Vida hortelã
Não havia quintal que se prezasse que espaço pra uma hortinha não contasse.
Cantiga antiga de formiga?
E sempre tivemos, onde estivemos, a nossa horta, quando não em bom enredo, ao
menos em arremedo. E que trabalho danado dava, mas a conta das gratificações quase
sempre esse débito superava, mesmo quando a alfacinha, delicadinha, não
vingava.
Preparar os canteiros, espalhar o esterco, `sameá` as sementinhas, regar, capinar,
a terra fofar, proteger, vigilância dar, ah quanto labutar sem parar. Nem à noite,
folga de podia dar, pois então todo o formigueiro se punha a pilhar!
Peripécias a parte, as raminhas sobreviventes traziam a promessa daquela alegria
inenarrável. Do verdor da cabecinha da alface, à escondidinha cenourinha, ou os
espevitados tomatinhos, ah quanta água na boca não provocavam.
E o maior dos zelos era dispensado ao grelos. Nada de apontar com o dedinho -
pois poderiam encroar - mas que gostosinhos ao paladar.