz Nobre
Enviado por Beatriz Nobre em 18/12/2014
Código do texto: T5074069
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