A Banda
A Banda
A praça em seu inigualável remanso foi, de repente, sacudida pela passagem da banda. Mais que o tropel da cavalaria do seu Manoel Moita, a explosão de uma infinidade de instrumentos abalou o sossego dos moradores locais.
Entre apitos e piruetas, assomou o espalhafatoso estandarte, adornado de lantejoulas e pequenos espelhos, vermelhando por entre a multidão que o acompanhava.
As ruas logo tornaram-se afluentes de pessoas curiosas e brincantes, desembocando no mar de adeptos que se formara naquele largo.
Caras pintadas a gosto, vestuário multicor e de imaginação variada davam um aspecto cômico ao cortejo.
A cada estripulia o público delirava, as cabeças ondulavam ao embalo da música estridente.
Gritos, desvarios e “ora vivas” requentavam a folia.
Viam-se a ginga, o rodopio, o molejo de dançarinos como o Zé Vareta e o seu Carmélio; os pulos ensaiados do Dioniso Alma Preta, mostrando as grades do esqueleto através das vestes transparentes.
Ao timbre das baquetas dos tamborins, o rufar intermitente dos taróis e a marcação pesada do surdo, o chacoalhar dos ganzás e afoxés, o estridular de clarinetes, os foliões agitavam-se, apertavam-se, acotovelavam-se na tarde em brasa e festa.
A carroça dos loucos finalizava o desfile - um bando de meninos distribuindo caretas e mugangos – polvilhando de colorau a todos os presentes.
A bulha incessante enveredava por outra rua, percorrendo outros bairros, o "tum-tum-tum" agonizando à distância.
Um vendaval acabara de passar deixando um rastro interminável de serpentinas e papel picado.
As calçadas foram pouco a pouco criando um novo perfil. Agora, cadeiras de balanços e espreguiçadeiras enfeitam o panorama, convidando para a tradicional conversa da boca-da-noite.
O sino da capelinha dos monges , por seu turno, a repicar arengueiro, teimava em desordenar a inspiração dos palestrantes.