Produção e reescrita de texto: um caminho complexo que pode ser visto em etapas e em seus fins até chegar ao texto do aluno...
Por muito tempo houve forte tendência de penalizar e excluir o texto do aluno a partir de uma correção rigorosamente gramatical. Uma tentativa de higienizar o texto dele como se fosse possível desconsiderar o processo de sua maturação para agenciar seu texto e não como um produto pronto. A hermenêutica educativa, a psicolinguística, psicopedagogia, a linguística textual, a análise do discurso, a pragmática contemporânea nos descortinam novas forma de olhar e enxergar o texto do aluno como "lugar inacabado e possível de ajustes e abertura de novas interferências.
A partir do texto, "Reescrevendo o texto: a higienização da escrita", de Conceição Aparecida de Jesus, mestre pela IEL, UNICAMP, cap. IV, encontrado em http://www.portaldelivros.com.br/IndicePortal.asp?CodigoLivro=17001&Tipo=1, você pode repensar a prática de considerar a produção de texto. Escrever é uma forma de ver a vida e o mundo. Uma forma de eternizar o lugar do homem na história. A história é considerada como tal a partir da invenção da escrita. Como forma de cidadania crítica é sempre a escrita um processo de etapas como planejar, registro de ideias por frases coesas e coerentes, rever o texto pronto anteriormente e reescrita definitiva do texto.
Há de considerar avaliação diferente em seus graus sociais de encaminhamento posterior como concurso, teste, emprego, entrevista, etc. Deste modo podemos falar em tipos corretivos de textos: resolutivo, indicativo, classificatório e interativo.
É preciso conhecer melhor seu aluno para indicar-lhe a pontuação para o texto dele, colocação pronominal, adjetivação, locuções verbais e outras intervenções no texto dele como paragrafação, titulação, acentuação, sinônimos, substituição de termos, uso de aspas, regência e concordância, uso de letras minúsculas e maiúsculas, dentre outras providências, como evitar ambiguidade, clichês, gírias sem valor contextual, discrepâncias e impropriedade vocabular, contextualizar o texto na cultura do aluno, verificar a coesão e a coerência conforme a proposta do concurso e do vestibular, discutir com ele o erro ortográfico, os efeitos de sentido de uma palavra dentro do texto do aluno,etc.
Há rica bibliografia disponível a partir de Koch, Eglê Franchi, Geraldi, Guedes, C. Jesus, B. Citelli, M. Serafini, E. Ruiz, Ernani Terra, dentre outros teóricos.
A partir dos anos 1970, a linguística textual ganhou espaço com a retomada do interacionismo. O vínculo com o outro é uma das formas da oralidade e da produção textual. Escreve-se com e pelo e para o outro. O texto é um fluir de vozes e está em diálogo com a cultura e em movimento intertextual, gestando outras versões de mundo e do outro.
É preciso nos mergulhar com o texto com seus co-textos e contextos. O aluno se diz no projeto de si de dizer seu mundo... Então corrigir é apontar erros; avaliar é melhorar o texto; corrigir é identificar com olhar crítico e clínico o que não está bem e precisa der modificado ou extraído. Todo texto é uma complexa modulação não mecânica de gêneros em formatação e novos jeitos hibridarão conforme os desafios comunicativos e demandas sociais. Nos anos 1980, Serafim e Ruiz propõe a crítica a mera correção ortogramatical: a higienização perversa de um texto, sem considerar o processo do aluno de construção do texto e seu caráter em formação. Propõe, sim, um comentário após o texto como uma espécie de lembrete e bilhete de pontos positivos e negativos. O educador deve ser o parceiro a aprimorar o texto do aluno com um diálogo pessoal e coletivo, considerando os modos de dizer o texto do aluno e suas limitações e sua linguagem.
A escrita é um trabalho que requer um aquecimento, a visão da bagagem cultural do aluno e da sociedade que atravessa a escola. Geraldi (2006) faz a relação texto-redação, correção-avaliação como produto e processos distintos. Todo texto é construção e projeto. Projetado pelo sujeito, assujeitado pelo sistema, crítico de si e dos outros. Para ser escrito o texto, requer um leitor-escritor em interação com outros leitores-escritores em potenciais e em ato. Os sentidos são aguçados e inquietados por reflexões e propostas, próximas e distantes do aluno e seu universo simbólico-afetivo-cultural. A redação se frustra como mero fingimento, simulacro, reprodução de um externo de si e passivamente de mecanismos e ritualismos desconexos da vida.
