[Original] Ela me faz - Capítulo 7 - Parte 3

Capítulo 7 - Parte 3

Iasmin, a metade do porto seguro

- Se você tem um problema comigo, tem que resolver e descontar sua raiva só em mim, Rafaela!

Quando Lucas entrou em meu quarto eu lia um livro sobre a filosofia da vida. Não tenho o menor interesse sobre filosofia mas naquele momento me parecia adequado ler aquilo. Não parei de ler, mas ele arrancou o livro na minha mão e tacou no chão.

- Estou falando contigo, guria! – O olhei bem desdenhosa. – Isabel saiu do Skype e ligou pra Iasmin chorando sem entender o que tu tens pra tê-la tratado tão mal.

- Ela vai sobreviver. – Dei de ombros, mantendo a naturalidade que agora o irritava por completo.

- Tu tá parecendo um cubo de gelo. – Quando se irritava o sotaque de Lucas ficava muito forte. – Para com isso. – O pedido foi suave. Não me afetei.

- Estou parada e querendo ler.

- Não.

- Sim. Saia do meu quarto.

- Me obrigue.

Tive um flash do passado quando nos enfrentamos na casa dele. O arrepio veio em seguida.

- Tudo bem, eu saio.

Me levantei da cama e Lucas me empurrou novamente, agora se jogando por cima de mim. Mesmo meu corpo respondendo ao dele, mantive a mesma expressão compenetrada.

- Prefiro tu berrando que me odeia do que maltratando tuas amigas.

O olhar dele era de dar pena. Praticamente implorando que eu voltasse a ser a garota explosiva de antes.

- Elas vão sobreviver, não fique com essa culpa. – Sorri debochada. Vi Lucas apertar a mandíbula. – Sai de cima de mim.

- Rafaela, alguma hora tu vai ter que reagir e me bater ou dizer qualquer coisa que vai me irritar pra discutirmos.

- Perda de tempo...

- Isso não é perda de tempo.

E ele me beijou. Não consegui evitar e nem resistir. Eu precisava daquele beijo como quem precisava de ar para respirar. As mãos dele adentraram a minha blusa, erguendo-a. Rolamos na cama e dessa vez por cima eu não perdi a chance e dei um tapa leve em seu rosto. Em resposta ele puxou os meus cabelos me forçando a beija-lo. Fitei seu rosto por um tempo e senti um nó na garganta quando as palavras dele soaram em minha cabeça. Ainda sou incapaz de esquece-las. A mágoa me lembrou o quanto as palavras dele estavam equilibradas com o meu sentimento.

“Aquela eu tenho quando quero”

Virei o rosto.

“Se quiser eu até aposto contigo que deixo a Rafaela na minha mão.”

Pulei da cama e sai do quarto, ignorando a voz de Lucas. Passei correndo pelo corredor, quase derrubando Iasmin. Ela me segurou, mas eu tentava desesperadamente esconder o rosto.

- Precisamos conversar.

- Pelo o amor de Deus, Iasmin! Agora não!

- Agora sim! – Percebi que ela tentava olhar meu rosto. – Meu Deus, você está chorando. Eu ia falar com o Lucas mas vamos dar uma volta.

(...)

Por sorte enquanto andávamos na rua a vontade de chorar foi diminuindo até que cessou totalmente. Iasmin como sempre esperou até esse momento em silêncio. Entramos em uma lanchonete e nos sentamos em um lugar mais tranquilo para ninguém nos incomodar.

Ela me olhou, esperando pra que eu começasse a falar. E eu não sabia por onde começar.

- O que tá acontecendo entre você e o Lucas? – Mordi o lábio, tentando responder de uma forma que não me obrigasse a admitir meus sentimentos.

- Não sei como falar. – Admiti.

- Tente. – Pediu, compreensiva.

Comecei então a falar. Inicialmente ela não entendeu, mas percebi que não houve uma grande surpresa quando contei que Lucas e eu já havíamos ficado.

- Você pode dizer o quanto quiser que ele não mudou, Iasmin. Eu não concordo. – Falei, dando de ombros.

Ela balançou a cabeça, concordando.

- Ele tá afastado da gente sim, não dá pra negar... Só que você pegou pesado o chamando de falso.

- Em casa, conosco, ele é uma coisa. No Amália, com aquele monte de imbecil, é outra!

- Rafaela, tem mais coisa atrás disso e você não quer me contar.

- Tem sim, mas eu não posso te contar. – Ela abriu a boca, surpresa. Eu nunca escondi nada de Iasmin. – Ainda não posso te contar...

- Certo. Pra você ter chorado foi realmente algo grave que ele fez, não é?

- Sim, mas vai muito do ponto de vista de cada um sobre coisas graves ou não. – Respondi, sincera. Talvez Iasmin interprete as coisas de outra forma. – Não conte nada pra ele.

- Não contarei, mas você sabe que pra mim está complicado lidar com isso.

- Sei sim, mas não dá pra falar com o Lucas. Não consigo fingir.

- Tudo bem. E Isabel? Como é que vocês ficam? – Suspirei, pesarosa. Não devia ter falado daquela forma com Isabel. – Ela chorou tanto no telefone, Rafa...

- Não sei porque fiz aquilo com a Bel, de verdade. Eu ando muito... Muito... – Tentei completar a minha frase, mas não consegui.

- Muito irritada por estar apaixonada pelo Lucas?

- Cala a boca!

- Estou brincando! – Ela riu. – Tá chegando a festa do Henrique, você vai?

- Não sei, não estou muito animada pra festa... – Ainda mais sabendo que Lucas com certeza participará dessa festa. – Ainda mais que o Conrado estará lá...

- Nossa, ainda bem que você falou dele. Esses dias a Nina me ligou e a gente entrou nesse assunto das fotos, ela o ouviu dizer que vai se vingar de você.

- Ah, é? – Perguntei, divertida. – Eu nem ia à festa, mas agora mudei de ideia.

- Rafaela, para com isso!

- Ainda falta a Raquel. – Murmurei, como se não tivesse ouvido Iasmin. – Com ela a vingança vai ser um pouco mais séria.

- Você nem tá mais me ouvindo mais!

- O que?

- Vamos embora, Rafaela.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 18/05/2014
Reeditado em 26/06/2022
Código do texto: T4811570
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