A Canção dos Campos

A Canção dos Campos

Uma velha canção cantada nos campos, falava sobre a necessidade de fazer o bem sem olhar a quem, inspirada por cantadores destituídos de qualquer maldade no coração. Viajantes, mercadores, peregrinos de toda a espécie, ao atravessarem a região, ficavam contagiados com os versos que brotavam da alma daqueles trabalhadores braçais, incansáveis na lida diária sob um sol abrasador.

Rancheiros, fazendeiros, proprietários de grandes extensões rurais, escutavam a melodia e simplesmente a ignoravam, pois seus sentidos estavam aptos a captar apenas o tilintar das moedas em seus cofres particulares.

Mas a canção entoada pelos camponeses tomava curso e se estendia pelos prados, campinas, saltava montanhas, infiltrava-se em grotas e cavernas, tornando-se numa saudação comunitária daquela gente simples...

Vovó Matilde contava a lenda da velha canção para a netinha Soraia todos os dias – a pedido da menina -, acrescentando sempre um detalhe, enriquecendo o cenário e as atitudes dos protagonistas da história.

Soraia deixava-se embalar pela maciez da voz da velha senhora, admirava-se da maneira que ela enfatizava o quanto era bom e saudável praticar o bem. Seus olhinhos quase não piscavam, a respiração ficava contida, pois a avó interpretava os relatos com muita leveza e brilhantismo.

“Vovó, porque os fazendeiros não cantavam também a velha canção?” – indagava a garotinha, mais e mais atenta ao enredo e às encenações.

“Minha criança, minha doce criança, temos em nosso convívio pessoas boas que procuram ajudar os menos favorecidos e podem ser comparadas aos camponeses que, por intermédio do canto e das ações, pregavam o bem sem esperar recompensa alguma; outras, representadas pelos fazendeiros ricos e insensíveis às dificuldades do próximo, só cuidam de proteger seus bens, suas propriedades e, quando muito fazem, esperam sempre algo em troca para aumentar suas riquezas.” – explicitou vovó Matilde envolvida em tamanha emoção que duas lágrimas cascatearam em seu rosto.

Soraia sorriu e, num misto de orgulho e admiração, as covinhas do queixo e das bochechas acentuaram-se para a espirituosa avó.

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 22/09/2014
Código do texto: T4971961
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