[Original] Ela me faz - Capítulo 19 - Parte 3

Capítulo 19 – O amor também é erva daninha - Parte 3

Acordei com gritos femininos vindos da sala. Demorei a identificar as vozes, já que eu mal tinha acordado. Sentei-me sob a cama e só levantei desesperadamente quando ouvi a voz de Pamela. Desci as escadas com tanta pressa que quase tropecei no último degrau. Iasmin, Rafaela e a maldita Pamela me olharam. Avistei meu celular na mesinha de centro da sala e travei na ponta da escada. Eram dois olhares acusatórios contra um de plena felicidade dirigidos a mim. A sensação de angústia voltou com força total.

A minha sempre tão braba e impulsiva Rafaela avançou contra mim.

Alguma coisa ia acabar naquele momento.

- ENTÃO VOCÊ NÃO TINHA SAÍDO ONTEM, SEU DESGRAÇADO, IMUNDO E INFELIZ!

Eu já tinha brigado com ela nessa mesma sala e sabia o tamanho de sua fúria quando ela perdia o controle. Não foi fácil segurar seus braços, mas quando, depois de certa luta, a pressionei contra a parede, vi que chorava.

- Lucas, olhe o seu celular. – Iasmin pediu, vindo até nós. Eu soltei Rafaela e peguei meu celular. Preferi não olhar na cara da Pamela ou não sei o que faço com esse sorrisinho dela. – Primeiro as mensagens... Depois as fotos.

E eu fiz como Iasmin falou. Meus olhos arregalaram quando vi mais 15 mensagens supostamente trocadas entre eu e Pamela. Havia todo o tipo de obscenidade escrita.

- Tu não tá acreditando nisso, não é Rafaela? – Eu perguntei, a olhando, ela estava de cabeça baixa e chorava alto. – Rafaela, pelo o amor de Deus.

- Bah, amor. As minhas fotos no seu celular não entraram ai à toa, não é? – Ouvi Pamela perguntar enquanto eu olhava as fotos. Várias. De calcinha e sutiã, completamente nua, fazendo pose. Eu estiquei meu braço em sua direção, segurando-a pelo pescoço. – Lucas, tu estás me machuca... Lu...cas!!

Iasmin tentou me puxar, mas eu estava furioso. Apertei meus dedos, desejando que seus ossos quebrassem.

- Tu vai me pagar, sua desgraçada! – Ameacei, murmurando cada palavra bem lentamente. Tirei minhas mãos de seu pescoço e avancei contra Rafaela, mas ela não estava na escada. Corri até o andar de cima e a vi indo em direção do meu quarto. Segurei-a pela blusa, mas ela me deu um tapa. Foi uma guerra de braços e mãos até eu dominá-la.

- Para!! – Ela voltou a me bater com força, me arranhando. – TU VAI ACREDITAR EM QUALQUER UMA QUE TENTAR AFASTAR NÓS DOIS?

- VOCÊ TEM FOTO DELA PELADA NO SEU CELULAR, VOCÊS TROCAM MENSAGENS PELAS MINHAS COSTAS!!

- RAFAELA É MENTIRA! ELA ROUBOU MEU CELULAR!!

- LUCAS, VOCÊ MENTIU PRA MIM DE NOVO!!! DISSE QUE TINHA FICADO O DIA TODO EM CASA, AI ME APARECE ESSA GAROTA COM O SEU CELULAR NA MÃO, DIZENDO QUE VOCÊS PASSARAM A TARDE JUNTOS! EU TE PERGUNTEI ONTEM...

- ACREDITA EM MIM PELO O AMOR DE DEUS, GURIA!

Ela balançou a cabeça em um não. Mais lágrimas escorriam por seu rosto. Os olhos inchados e vermelhos. Eu tive vontade de chorar também. Pamela tinha vencido essa.

- Vai embora, Lucas. Pelo o amor de Deus. – Pediu, a voz baixa banhada numa dor que parecia incapaz de ser sentida. – Some da minha vida, eu te imploro. Eu tentei, juro que tentei. Mas não dá, esse negócio de amor não é pra mim.