Guedes (2009) instiga aos educandos a uma produção mais próxima de seu mundo e eu. Distingue termos como redação como exigência tecnocrata dos bacharéis e negociantes (anos 1950), composição (disciplina expositiva sistemática marcada pela idealização e beleza acadêmica...), ambos próximos do holofote da elite e da gramatica (peças literárias de brilho, que não é do estudante, mas uma postiça visão de mundo, inculcada ideologicamente.).
A tendência atual está na escrita do cotidiano, a reflexão dos gêneros e imagens da mídia, a experiência de vida dos estudantes e seus desafios para ser e estar no mundo fragmentário, global, descartável...
Como motivação à produção de texto e sua interação com a vida e a mídia e incentivo à leitura. veja o artigo Gêneros literários e incentivo à leitura, de Garça Abrantes em Muito Jovem (julho de 2013, p.7, www.mundojovem.com.br)
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Gêneros literários e incentivo à leitura
p. 7
Há muitas possibilidades de uso dos gêneros textuais como forma de mediação e motivação da leitura na sala de aula. Partindo de uma rica diversidade de textos, é possível encantar os alunos e seduzi-los para embarcar na aventura literária.
Graça Abrantes
professora, São João do Rio do Peixe, PB.
abrantes.pb@hotmail.com
Atividade
Palavras para brincar
Objetivo: Oportunizar a experiência de construção de textos em diferentes gêneros literários e textuais.
Desenvolvimento:
Do brincar com as palavras se formaram grandes escritores. Proponha ao grupo atividades lúdicas de construção colaborativa de texto. Em grupos, usando imaginação e fantasia, construir poesias, prosas, contos, roteiros de teatro ou vídeo, notícias, diários etc. Podem ser trocados entre os colegas, para serem encenados e apresentados aos demais.
http://www.mundojovem.com.br/edicoes/438-julho-2013-uma-jornada-pela-fe-da-juventude
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"Reescrevendo o texto: a higienização da escrita", de Conceição Aparecida de Jesus, mestre pela IEL, UNICAMP, que está em
Índice do livro Aprender e ensinar com textos de alunos - vol.01:
Sumário
A circulação dos textos na escola:
um projeto de formação-pesquisa
Ligia Chiappini
Da redação à produção de textos
João Wanderlei Geraldi
I - Escrevendo e falando na sala de aula
Claudinéia B. Azevedo/marlete C. Tardelli
II - sobre o que se escreve na escola
Elisa Duarte Teixeira
III - ensinar a escrever
Maria madalena iwamoto Sercundes
IV - Reescrevendo o texto: a higienização da escrita
Conceição Aparecida de Jesus
V - A escrita na sala de aula: violência e possibilidades
Beatriz Helena marão Citelli
Ivanhoé Robson Marques Bonatelli
Apêndice 1
Listagem das escolas observadas
Apêndice 2
Indicadores
http://www.portaldelivros.com.br/IndicePortal.asp?CodigoLivro=17001&Tipo=1
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A diferença e tipos de textos e gêneros estão em Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz: Gêneros orais e escritos na escola. Campinas. Mercado de Letras, 2004.
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O TRABALHO COM OS DIFERENTES
GÊNEROS TEXTUAIS EM SALA DE AULA:
DIVERSIDADE E PROGRESSÃO ESCOLAR
ANDANDO JUNTAS - UFMG, Mirian Chaves Carneiro/ 2013
"Se trabalharmos com gêneros pertencentes a um único grupo, os alunos com dificuldades de lidar com gêneros deste grupo poderão encarar o ato da escrita como um obstáculo constante, algo difícil de ser superado, desmotivando-os para as outras aprendizagens. Variando os gêneros, daremos oportunidades aos alunos para também mostrarem suas melhores habilidades e, assim, contribuímos para mantê-los motivados a continuar seu processo de apropriação das práticas de linguagem."
