Óbito do autor
 
9 da manhã
 
Meu pai abriu sua oficina mecânica.  Eu e meus irmãos ficamos brincando perto da pequena mata que fica atrás do campinho de futebol, enquanto ele trabalhava.  Nossa aventura foi usar uma filmadora velha que pareceu lá em casa para filmar os bichos que a gente encontrava.  Pardais, gralhas, galinhas e seus pintinhos e pequenas formigas e marimbondos, pois a filmadora tinha até zoom.  Aí fizemos um plano: entrar de trator no meio da matinha, que ainda era virgem e cheia de arbustos e cipós, para encontrar animais diferentes, quem sabe mais selvagens, e fazer um filme de verdade.
 
Começo da tarde
 
Meu pai saiu para comprar umas peças e nós aproveitamos e partimos para o nosso plano.  Pegamos o velho trator que era usado para guinchar os carros e rompemos rumo ao inexplorado meio da matinha.  Íamos quebrando galhos, atropelando pequenas árvores e caindo em buracos, sempre seguindo em frente, com a filmadora pronta para encontrar quem sabe uma grande onça – pintada é claro –, um tamanduá bandeira ou cavernas cheias de morcegos. Poderia até acontecer de encontrarmos alguns ursos – hibernando, é claro – ou uma  luta de rinocerontes...
 
Final da tarde
 
Logo de cara filmamos os crocodilos. Depois foram as girafas comendo folhas de árvores altíssimas e uma manada de zebras pastando ao pôr do sol. Finalmente encontramos os leões. Eles estavam famintos, partiram para cima da gente e nos comeram, sem dó.
 
Você está lendo o diário de um morto.