Brincando de Piques (Pique-Esconde)
Brincar de piques!
Eu havia me esquecido dos tempos em que brincava de piques, nos tempos de eu menino, na fazenda onde nasci e fui criado. Digo na fazenda, pois embora eu tenha vindo ainda menino para a Grande Árvore (cidade de São Paulo)com treze anos de idade, eu não tive tempo para esses folguedos: tinha que trabalhar! Mas, lá onde vivia, para brincar de piques “tirávamos a sorte com par-ou-ímpar", ou por “minha-mãe-mandou-livrar-esse-daqui” e o perdedor (ou carcereiro) dentre todos, tinha que ficar de rosto virado para a parede, ou árvore (local onde seria recebido o “piques”, ou seja, alguém teria que bater com as mãos naquele lugar e gritar ao mesmo tempo -=> PIQUE: o grito e o toque no local do piques, era o salvo-conduto para ficar em liberdade até a outra rodada de piques, onde cada um que batesse o piques já era classificado). Tínhamos que nos esconder nos arredores (não valia escondermos dentro de casa). O carcereiro ficava à uma distância segura do local do piques; caso alguém corresse para bater o piques, ele tinha que agarrar (ou tocar) o jogador antes que ele batesse piques. Quando o carcereiro tinha certeza que o Zezinho ou a Elza estava escondido no canteiro de flores, por exemplo, ele corria até o local e batia três vezes dizendo:
-Acusado Zezinho (ou Elza) no canteiro de flores.
Daí o acusado, com a maior tristeza, saía do seu esconderijo para ficar de castigo até que o último fosse preso pelo carcereiro; ou batesse piques e ficasse livre.
A regra era a seguinte: se o carcereiro não prendesse ninguém e todos batessem piques; ele continuava como carcereiro; ao passo que, se ele prendesse todos, ele era o único que estava livre para o próximo jogo; ao passo que os outros teriam que, de novo, serem sorteados... .
Achei que existe uma interessante relação da brincadeira do piques com a vida de nós adultos, jovens ou velhos: há sempre alguém louco para que nós não possamos ficar livres para o próximo passo da vida. Se não formos espertos o suficiente, para e sem que o carcereiro nos veja, tocarmos no local certo e na hora certa. Muitas são as vezes que não conseguimos, nesses casos, só nos resta esperar talvez uma próxima vida, para que possamos estar felizes e libertos.