De bem com a Beleza

Encostado na amurada de pedras do mirante, de onde se descortinava uma linda paisagem marítima, o jovem Elias pensava sobre as dificuldades encontradas em seu dia-a-dia. Tímido por natureza, seu relacionamento com outras pessoas tornava-se mais difícil porque tinha o rosto de faces magras coberto por sardas.

Considerava-se um garoto esperto, bom papo, mas não se sentia à vontade quando conversava com alguma garota, mesmo fosse despretensiosamente.

Os coleguinhas faziam prosas e só Deus sabe o quanto é constrangedor amargurar piadinhas nestas primeiras investidas sentimentais.

O frescor da brisa aliviava a tensão provocada pelos pensamentos e a linha do horizonte pacificava-lhe os ânimos tão abalados ultimamente.

Vislumbrava o marulhar das ondas encrespadas logo abaixo quando viu uma figura singular: sim, era ela sim, a menina do sétimo semestre! Sua maneira de andar, os cabelos revoltos como uma espécie de desleixo, o compasso sutil dos seus pezinhos, eram inconfundíveis.

Fez menção de descer os degraus e ir ao seu encontro, mas algo o reteve, a voz da consciência o paralisou. Como iria abordá-la? Qual seria a reação dela?

Avistou mais adiante o grupinho de garotos intrometidos, que gostava de tirar onda com ele. Sentiu um frio na espinha e por um instante não pensou coisa alguma.

A garota continuava o seu desfile nas areias da praia e, ao avistá-lo no topo do mirante, acenou para ele festivamente.

Elias respondeu agitando os braços e subitamente foi ao seu encontro, o coração a sair-lhe pela boca.

Ao aproximar-se da encantadora menina, viu por cima de seus ombros os indesejáveis garotos vindo em sua direção e receou um pouco sobre o que faria dali em diante.

Num átimo, fitou os olhos de sua pretendida e balbuciou:

“Adoraria dar um mergulho juntamente com você, Flavinha!”

“Puxa, Elias, há quanto tempo esperei por este momento. Vamos, antes que aqueles chatos cheguem mais perto!”

Elias só então compreendeu que a beleza obedece a um conjunto de outros fatores.

Ah, e continuam felizes, para sempre!

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 04/10/2014
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