[Original] Ela me faz - Capítulo 24

Capítulo 24 - A tal da expectativa

Meses depois...

Rafaela Marchiori

Eu me levantei do banco da praça ao ver Iasmin vindo em minha direção e corremos para nos abraçarmos. Não nos víamos fazia 5 meses, desde que pedi para Cazé me deixar trabalhar nos Estados Unidos, numa filial da empresa. Claro que inicialmente ele bateu pé, mas sabia que eu precisava ficar longe do Brasil e de todo o passado que me atormentava. Viver num lugar tão diferente me fez, principalmente a aprender a aceitar a diversidade de opiniões e também a amadurecer. Eu precisava disso. Precisava saber me virar sem a presença de Iasmin, Isabel, dos meus familiares... E dele.

- Amiga, você está tão linda! – Ela falou, mexendo em meu cabelo. Fiz a loucura de clareá-lo mais. E tá quase na mesma cor do que o da Patrícia. – E gente, me conta tudo, como foi viver nos EUA?

Ela levou duas das minhas cinco malas e seguimos para a minha antiga casa. Relatei a ela em detalhes da vida nos Estados Unidos. De como tive que aprender a falar inglês em 2 meses e de dois relacionamentos relâmpagos que tive. Iasmin riu divertida quando contei de um médico espanhol que me presenteou com uma viagem à Disney no meu aniversário.

- Foi divertido, eu juro. Ele era muito louco, mas uma ótima pessoa.

- Eu imagino... – Entramos na velha e tão conhecida rua do bairro. – Isabel deu a luz faz 1 mês.

- Mentira?? – Eu soltei as minhas malas. – É uma menina, não é?

- Sim!!! Monica Longhi Diaz. Ela me mandou as fotos por e-mail... Rafa, ela é tão linda.

- Eu quero ver as fotos quando chegarmos em casa. E me conta, Ias, o que aconteceu por aqui nesse meu tempo longe?

E foi a vez dela de me atualizar sobre tudo o que perdi. Iasmin está namorando com Kayra e o namoro vai muito bem. Elas estão pensando em morar juntas. É claro que eu não vou deixar. Que absurdo, minha melhor amiga quer me abandonar. Acho que o que me resta é comprar uma casa no interior de São Paulo e viver com dez gatos. Ela me contou também que Gabriel finalmente se rendeu ao amor de Nina e eles estão namorando. Olívia e Fernando conseguiram uma bolsa na faculdade e por isso estão morando juntos em um apartamento na zona leste. Ela faz Gastronomia, ele, Direito. Perguntei de Conrado, o que a fez erguer a sobrancelha.

- Apesar do mal que ele me fez, eu quero saber como ele está. – Expliquei, dando de ombros.

- A última vez que eu tive notícias dele foi quando você foi embora... Parece que ele se mudou para outro estado. Raquel foi embora também.

Na época em que foram divulgadas as fotos, a mesma ameaçou denunciar Iasmin para a polícia, mas como eu também tinha uma carta na manga contra ela (o sequestro sofrido na fábrica) as coisas foram deixadas de lado, porém a carreira dela foi interrompida. E eu me libertei da vontade de me vingar.

Quando entramos em casa parei no meio do caminho. Iasmin me olhou, preocupada.

- Está tudo bem? – Quis saber ela, posicionando ao meu lado.

- Sim, só é estranho voltar.

- Eu espero é que você nunca mais me faça a loucura de ir embora. – Murmurou ela, num tom sério, mas depois sorriu com leveza. E eu voltei a me sentir segura. Só quando estávamos colocando minhas coisas no meu quarto de sempre que ela contou sobre o pedido de Isabel.

- Iasmin... Você sabe que eu... Bem. – Tentei falar, mas não consegui. Eu criei um tipo de bloqueio sobre o passado.

- Sim, eu sei. Última vez que conversei com o Lucas ele estava totalmente em outra, talvez finalmente vocês tenham desencanado um do outro. A nossa amiga mora lá e acabou de ser mãe, por favor, Rafa!!