Gêneros de todos esses agrupamentos podem circular nas salas de aula, possibilitando que as crianças os reconheçam, compreendam seus usos, suas finalidades, percebam como se organizam, aprendam a usar as estratégias discursivas mais recorrentes.
De acordo com o quadro de direitos de aprendizagem gerais, três esferas discursivas precisam ser priorizadas nos anos iniciais do ensino fundamental:
a literária, a acadêmica/escolar e a esfera midiática. Os gêneros citados nos cinco primeiros agrupamentos revestem-se de especial importância no ciclo de alfabetização.
1) Textos literários ficcionais: São textos voltados para a narrativa de fatos e episódios do mundo imaginário (não real). Entre estes, podemos destacar: contos, lendas, fábulas, crônicas, obras teatrais, novelas e causos.
2) Textos do patrimônio oral, poemas e letras de músicas
Os textos do patrimônio oral, logo que são produzidos têm autoria, mas, depois, sem um registro escrito, tornam-se
anônimos, passando a ser patrimônio das comunidades. São exemplos: as trava-línguas, parlendas, quadrinhas, adivinhas, provérbios. Também fazem parte do segundo agrupamento os poemas e as letras de músicas.
3) Textos com a finalidade de registrar e analisar as ações humanas individuais e coletivas e contribuir para que as
experiências sejam guardadas na memória das pessoas
Tais textos analisam e narram situações vivenciadas pelas sociedades, tais como as biografias, testemunhos orais e escritos, obras historiográficas e noticiários.
4) Textos com a finalidade de construir e fazer circular entre as pessoas o conhecimento escolar/científico. São textos mais expositivos, que socializam informações, por exemplo, as notas de enciclopédia, os verbetes de dicionário, os seminários orais, os textos didáticos, os relatos de experiências científicas e os textos de divulgação científica.
5) Textos com a finalidade de debater temas que suscitam pontos de vista diferentes, buscando o convencimento do outro. Os sujeitos exercitam suas capacidades argumentativas. Cartas de reclamação, cartas de leitores, artigos de opinião, editoriais, debates regrados e reportagens são exemplos de textos com tais finalidades.
6) Textos com a finalidade de divulgar produtos e/ou serviços e promover campanhas educativas no setor da publicidade. Também aqui a persuasão está presente, mas com a finalidade de fazer o outro adquirir produtos e/ou serviços ou mudar determinados comportamentos. São exemplos: cartazes educativos, anúncios publicitários, placas e faixas.
5) Textos com a finalidade de debater temas que suscitam pontos de vista diferentes, buscando o convencimento do outro. Os sujeitos exercitam suas capacidades argumentativas. Cartas de reclamação, cartas de leitores, artigos de opinião, editoriais, debates regrados e reportagens são exemplos de textos com tais finalidades.
6) Textos com a finalidade de divulgar produtos e/ou serviços e promover campanhas educativas no setor da publicidade. Também aqui a persuasão está presente, mas com a finalidade de fazer o outro adquirir produtos e/ou serviços ou mudar determinados comportamentos. São exemplos: cartazes educativos, anúncios publicitários, placas e faixas.
7) Textos com a finalidade de orientar e prescrever formas de realizar atividades diversas ou formas de agir em determinados eventos. Os chamados textos instrucionais, tais como as receitas, os manuais de uso de eletrodomésticos, as instruções de jogos, as instruções de montagem e os regulamentos.
8) Textos com a finalidade de orientar a organização do tempo e do espaço nas atividades individuais e coletivas
necessárias à vida em sociedade. São eles: as agendas, os cronogramas, os calendários, os quadros de horários, as
folhinhas e os mapas.
9) Textos com a finalidade de mediar as ações institucionais. São textos que fazem parte, principalmente, dos espaços de trabalho: os requerimentos, os formulários, os ofícios, os currículos e os avisos
10) Textos epistolares utilizados para as mais diversas finalidades. As cartas pessoais, os bilhetes, os e-mails,
os telegramas medeiam as relações entre as pessoas, em diferentes tipos de situações de interação.
11) Textos não verbais. Os textos que não veiculam a linguagem verbal, escrita, tendo, portanto, foco na linguagem não verbal, tais como as histórias em quadrinhos só com
imagens, as charges, pinturas, esculturas e algumas placas de trânsito compõem tal agrupamento
REFERÊNCIAS
 BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1953.
BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um
interacionismo sócio-discursivo. Trad. Anna Rachel Machado, Péricles Cunha. São Paulo: EDUC, 1999.
DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY, Bernard. Gêneros e progressão em expressão oral e escrita – elementos para a reflexão sobre uma experiência suíça (Francófona). In: DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY, Bernard. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas, São Paulo: Mercado das Letras, 2004, p. 41 a 70.
MENDONÇA, Márcia; LEAL, Telma Ferraz. Progressão escolar e gêneros textuais. In: Santos, Carmi Ferraz e Mendonça, Márcia. (Orgs). Alfabetização e letramento: conceitos e relações. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
SCHNEUWLY, Bernard. Gêneros e tipos de discurso: considerações psicológicas e ontogenéticas. In: DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY, Bernard. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas, São Paulo: Mercado das Letras, 2004, p. 21
GUERRA, Severina Erika Morais Silva. Produção coletiva de carta de reclamação: interação professoras / alunos. Dissertação de Mestrado. Pós-Graduação em Educação da UFPE. Recife: UFPE, 2009.
 MEIRIEU, Philippe. O cotidiano da escola e da sala de aula: o fazer e o compreender. Porto Alegre: Artmed: 2005
http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/files/uploads/palestras_do_pnaic/generos_ano_3_jul_2013.pdf
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"Os sujeitos da linguagem utilizam o texto, que é o resultado da atividade verbal, para alcançar vários fins sociais. De acordo com Koch (1998), desde as origens da Lingüística do Texto, a partir do final dos anos de 1960, até os dias atuais, o texto foi concebido de diversas formas, não apenas conforme a orientação teórica adotada, mas também dependendo de cada autor. De sucessão ou combinação de frases formando uma estrutura acabada (produto), passou a ser abordado no seu próprio processo de construção. Mas o que caracteriza um texto?
Val (1991) concebe a textualidade como o conjunto de características
que faz com o que o texto seja mais do que uma soma de enunciados.
Beaugrande e Dressler (apud Val, 1991) enumeram sete fatores responsáveis
pela textualidade de um discurso: coesão, coerência, intencionalidade,
informatividade, aceitabilidade, situacionalidade e intertextualidade."
Texto que foi citado em ENSINO-APRENDIZAGEM DA ESCRITA: AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DE TEXTO NA SALA DE AULA
Cléa Suzy Batista Bezerra1
Michelle Batista Bezerra2
Lívia Suassuna3
http://www.lematec.net/CDS/TCCV2/CD/artigos/bezerrabezerra.pdf
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Maria Eulália Tomasi. Algumas reflexões a respeito do
ensino de redação. Em: Revista do Mestrado em Letras da UFSM (RS) – Julho/
Dezembro/ 1998, p. 9-14.
BRASIL. Ministério da Educação/Secretaria de Educação Fundamental.
Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa: 1ª a 4ª séries. Brasília:
MEC/SEF, 1997.
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1997.
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1. Aprender e ensinar com textos de alunos (coord. J. W. Geraldi e B. Citelli),
São Paulo: Cortez, 1997, p. 99-117.
GERALDI, J. W. Portos de passagem. 4. ed., São Paulo: Martins Fontes, 1997.
KOCH, Ingedore Villaça. O texto e a construção dos sentidos. 2. ed., São
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Reflexões sobre práticas escolares de produção de texto: o sujeito-autor. Belo
Horizonte: Autêntica, 2005, p. 53-67.
LEAL, Telma; GUIMARÃES, Gilda e SILVA, Leila. Promovendo a diversidade
textual em sala de aula. Em: Anais do I Seminário de Formação Continuada de
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LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E.D.A. Pesquisa em educação: abordagens
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CHIAPPINI, L. (coord. geral). Aprender e ensinar com textos. Vol. 1. Aprender e
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chão da escola: reconstruindo a prática pedagógica no Ensino Fundamental.
Recife: Ed. da UFPE, 2000, p. 75-117.
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VAL, M. G. C. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
http://www.lematec.net/CDS/TCCV2/CD/artigos/bezerrabezerra.pdf