O LIVRO É O LUGAR DA MEMÓRIA COLETIVA: SUA RELAÇÃO COM O KAIROS E O CRONOS. Eis o relativismo literário.
Toda obra é nosso encontro conosco e aponta uma memória construída em conjunto com os que convivemos. Ela aponta o futuro de possibilidades. Nele perpetua parte de nós e nos dirigimos ao porvir, quando, portanto, tudo mudará provavelmente: mas, não o respeito de quem nos ama e nos quer bem. A obra nos diz e nos perpetua no tempo, embora ele seja corrosivo como Cronos e, incrivelmente, oportunidade de salvação e redenção quando visto como Kairós. No tempo de Deus, nosso tempo é dignificado em Jesus e a obra literária tem seu ápice quanto à interpretação recente de uma história vivida. E ninguém pode escrever melhor do que o autor à medida que se faz intermediador do curso histórico e o intercurso de outras vidas direta ou indiretamente registrada na textura e tessitura das páginas nas vozes bakhtinianas do dialogismo. Nenhuma obra é isolada, mesmo quando for uma única produção literária irrepetível.
A obra pode vir para traduzir um pouco da saberia e bondade do escritor como leitor ativo da cultura e não mero consumidor de cultura...
Como imagem e semelhança de seu autor, a obra o imortaliza e o supera, ela carrega em si as tendências, os defeitos e as potencialidades de seu idealizador. O futuro dirá do mérito da obra e sua valoração. Sabemos que, por exemplo, o racismo deixou rastros na obra de Monteiro Lobato. Contudo, há de se avaliar, sim, cada obra dentro de seu contexto de produção. E o contexto de recepção aquilatará os prós e os contras da obra e a comparará a outras de seu tempo e antes e depois dessa obra ter surgido. Como nós nos tentamos dialogar, as obras dialogam entre si, sutil e explicitamente. Cabe aos críticos literários e outros intelectuais da cultura investigarem o sentido das antologias e suas leituras epocais.
Deste modo, isso posto, coragem, sabedoria, esperança nas realizações de quem publica e contribuição ÉTICA por uma cultura da paz, do amor, do encontro pelas páginas da literatura e sua eticidade... Toda obra, na relação Cronos e Kairós, é mímesis – uma recriação e transcrição do real, não mera repetição da realidade.
Tais ponderações nos ajudam conceber a obra dentro do relativismo literário.