- OK! Eu vou. Partimos quando?

- Amanhã mesmo. - Arregalei meus olhos, assustada. - Ué?

- Mas...?

- Se não formos o quanto antes a Isabel vai nos ligar enlouquecida.

- Ela sabe que eu voltei?

- Não sabe, vamos chegar lá de surpresa.

- Iasmin, você é louca. – Meneei a cabeça, perplexa. Iasmin gargalhou, me abraçando novamente.

- Eu estou tão feliz pela sua volta, você não tem noção.

(...)

A ida para Porto Alegre foi rápida mesmo. Iasmin e eu arrumamos as nossas malas (segundo ela só vamos passar uma semana lá, eu não sei porque, mas acho que ela está mentindo) de madrugada e partimos rumo ao aeroporto de Guarulhos as 6h da manhã. 2 horas e meia depois estávamos pousando em Porto Alegre. Eu não pude deixar de sentir uma náusea horrorosa quando pisei em terra sulista. Sinceramente, eu achei que jamais pisaria aqui de novo. É como se cada canto dessa cidade me lembrasse ao Lucas. E mesmo que eu tenha trabalhado durante 5 meses a ideia de que nossa história acabou, estar aqui é reviver tudo isso.

Iasmin ligou para Isabel pedindo para que alguém fosse nos buscar no aeroporto. Eu rezei mentalmente que ela tivesse o bom senso de não mandar o Lucas. Ela não sabe que eu cheguei, então é capaz que faça isso.

“Ah, vai pedir pro Demétri? OK, estou esperando.”

Eu soltei o ar que eu prendia quando ouvir o nome Demétri. Iasmin me olhou e deu uma risadinha cheia de maldade. Idiota.

Demétri chegou 20 minutos depois num carro azul escuro e esportivo. Ele já era bonito o bastante quando eu o conheci, há anos atrás, agora, além de estar muito mais maduro e com uma barba que o deixa ainda mais gato, continua um verdadeiro homem gentil. Merten é uma mulher de sorte. Ao me fitar dos pés à cabeça, surpreendeu-se. O que me fez pensar se a minha mudança física foi tão grande assim mesmo. Trocamos um abraço rápido. Iasmin e ele fizeram o mesmo e entramos em seu carro. Eu sentei no banco da frente.

No caminho até a casa, Demétri nos contou que também vai ser pai e de como está alegre com isso. Contou também de como o dinheiro da época que participava da banda o ajudou a ter uma vida instável e expandir seus negócios. O gaúcho hoje é dono de uma rede de lojas de materiais esportivos do Grêmio e ainda mantem a sociedade com Lennon e Emerson. Não passou despercebido por mim que ele fez o maior esforço para não falar de Lucas. O que me fez pensar que com certeza eu vou encontra-lo com alguma namorada ou noiva e não me restará nada além de aceitar. É um direito dele, não?

O carro estacionou em frente à casa de Lennon que já não era a mesma que conheci quando vim pro Sul pela primeira vez. A reforma foi geral. E eu fiquei feliz em saber que Isabel vivia bem, num lugar bom e tinha realizado seu maior desejo: ter sua própria família.

Demétri nos ajudou a descer com as malas e nós entramos na casa. Iasmin, ansiosa como uma criança de 10 anos quicava de alegria. Ao abrirmos a porta que dava acesso a sala, encontramos Isabel sentada no sofá, amamentando a pequena Monica. Seu olhar encontrou o meu e o de Iasmin e ela abriu a boca, surpresa e se levantou com a ajuda de Demétri.

- Bah, mas eu não estou acreditando nisso!! – Ela ajeitou a bebê no colo e me abraçou de lado. Sinceramente, Isabel deu a luz não faz muito tempo e já parece melhor que muita mãe que eu vejo por ai. – Rafaela, tu tá linda minha amiga.

- Ah, olha quem está falando!! Eu espero ter essa sua sorte de ter um filho e ficar com esse corpo maravilhoso.

