O Ladim
E o Geraldo deu Ladinho, Ladinho deu Ladim, e ficou assim. Era um moço aloirado, de pelo bem cacheado, egresso duma paixão fulminante entre o músico ambulante Geraldo Grilo e uma das casadoiras moçoilas dos Trabucos.
Cresceu com a mãe, cheia de zelos e outros devocionais apelos, em meio a tantos atropelos. O pai aventureiro como soía, raramente via. Feito o gambling man da House of the Rising Sun, a instrumentar a vida alheia é que vivia. A mãe, que costurasse o blue jeans do pimpolho.
Espirituoso, Ladim fazia sorrir e sorria, a falha de dentes, até graça fazia. Sem o talento nato do progenitor, foi o Ladim iniciar os degraus da vida como servente de pedreiro, ofício a que se manteve fiel até ir para o beleléu. Não sem antes, respeitoso que era, tirar o chapéu.
Quando o Mobral chegou na cidade, Ladim tentou recuperar o tempo perdido, nos estudos metido. Numa aula de aritmética, quando o arguiu a mestra sobre um determinado problema de regra três, à sua vez, Ladim não se apertou, e respondeu em sua espontaneidade extrema:
- Professora, por favor, o que eu resolvo são problemas de amor.
Doutra feita, indo pela rua com uma galinha debaixo do braço, topou com o venerável vigário da cidade que, simpático como era com os fiéis de sua freguesia, lançou-lhe a amistosa pergunta:
- E então, Ladim, vai comer uma galinha hoje...
Ao que veio a resposta, na bucha, com a magia de quem na luxúria se luxa:
- Vô não sô padre. Acabei de comê. Vô agora é levá ela pra sortá...