Primeiro encontro, 15 anos

     O quarto estava na penumbra, e ele, deitado de barriga para cima, observava em silêncio um inseto que ladeava o lustre colorido. Sabia que ela podia estar esperando. Sabia que estava atrasado, que precisava ir depressa, mas continuava devagar. Muito devagar. Ele tinha certeza de que ela não iria.
Sabe do que mais? Se ele fosse ficaria lá na praça esperando, esperando, esperando...
     Vira pra lá, vira pra cá, vira pra lá, vira pra cá deitado naquela cama que o prendia. Vira de novo, e de novo. Levanta. O relógio marca sete horas.
Caminha em direção à porta do quarto, abre e sai. Atravessa rápido a sala e rompe a porta da rua. Urgente, pois, enfim, está atrasado. Ou não.
     A noite está fria, a praça escura. As luzes nos postes delineiam apenas vultos, e não dá para saber se um daqueles vultos é ela. “Vou atravessar como quem não quer nada, com cara de quem não está nem aí, dou meia volta, vou para casa e pronto”. Sente um toque no ombro. Pára e se volta. Ela veio.