Ela riu suavemente e abraçou Iasmin, que pediu para segurar a neném. Nos sentamos no sofá e Bel passou a Monica pro colo dela. Era uma menina linda. Os olhos claros do pai, com o cabelo escuro e liso da mãe e o olhar de ambos. O narizinho aristocrático e meio metido era do Lennon. Os lábios de Isabel. Um pedacinho deles dois. Senti uma vontadezinha boba de chorar com toda aquela situação.

Bel pediu para Demétri tirar com o celular dela uma foto de nós com a Monica no colo. Ele prontamente fez e nos mostrou. Nem parecíamos aquele trio de adolescentes malucas que éramos.

- Vou coloca-la no berço para podemos conversar um pouco. – Murmurou ela, pegando a neném do colo de Iasmin e levando-a até o andar de cima, onde deveria ser o quarto dela.

Demétri se despediu de nós dizendo que voltaria mais tarde para nos buscar para ir até a casa dele para um churrasco. Eu não consigo me imaginar num churrasco com a arrogante Bruna Merten, mas aceitei. É impossível dizer não a um homem com o sorriso como o dele.

Isabel voltou e nós três fomos para a cozinha. Ela nos contou de tudo. De como estava feliz e realizada por ser mãe. Do quanto Lennon (ele está trabalhando em Pelotas, por isso não está presente) tem sido um homem maravilhoso e do amor maior que ela sente toda vez que olha no rosto da Monica. Teve uma hora que ela me olhou por um tempo, como se quisesse dizer alguma coisa. Era de Lucas, claro. Todo mundo tem agido como se falar dele fosse dar início a uma guerra mundial comigo.

- O que foi, Isabel? – Eu perguntei, num tom descontraído. – Você quer me falar do Lucas, não é?

- Sim, eu quero.

- Pode falar.

- O piá tá morando em um apartamento no centro de Porto Alegre.

- Sozinho? – Foi Iasmin que perguntou, sem se conter. Isabel assentiu.

– Eu quero vê-lo.

- Agora ele deve tá na faculdade, mas a noite talvez ele aparece por aqui... Tudo bem pra ti, Rafa?

- Tranquilo. – Menti. E como vocês sabem, sempre fui uma péssima mentirosa.

Durante a tarde Iasmin e eu fomos andar pelo bairro. É claro que eu sabia que podia ter o desprazer de encontrar com Lucas, mas tentei não pensar nisso e não dar nenhuma crise também. Compramos algumas roupas de bebê para presentearmos a Monica.

- Quem será que vai ser a madrinha dela? – Perguntou Iasmin, depois de sairmos cheias de sacola.

- Provavelmente uma de nós duas?

- É verdade. Se for eu você não vai ficar chateada? – Me provocou a baixinha. Eu revirei os olhos, mas ri.

- Sem problemas, Iasmin. Mas talvez você tenha que lidar com o fato de que ela amara muito mais a tia Rafa.

- Ai amiga, como você sonha!

E voltamos para a casa de Isabel criando teorias malucas de quem seria a madrinha. Brincadeiras à parte, eu ficaria feliz se Iasmin fosse a escolhida. Quem na verdade ganharia com isso é a Monica, pois teria duas madrinhas.

- Bah, meninas! Não precisava!! – Isabel disse, com os olhos cheios de lágrimas ao nos ver entrar cheia de sacolas. – Mentira, precisava sim.

- Ô mulher boba. – Eu brinquei, deixando as sacolas em cima da mesinha no centro da sala. – E o seu marido?

- Ele ligou faz pouco tempo, perguntou se eu e Monica estamos bem e se iriamos ao churrasco da Merten, pois qualquer coisa iria direto de Pelotas pra lá.

- E você vai? – Iasmin perguntou.

- Nós vamos, gurias. Nós vamos.

Meu estomago revirou quando notei que a expectativa em ver Lucas começava a nascer em mim. Eu sabia que vir a Porto Alegre desmoronaria toda a barreira que me separava dele. E isso me assustava.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 05/07/2014
Reeditado em 02/07/2022
Código do texto: T4870854
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