A Grande Mancada

Hoje no colégio discuti com o meu melhor amigo. O motivo foi por causa de uma garota que se apresentava de maneira habilmente simpática a fim de nos seduzir. Acho que foi o meu primeiro desarranjo por uma causa sentimental, aquele em que a gente percebe o rosto ruborizado e um friozinho a escorrer, percorrendo a via de ligação entre o peito e o estômago.

Trancafiei-me no quarto. Queria ficar longe de tudo e de todos; um mau humor insuportável corroía meus pensamentos.

De repente, o telefone tocou, insistentemente. Hesitei por uns instantes em atender, até que me decidi, não sem antes selecionar uma série de frases grosseiras no intuito de agredir quem quer que fosse.

Nesses momentos, concluí, o mundo parece conspirar contra a gente e uma espécie de azedume toma conta de nosso íntimo.

Atendi. Era ela!

“É o Kenny?” – perguntou em tom açucarado. “Sou eu sim, Ângela.” – respondi com a voz trêmula e as ideias se batendo em minha cabeça.

“Percebi você meio estranho à saída do colégio, bem como notei uma carranca nas feições do Fred. Aconteceu algo entre vocês dois?” – indagou a responsável pela batucada que sacudia o meu coração.

“Foi apenas uma discussãozinha sobre partida de futebol, coisa de meninos.” Senti meu rosto corar e tive receio que ela descobrisse a minha farsa nada criativa.

“Bem, estou lhe convidando para uma festinha que vou dar aqui em casa, em comemoração ao meu aniversário, no próximo domingo. Gostaria que você convidasse o Fred, já que não disponho do número de seu telefone”.

Agradeci pelo convite e esbravejei de alegria. Ligar para o Fred uma ova! Eu iria sozinho, inventaria uma desculpa qualquer pela sua ausência e curtiria a minha princesa da melhor maneira possível.

Dentro de instantes o telefone vibrou novamente e eu li no visor o número do Fred. Atendi, meio sem vontade.

“Olá, Kennedy! Amanhã vou comemorar o meu aniversário e gostaria que você viesse. Por favor, estenda o convite para a Ângela, pois ela não me forneceu o seu número para contato. Abraço do amigo.” – desligou.

Não fui aos aniversários: eis a punição sofrida por não valorizar a grandeza dos amigos.

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 29/10/2014
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