O Velho Monge
Havia na floresta de árvores com galhos retorcidos um velho monge de modos esquisitos, escondido em seu próprio silêncio, no interior de uma gruta onde reinava a escuridão e em sua entrada se aglomeravam arbustos de toda a espécie.
O local era pouco visitado, dado o ambiente não inspirar segurança e o cenário não estimular a presença de alguém. Era desencorajador. As poucas pessoas que se aventuravam a passar por ali tinham em mente algo muito importante para resolver, coisa impossível de ser adiada.
Animais selvagens não se aproximavam, pareciam temerosos: o tigre mantinha distância, cobras peçonhentas ziguezagueavam em rochedos e solos afastados, cães vadios de espinhaços à mostra, enfurecidos pela falta de presas rosnavam em outras paragens, tudo conspirava para a solidão do velho não ser interrompida.
Ninguém sabe o motivo que levara a tornar-se um anacoreta, ou seja, tenha escolhido viver longe de tudo e de todos, mas era do conhecimento geral que ele não possuía uma índole má, pelo contrário, tinha o olhar brando e a voz serena de quem não alimenta rancor algum.
As lendas tecem enredos sobre entidades misteriosas, que despertam a curiosidade, simplesmente por não se exibirem em público nem deixarem rastros de sua passagem pela vida.
Sabia-se o nome dele: chamava-se Vitório! Era o pouco pertencente ao imaginário popular.
Certa vez uma multidão acorreu à gruta misteriosa. A julgar pelo alvoroço provocado, tratava-se de alguém bastante doente levado às pressas para uma cura milagrosa.
Eis que de repente assoma à entrada da caverna, o velho de cabelos grisalhos e toma nos braços nada menos que a filha do gestor da província e rapidamente se infiltra na escuridão das galerias.
Dias se passaram qual uma eternidade, todos curiosos para saber o estado da menina, os moradores questionavam entre si toda a sorte de possibilidades, até que um oficial montado em um majestoso cavalo branco chegou ao lugarejo trazendo a jovem completamente curada, sob os aplausos e delírios ensurdecedores da população.
O velho monge continua só e enfurnado no seu cantinho. Alguns comentaristas arriscam apostar ser ele um enviado dos céus, pronto para atender quando o conhecimento científico resvala no impossível.