O Menino que Amava a Vida

A intrigante história do menino que amava a vida continua sendo contada nos canteiros das obras, nas praças ao redor dos chafarizes, nas cantinas dos colégios, no intervalo dos jogos esportivos. Perde na fama apenas para a do Mestre, filho de um carpinteiro, crucificado para salvar a humanidade.

O menino que amava a vida vive sentado em todas as porteiras que dão acesso às fazendas, aos sítios arborizados e repletos de pássaros silvestres, plantações de milho ou extensos canaviais, quando é dia; às escuras da noite, passeia montado na cauda dos cometas cruzando o infinito, atravessando nações, polvilhando tudo com o pó mágico da extrema afeição cultivada pelo dom de viver.

Contam que sua compleição é franzina, seus olhos piscam como vaga-lumes e seus cabelos são revoltos, avolumados em novelos, e têm a cor de uma chama incandescente.

Crianças de todos os lugares, de todas as culturas e costumes, adormecem reparadoramente não sem antes escutar as proezas do menino que amava a vida.

Sua história é recontada de geração para geração, os pais escutam enternecidos de seus avós e repassam com o coração em brasa para os filhos e netos, o espetacular relato do menino que amava a vida.

Tribos nômades, peregrinos das terras de ninguém, que vasculham as mais longínquas cavernas e atravessam os piores trechos pantanosos, contam para seus descendentes a inesquecível trama do menino que amava a vida.

Ciganos errantes, travestidos de andarilhos reluzentes, em suas carroças abarrotadas de mistérios e arrastadas por cavalos fantasiados de astros, relinchando a poeira das estradas, sentam-se em torno das fogueiras, em seu breve descanso, e comentam sobre as façanhas do menino que amava a vida.

Saltimbancos, a tropa colorida e esfuziante de malabaristas, contorcionistas, domadores de animais, palhaços, todos que fazem o mundo do circo, representam, no final de cada espetáculo, a comédia cujo tema enfatiza o menino que amava a vida.

O menino que amava a vida renasce todos os dias.

Todos nós contamos um pouquinho de sua existência.

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 07/10/2014
Código do texto: T4990110
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