O Sorriso do Jardineiro

Quando a tarde inicia o belíssimo espetáculo das primeiras estrelas faiscantes, a família deixa o interior da mansão e senta nos bancos rígidos de madeira sobre o vasto gramado. Ela contempla não só os primeiros sinais da noite: aproveita e retém a imagem deslumbrante das flores espalhadas pelo jardim.

O ar vem impregnado de odores deliciosos, a brisa contagia a todos com a variedade de perfumes. A ondulação de cada pétala de flor, o farfalhar de qualquer galho carregado de frutas, domina o espírito daquela gente – flutuante magia faz adormecer a teia dos pensamentos.

Alguns bocejam, outros se espreguiçam, o silêncio é uma prece de agradecimento. Os corações desaceleram, uma paz interior os deixa quietinhos, as janelas da alma capturam tudo ao seu alcance.

No céu noturno as revelações dos astros continuam. A lua cheia exerce a sua realeza, um cortejo de incendiadas luzes piscantes envolve-a qual um vestido de noiva.

Os observadores permanecem admirados com tanta beleza!

A relva verdejante é macia e permite com facilidade a pomposa exibição dos raminhos. A poucos passos, de uma mureta circular em forma de lago jorra a água cristalina de uma fonte. O líquido, ao sair dali gorgolejando, produz o som de uma harpa dedilhada por mãos angelicais.

Seu Osmar, o grande patriarca, abraça a esposa com brandura e, ao passar levemente o olhar em torno dos filhos, professa: “Quanto esplendor à nossa volta, meus amados. Vejam a formosura desses arbustos e sebes aparados, as árvores bem cuidadas, as plantas bem divididas conforme suas espécies, um verdadeiro deleite para os nossos olhos!”

Todos menearam a cabeça em sinal de aprovação e se renderam novamente aos encantamentos tão próximos.

A noite começa a esfriar e os presentes resolvem dar uma última olhadela aos magníficos palcos: o celeste, com os improvisos astrais, e o terreno, com seus aromas e cores provenientes dos elementos florais.

No cantinho do muro ergue-se uma casinhola, com janela e porta únicas. Lá dentro, enquanto se prepara para deitar-se no colchão e envolver-se entre os lençóis, Damásio, o jardineiro, conversa consigo mesmo: “É, meu bom Deus, o Senhor faz sua parte aí em cima, eu cuido da minha aqui em baixo!”

Aí, sorri e dorme com a satisfação plena de quem faz as coisas com amor.

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 10/10/2014
Código do texto: T4993923
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