July

July sempre foi um pouco instável emocionalmente, talvez pouco seja a forma errada de dizer, extremamente... Isso, esta é a palavra correta para descrever.

Lembro-me a primeira vez que a vi, tinha acabado de cair e ralar o joelho, começando a chorar logo em seguida, ela aparentava ter seus cinco anos e eu já com dez, fui até lá e a ajudei a se levantar e se limpar, ela acabou com meu saquinho de balas, mas estava tudo bem, afinal eu consegui por um sorriso no rosto dela.

Depois desse dia sempre havia de vez em quando, mas apenas fazia uma gracinha para vê-la sorrir e continuava a minha vida, mas July também continuava a vida dela e a garotinha de cabelos chocolates e sardas pelo rosto, em algum momento teria que crescer e cresceu.

Quase já não a via, mas sempre que nos víamos, ela parecia um pouco triste e era em vão tentar por um sorriso em seu rosto, ela parecia estar muito distraída para sorrir, parecia nem mesmo se lembrar como o fazer, mas pelo menos se lembrava de mim e fazíamos um breve resumo sobre o que aconteceu desde a ultima vez que nos víamos, era legal conversar com alguém que mesmo não tendo a minha idade estava disposto a ouvir.

Um dia acordei assustado escutando batidas frenéticas em minha porta, ao abri-la July encontrava-se lá parada sem nada a dizer, perguntei se estava tudo bem?, Ela negou com a cabeça e em seguida se jogou em meus braços enquanto saiam compulsivamente lágrimas de seus olhos, ela não precisava dizer mais nada, aquele momento ela precisava de ajuda, precisava de mim.

A arrastei para dentro de casa, o que foi até fácil, pois July era muito magra e pequena para os seus dezesseis anos, aparentava ter menos do que isso, mas já tinha seus traços de mulher, porem n’aquele momento ela me parecia a July de cinco anos novamente, infelizmente desta vez não era um simples joelho ralado que a fazia chorar e balas não resolveriam.

A os poucos ela foi dizendo que a vida estava cada vez mais complicada e que ela não suportaria mais sofrer, que ela não tem motivos para sorrir, que tudo é uma droga e é foda que tudo seja tão complicado, ela simplesmente não suportaria mais e resolveria seu problema de uma vez por todas.

Fiquei preocupado com suas palavras e a aninhei mais em meus braços, ela só fazia chorar e balbuciar palavras quase que sem sentidos, minha blusa já estava ensopada, mas não me importava, a única coisa que me importava no momento é que ela parasse de chorar e me escutasse,

Segurei seu rosto entre minhas mãos e a fiz me encarar comecei a lembra-la quão especial ela era em minha vida que a tinha como uma irmã, uma irmã que eu precisava proteger , cuidar, dar amor e carinho, mas para isso ela precisa me permitir fazer isso.

Ela sorriu de leve e meu coração sorriu junto, mas logo o sorriso morreu sendo substituído por uma careta, perguntei o que foi e ela abaixou a cabeça se afastando de mim, em seguida em uma vós triste e sussurrante ela disse que não queria ser minha irmã, não éramos irmãos e que ela queria ser mais que isso; Antes que pudesse impedi-la ela pulou em meu colo, mantendo cada perna de um lado do meu corpo e tentou me beijar, conseguindo apenas me dar um selinho, mas segurei sua cabeça e tentei explica-la que eu tinha vinte e um e ela dezesseis, eu era maior de idade poderia ir preso por isso, ela começou a gritar que ninguém saberia e mesmo se soubesse a sociedade não tem que se intrometer na vida de ninguém; seus gritos me deixaram desnorteados, mas suas palavram penetraram fundo em minha mente, aos poucos fui soltando-a e ela desta vez calmamente se aproximou e me beijou, eu permiti, eu deixei, eu gostei, ela beijava bem e éramos entrosados.

Talvez não fosse certo e ela só esteja fazendo isso por estar cheia de problemas mas não queria parar para pensar naquele momento, então... Deixei pra outro dia, outra hora, agora era somente eu e July.

Ela não me impedia na verdade ele que praticamente conduzia todo o ato, percebi onde íamos parar, mas só não dava mesmo é para parar, já que era assim, o mínimo que pude fazer foi carrega-la em meu colo para o quarto e ela apenas sorria o tempo inteiro.

Transamos, July era virgem, fui o mais carinhoso possível, não queria machuca-lo e se o fiz ela não me disse. Foi bom pra mim e acredito que para ela também tenha sido. Uma parte de mim até tentou me culpar, por ser mais velho, por praticamente a ter visto crescer, mas a outra sabia que sempre quis isso, ter July pra mim, o carinho maior que sentia por ela, sempre sendo disfarçado por desculpas, sobre idade e irmandade, agora nada mais importava éramos só nós.

No fim, July adormeceu em meus braços e em algum dado momento ela saiu me deixando apenas um bilhete, escrito em uma caligrafia ruim, mas que me deixou com um sorriso no rosto, onde virei pro lado, abraçando e cheirando o travesseiro onde ela havia estado e adormeci novamente.

“Se eu chorar, me anima

Mas se eu sorri é por você e se eu demorar me espera”.

Desde sempre sua, July.

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Qualquer semelhança com a música Mulher – Projota, não é mera coincidência, me vi pensando nessa história enquanto a ouvia, então fui repetindo e escrevendo. Obrigada a quem leu, pois se eu sorrir é por você.

Debora Costa
Enviado por Debora Costa em 13/08/2014
Código do texto: T4921056
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