- Rafaela, não me pede isso. Lembra do que a gente conversou...

- VAI EMBORA LUCAS! PEGA AS TUAS COISAS E VAI EMBORA DESSA CASA, VOLTA PRO SUL, QUALQUER COISA! – Ela me empurrou e entrou em seu quarto batendo a porta do quarto com muita força.

Escutei passos vindos da escada e torci para que não fosse Pamela. Ela não teria essa ousadia. Ao ver Iasmin vindo em minha direção com os braços abertos eu respirei fundo e tapei o rosto, envergonhado. Foi a minha vez de chorar.

- Eu juro por Deus Iasmin. Eu não trocaria a Rafaela por ninguém...

- Sei que não. Calma...

O abraço de Iasmin lembrou o abraço da minha mãe.

- Faz o que ela te disse. Pelo menos até as coisas se acalmarem.

- Iasmin... – Eu a olhei com a visão meio embaçada. Gentilmente Iasmin limpou meu rosto. Era como uma mãe limpando as lágrimas de um filho que sofreu uma queda e chorou com a dor. Exatamente isso. – Tu acreditas em mim?

- Sim, eu acredito em você. Eu acredito no que vocês sentem um pelo outro.

Enquanto eu arrumava minhas malas, Iasmin ligou para Emerson contando todo o acontecido com Pamela, mas ele já estava a caminho da rodoviária, voltando para o Rio Grande do Sul. É claro que eu não sabia. Eu passei um dia inteiro sem o meu celular. Eu conversei brevemente com ele, que me pediu para manter a cabeça fria que daria um jeito de fazer Pamela voltar pro lugar que nunca devia ter saído.

Desejei uma boa viagem de volta e finalizamos a ligação. Como se soubesse que eu precisava de ajuda Gabriel me ligou em seguida. Contei “por cima” a confusão com Rafaela.

“Brother, tem um quarto aqui em casa. Eu converso com o meu pai, ele vai compreender de boa.”

- Já, já estou por aí.

“Beleza, estou te aguardando”

Desliguei meu celular e abri o aparelho. Tirei o cartão de memória e o joguei no lixo. Iasmin observou a tudo silenciosamente.

- Eu odeio despedidas. – Ela murmurou, depois de algum tempo.

- Eu também, Iasmin. Eu também.

Nos abraçamos novamente. Iasmin me ajudou a descer as malas. Eu passei em frente ao quarto de Rafaela e apoiei a mão sob a porta. Agora eu finalmente tinha entendido o que Lennon e Demétri passaram com Isabel e Bruna.

- Se cuida. Não toma nenhuma atitude idiota... As coisas vão se ajeitar. Depois eu mando as suas outras malas... – Iasmin disse, com as palavras tentando soar o mais positiva possível. E dessa vez não tinha palavra positiva que me fizesse tirar da cabeça a ideia de que Rafaela e eu, por mais amor que tivéssemos um pelo outro, não ficaríamos juntos. – Eu te amo.

- Te amo, Iasmin.

Demoramos algum tempo para nos separarmos de mais um abraço. Quando nos afastamos, Iasmin me deu as costas rápido. Acredito eu que para não vê-la chorando. Respirei fundo e segui lentamente até o fim da rua segurando minhas malas. Olhei a casa pela última vez.

A última vez.

Já na avenida, procurei um táxi com o olhar, ao avistar um carro passando em velocidade média, chamei. Ele estacionou a uma pequena distância.

- Pra onde, rapaz? – Perguntou o taxista, depois que eu entrei. Era um senhor muito magro que me lembrou ao Sr. Madruga.

- Bairro Estados Unidos, há duas quadras da estação do metrô.

- Conheço.

O carro deu partida.

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Notinhas da autora :-)

Capítulo 20 é só um esquenta pro 21, que é o que realmente importa. Talvez a Rafaela narre um capítulo aí, ainda to decidindo.

Até loguinho <3

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 25/06/2014
Reeditado em 28/06/2022
Código do texto: T4857514
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