Os Colecionadores de Conchas

A cada vez que as ondas marinhas varriam as areias, depositavam centenas de conchas para o encantamento de um casal de meninos que as recolhiam em um balde de plástico. Como um ritual, removiam a areia grudada em sua crosta e logo após as depositavam no recipiente.

Adriana ficava maravilhada com tanta diversidade de cores e formas. Julinho quando encontrava uma concha de maior tamanho encostava-a ao ouvido e parecia escutar o barulho do mar escondido ali dentro.

“Dri, o mar tá preso dentro da concha!” – impressionava-se o garoto – “tenho um monte de água só meu”.

A menina conferia repetindo o mesmo gesto e ficava maravilhada com o fenômeno.

“Devíamos guardar todos os nossos desejos dentro das conchas e, assim, sempre os teríamos disponíveis como agora dispomos do barulho das águas”, desejou a menina, mais uma vez deliciando-se da experiência.

A maré banhou manhosamente os pés de ambos e a água fria despertou uma ideia na mente de Julinho:

“Grande sacada, Dri! Meu pai possui uma velha arca guardada no sótão e podemos guardar todas as conchas lá. Delas poderemos ouvir nossas músicas preferidas, ouvir poesias, dicas para as nossas provas escolares e até conselhos quando estivermos indecisos sobre algo”.

“Esplêndido, Ju! Esses serezinhos devem ser monitorados por alguma entidade mágica e ela com certeza atenderá aos nossos pedidos”.

Depois de deixarem o balde quase transbordando, retornaram à casa de Julinho que distanciava alguns metros e seguiram rumo à arca em desuso.

A chegarem, destamparam-na e provocaram a chuva das conchas retinindo no fundo de madeira. E ali guardaram o que eles definiram como “embalagens dos desejos”.

Durante muitos anos as conchas pertenceram ao seu imaginário e, ao sabor dos sonhos, cresceram acalentando a doce fantasia.

A velha arca atualmente esconde o segredo que embala a felicidade matrimonial do casal de colecionadores de conchas.

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 03/10/2014
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