O CORPO E SUA TELEOLOGIA E SUA TEOLOGIA.
J B PEREIRA – 12/07/14.
“Façamos o homem a nossa Imagem e Semelhança.” (Gênesis 1, 26)
"Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea" (Gênesis 2, 18).
“Então disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade. Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo. Esta é a aliança que farei com eles Depois daqueles dias, diz o Senhor.” (Hebreus 10, 9-10.16)
É uma das reflexões à luz do projeto salvador de Deus, em que a antropologia cristã se integra na Teologia. A Teleologia propõe a conversa com Deus sobre nós e nossa destinação última (Escatologia, que para a revelação judaico-cristã é a teleologia cristã).
O termo skatos (do grego antigo εσχατος, "último"), significa adubo, fezes, decomposição... Desse termo, temos a disciplina teológica e filosófica da antropologia e das ciências da religião: a Escatologia como estudo dos últimos e relevantes eventos para a história e a salvação. Nesse sentido, não somos totalmente da Terra: nós nos uniremos, de certo modo, a mãe Terra, que os gregos chamavam de Gaia. Mas nosso Fim último é Deus mesmo! Porque fomos feitos ou “creados por ele do nada”. Nós podemos melhorar a criação com nossa criatividade e intervenção ética e científica como esforço sustentável e direcionado ao bem comum. Mas só Deus CREA. No latim e no português antigo, “Crear”: tirar as coisas do nada! “Creação”: ato de Deus quando ordenou a existência das coisas e ser humano. Na Bíblia nos narra o episódio da criação no Gênesis. Deus nos criou a sua imagem e semelhança. Imagem por nos identificamos com Deus e seu projeto ou reino que nos inclui em cristo, verdadeira imagem visível do Deus invisível. Semelhança porque Cristo, Filho verdadeiro de Deus verdadeiro nos adotou como irmão. Semelhança por que nos aproximamos da verdade a que Deus nos preparou em Cristo. Na Parusia, quando Cristo vier seremos semelhantes a Ele. Somos predestinados a sermos plenos com Deus. Ele nos quer no bem e para a liberdade. Não somos marionetes. Por isso, é que a revelação bíblica nos assegura a integridade do corpo como união entre o natural e o celestial. A melhor síntese dos reinos mineral, vegetal e animal, otimizados à inteligência e aos valores da alma imortal é visto na revelação e na tradição cristã como projeto de Deus para que sejamos unidade e ressurreição. Como então explicar a morte como decomposição sepulcral que destrói o corpo que somos? Mas a morte não destrói nossa ligação ontológica com Deus. A morte não é a última resposta sobre a vida. A vida é muito mais, um plus. O Plus porque é a visão de que Deus nos ver para Ele, para viver em sua morada, para realidades maiores e eternamente realizadoras. Numa palavra, a visão beatífica de Deus em seus eleitos. Para uma felicidade absoluta e agora inexplicável do ponto de vista meramente humano e em linguagem humana. Somos uma pluralidade ou diversidade na Unidade! O pecado (rebeldia ou desequilíbrio interior e nas relações com Deus, com a natureza, com o outro, com nós mesmos) nos desarranjou a unidade Divina ou o querer em nós não segundo o querer de Deus sobre nós. Somos uma unidade complexa a que os gregos denominam corpo (soma) e alma/mente/espírito (psique). Mas os judeus entendem a unidade criada por Javé como sarx (dimensão mortal da carne ou a manifestação do corpo), pneuma (vigor, mente) e espírito (imortalidade da alma). Sobre a teologia do corpo, podemos percorrer sua explanação e continuidade na história da igreja e nas ciências em geral como diálogo cultural e expressão dos seres humanos em sua complexidade. A bíblia nos adianta elementos de uma revelação de Deus sobre a dignidade da pessoa humana e sua corporeidade. O lado poético está na literatura sapiencial com Cantares, de onde a Igreja tem sua base da eclesiologia e da Cristologia. Jesus entra na história como “O verbo se fez carne, se fez corpo e habitou entre nós. João enfatiza a ressurreição do corpo na ressurreição de Jesus e na promessa das moradas reservada por Deus a todos os que nele confiarem. Santo Agostinho e Santo Tomás condicionam sua visão de corpo ao Platonismo e ao Aristotelismo. Scoto assevera a Imaculada Conceição de Maria desde sua concepção virginal. A igreja proclama o dogma da Assunção de Maria em corpo e em alma aos Céus. João Paulo I anuncia que Deus nos ama com amor de Mãe! O papa Santo João Paulo II avança na teologia do corpo com corpus definido em suas encíclicas e cartas apostólicas. Em princípio, recorre ao Gênesis, aos Padres da Igreja, ao Tomismo... A castidade como virtude é integração do ser humano ao projeto de Deus. É uma afirmação saudável do homem como filho de Deus na sua integralidade e beleza de perspectiva na União futura e escatológica do corpo ressuscitado na dimensão de Eternidade e Felicidade trans-histórica. Há de se distinguir sexualidade como condição humana e a genitalidade com abertura da experiência procriativa e prazerosa do homem diante de si e dos outros. A sexualidade tem a ver com a afetividade, a experiência de ser amado e amar. Envolve a personalidade de cada um. É preciso saber viver a sexualidade como lugar da salvação de Deus para nós. Isso é castidade ou pureza como um modo idiossincrático e um sim ao Projeto de Deus a respeito de cada um em seu estado de vida. É uma forma de entrega, doação e dedicação ao Reino de Deus como vida. O amor tem nome e nome de pessoa, segundo o Pe. Rafael (rafadu@sercomtel.com.br) quando aborda a Teologia do Corpo em João Paulo II. Veja no Canal 14, Canção Nova, o Programa Trocando Ideias, toda terça-feira, às 20:30. A sexualidade nos fala do designo de Deus no bem de nós todos e na beleza de como Deus nos pensou e quis para Ele como “Imagem e Semelhança”. Castidade é fidelidade a Deus nos irmãos e o modo como vivemos nossa fé e nossa vida em comunidade.