Vida hortelã

Não havia quintal que se prezasse que espaço pra uma hortinha não contasse.

Cantiga antiga de formiga?

E sempre tivemos, onde estivemos, a nossa horta, quando não em bom enredo, ao

menos em arremedo. E que trabalho danado dava, mas a conta das gratificações quase

sempre esse débito superava, mesmo quando a alfacinha, delicadinha, não

vingava.

Preparar os canteiros, espalhar o esterco, `sameá` as sementinhas, regar, capinar,

a terra fofar, proteger, vigilância dar, ah quanto labutar sem parar. Nem à noite,

folga de podia dar, pois então todo o formigueiro se punha a pilhar!

Peripécias a parte, as raminhas sobreviventes traziam a promessa daquela alegria

inenarrável. Do verdor da cabecinha da alface, à escondidinha cenourinha, ou os

espevitados tomatinhos, ah quanta água na boca não provocavam.

E o maior dos zelos era dispensado ao grelos. Nada de apontar com o dedinho -

pois poderiam encroar - mas que gostosinhos ao paladar.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 17/11/2014
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