[Original] Ela me faz - Capítulo 12
Capítulo 12 – “A filha de Rafaela e Lucas”
- A culpa é sua! Totalmente sua!
- Shiu, vai assustar o bebê!
Eu andava de um lado pro outro na sala de casa totalmente transtornada. Não acreditando no que me acontecia. Olhei Lucas segurando uma boneca do tamanho de um bebê real e revirei os olhos. Iasmin ria tanto da situação que já perdera o ar.
- A professora castigou vocês da pior forma! – Ela falou, como se isso não fosse óbvio demais.
Graças ao Lucas discutir comigo na sala de aula por conta do meu namoro com Fernando e também por minha pouca incapacidade de não controlar meu gênio, a professora Lara de Literatura nos obrigou a cuidar de uma boneca como se fosse a nossa filha. E o bizarro disso tudo é que ela de fato parece um bebê de verdade. Chora, come, faz xixi, e não gosta de gritaria. Eu falava aos sussurros pois não podíamos assusta-la. E tudo isso, segundo a professora, é para nos unir. Já me disseram que professor de Literatura era maluco, mas não tinha ideia que era tanto assim.
“Um filho une as pessoas, Rafaela. Vocês vão aprender a ser bons amigos” – Ela explicou, quando eu dei um grito contestando sua ordem.
Apenas aceitei porque valeria a nota máxima de dois trabalhos que fiquei devendo.
- Ela não tem pilha? – Eu perguntei, mordendo o lábio. Lucas a apertou em seus braços, protetor. - Seu ridículo!
- Nem pense em matar a sua filha!! A Lara me deu ordens de não deixar vocês tentarem se livrar dela! – Iasmin murmurou, parando de rir. Eu a fuzilei com o olhar. – Amiga, como chamará o bebê?
- Iasmin... – Falei, entredentes. Ela voltou a gargalhar.
- Eu gosto de Sue. – Ouvi Lucas responder, tranquilo. A boneca dormiu. – E não me olhe assim, Rafaela. Isso tá sendo ruim para todos nós.
- Não pra mim, eu estou me divertindo pra...
- CALA A BOCA, IASMIN! – Berrei, me esquecendo da boneca. E não deu outra, um chorinho irritante, algo como “unhé, unhé, unhé” invadiu a sala na mesma hora. Eu dei outro grito e corri para o meu quarto. Algum tempo depois Iasmin entrou limpando as lágrimas que caiam sob seu rosto por chorar de rir.
- Pense pelo lado bom. – Ela disse, sentando na minha cama.
- E qual é?
- “Vocês vão aprender a ser bons amigos!” – Iasmin voltou a gargalhar, mas parou ao ver meu olhar gélido sob ela. – Tá bom, parei de rir.
- Cara, foi muita sacanagem da Lara!
- Vocês estavam incomodando as aulas com as discussões...
- Eu sei, mas me castigar mandando cuidar por três semanas de uma boneca como fosse minha filha?
- É só você não gritar na frente dela que tá tudo certo. – Eu assenti, desgostosa. Nada que eu dissesse mudaria a ordem das coisas. – Lucas me parece ligeiramente feliz com isso, percebeu?
- Percebi que ele é um escroto. Desde que soube do meu namoro tá agindo com piadinha, brincadeira idiota.
- Ciúme.
- Problema é dele!
- Quem não vai gostar disso é a Trentini... – Um sorriso nasceu entre os lábios de Iasmin. – Cara, adoraria ser uma mosquinha para ouvir a conversa deles. – Eu a olhei, distraidamente. – O que foi?
- Fernando me propôs esse namoro como uma forma de mostrar quem tem ciúmes da gente. – Comentei, sem saber bem porque estava falando aquilo. – Eu posso estar enganada, mas acho que ...
- Que...?
- Fernando está começando a gostar de mim de verdade.
- Por que? – Os olhos de Iasmin tornaram-se ansiosos. – E você?
- O que tem eu? – Depois compreendi a pergunta e mordi o lábio, apreensiva. – Eu não sei. Eu gosto dele, Fernando me faz muito bem.
- Isso eu sei. Você não gosta dele né? Não da forma que... – Eu a impedi de completar sua frase.
- Para, nem completa. Sério!
- Rafaela, já pensou que se talvez se você começasse a se abrir em relação ao que sente as coisas seriam diferentes? – Fingi não escutar suas palavras. – Eu sei que você ouviu o que eu disse.
- Ouvi, mas preferia não ter ouvido.
- A verdade dói, não é?
- Muito. – Respondi, pesarosa. A minha resposta a deixou curiosa, mas ela se conteve. – Mais do que você imagina...
Entramos num silêncio que foi interrompido por Lucas. Ele parou a uma distância segura de mim.
- Desculpa interromper a conversa das madames, mas preciso sair e tu tens que cuidar do bebê.
- Pra onde você vai? – Iasmin perguntou, enquanto ele me dava a boneca. Seu olhar encontrou o meu na hora de responde-la.
- Vou na Olívia. Volto mais tarde!
- É bom voltar mesmo. – Retruquei, olhando o bebê. – Vou no Fernando à noite.
Ele me lançou um sorriso cheio de desdém. E como se eu tivesse dito as palavrinhas mágica para seus ouvidos, Lucas não voltou à noite. Quando decidiu dar o ar de sua graça, já era mais de 2h00 da manhã. Eu dormia sofá da sala com o bebê no colo.
- Rafaela. – Ele sussurrou em meu ouvido, fazendo-me acordar na mesma hora. O olhei, sonolenta. – Oi, desculpa não ter vindo mais cedo, Olívia deu uma crise de ciúme por causa de ti.
- Ah, é?
- É sério. – Lucas pôs uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. – Ela disse um monte de coisas, inclusive que não queria tu perto de mim.
- Muito fácil para duas pessoas que dividem a mesma casa.
- Eu não consigo ficar longe de ti, mesmo sabendo que deveria, a nossa convivência é um perigo pra mim.
- Quando você fala assim eu quase me atrevo a confiar em você. – Lucas riu, mas havia um resquício de mágoa no seu riso. – Quase...
- Tu tens uma visão de mim que é assustadora. Pior do que quando eu era adolescente.
- Acho que sim. E isso é um problema.
- É, eu sei.
Sentamos lado a lado no sofá. Lucas deitou a cabeça em meu ombro e segurou a mão plastificada da boneca.
- Eu tento te esquecer toda vez que estou com a Olívia – Ele começou a dizer, de forma suave, tranquila. – Mas não consigo. Sei que você também sente alguma coisa por mim. - Eu continuei em silêncio, mas ainda o fitava. – E é forte o suficiente pra ti se estremecer quando estou por perto.
- Você acha que daríamos certo juntos? Seja honesto.
- Sim. Claro que brigaríamos muito, mas se tu for avaliar, já brigamos sem sermos um casal, então... – Ele deixou a distância entre nós cada vez menor. – Eu queria saber o que te fiz.
- No fundo você sabe.
- Bah, se eu soubesse já teria resolvido e feito de tu minha guria.
Respirei fundo controlando o desejo de beija-lo. Lucas sorriu de uma maneira um tanto desoladora, quase ameaçando chorar.
- Um dia tu vai me contar o que eu fiz, não é?
- Quem sabe?
- Por mais que as vezes eu te deteste, a vontade de ficar com contigo supera tudo isso.
Lucas beijou minha testa e se afastou, um grito desesperado se formou em minha garganta, mas não consegui solta-lo. E mais uma vez aquilo se formaria em outra crise de choro pelo mesmo motivo de sempre.