[Original] Ela me faz - Capítulo 7 - Parte 1
Capítulo 7 - Parte I
Lucas, o famosinho do Amália
Algum tempo depois...
Olhei no calendário e vi que já se passara um mês desde que Lucas chegou em São Paulo. Inicialmente, a ideia me soava uma afronta dele e de Isabel à minha pessoa, depois vi que não, era ainda pior. Dividir o mesmo espaço que ele se tornara algo realmente insuportável. E nem eu imaginei que as coisas chegariam a isso.
Depois da noite da briga com Conrado, Lucas tornou-se o garoto mais famoso e desejado do Amália. Todos os garotos queriam sua amizade e as garotas, seu coração. Agora ele sempre andava ao lado dos mais populares, sempre nas melhores festas. E não o culpei quando vi que toda a fama aos poucos lhe subia a cabeça, tornando-o fútil, arrogante e sarcástico num nível que nem eu conseguia suportar. As únicas que não pareciam ver isso era Iasmin e Olívia.
- Ele só está criando novas amizades. – Explicava Iasmin, sempre tentando achar uma resposta aceitável para tudo.
Olívia, declaradamente apaixonada por ele, jamais o deixou de lado. Era a sua sombra fiel, a melhor amiga, a parceira. Ela queria algo com ele e não sossegaria enquanto não conseguisse. Ri, lembrando do quão tola fui pensando que Lucas havia mudado. Ele só cresceu, mas ainda é o mesmo garoto de sempre.
E na verdade nenhuma dessas coisas comparou-se ao dia em que nossa relação voltou ao estágio frágil demais.
Estávamos no Amália. Passei por seu grupo de amigos quando vi meu nome rolar na conversa. Normalmente Lucas não falava de mim pra eles. Não é novidade pra ninguém que sou uma das poucas garotas que não se derretem por seu charme e indescritível beleza. Não pelo menos em público. Não pelo menos por essa versão bad-boy famoso. Me escondi atrás da pilastra.
“E qual é a tua com a Rafaela?” – Um deles perguntou. Era baixo, atarracado e com um cabelo cortado bem curto.
“Como assim?”
“Alguma coisa rola entre vocês, né? Ela te trata na maior brabeza.”
“Ah, ela é daquele jeito mesmo. É só charme, aquela eu tenho quando quero!”
O que me fez rir de nervoso não fora suas palavras, mas a forma com que falava. Como se eu fosse um brinquedo que ele usava quando bem queria.
“Será mesmo?”
“Estou falando cara. Se quiser eu até aposto contigo que deixo a Rafaela na minha mão.”
"Apostado!!!”
Corri dali em prantos. E me odiei por estar chorando. Não era pra eu estar chorando novamente por ele. E muito menos chorado por ele ter falado de mim pelas costas como se eu fosse um brinquedinho seu.
Encostei-me a parede, caindo aos poucos no chão, completamente sem ar. Os olhos marejados de lágrimas, rapidamente procurei Iasmin com os olhos, mas desisti, pois ela ia querer saber o motivo das lágrimas. E eu não estava preparada para admitir que chorava por ter me apaixonado por um Lucas que não existe mais. Nem eu mesma aceitei que tinha me apaixonado.
Vi que um garoto bonito, alto e de olhar um tanto frio se aproximar. Pele morena, cabelos cheio de cachos. Parecia um ator de filme adolescente. Quando falou, a voz era quente, diferente do olhar.
- Não sei bem o que dizer num momento desses, mas fico desconcertado quando vejo uma garota chorando. - Não respondi. - Tudo bem, talvez eu dê algum conselho desde que você fale. – Ele piscou duas vezes, aturdido. – Você é muda?
- Não sou.
- Ufa. Me sinto aliviado. – O garoto se sentou ao meu lado. – Não sei o que é, mas vai melhorar.
- Eu só queria odiá-lo de verdade. Só.
- Problemas amorosos... Estou cada vez mais convicto de que todas as pessoas tem um problema amoroso. Se não tem problema, não tem graça.
- É.
- O que ele fez?
Eu não era de me abrir com estranhos. As únicas duas pessoas que arrancam palavras de mim são Iasmin e Isabel. Tem a Patrícia, minha irmã, mas ela não conta.
- Mentiu. Mente. Mentirá.
- Entendeu, entendo, entenderei.
Ri alto, mas saiu meio estranho por eu estar chorando a pouco tempo atrás.
- Você é bobo...
- É, eu sei... Mas pelo menos você riu. – Dei um longo suspiro. – Quando eu fico mal por causa de uma garota geralmente saio pra rua e ando sem rumo.
- Morando em São Paulo você não muito longe, não é?
- É... – Ele sorriu. – Não passo do quarteirão, mas só volto pra casa quando estou calmo.
- Quem é a garota?
Ele não respondeu, mas seu olhar fixou no andar debaixo, onde Olívia passava de mãos dadas com Lucas. Respiramos juntos em perfeita sincronia. Parecia muita ironia eu ter conhecido logo esse garoto.
- Ah, já entendi.
- É, mas segundo ela mesma, o Lucas pode lhe fazer muito mais feliz.
- Será?
- Quem é que sabe? Eu a conheço desde o ensino fundamental. E desde lá ela me odeia. Não sei como posso ter me apaixonado por ela.
Invejei sua capacidade de falar em voz altas palavras tão sérias.
- Essas coisas acontecem. – Murmurei, numa compreensão que era mais típica da Iasmin do que minha.
- Estamos há alguns minutos aqui e ainda não sei o seu nome. – Ele falou, me olhando nos olhos.
- Rafaela. E o seu?
- Fernando. Muito prazer, senhorita Rafaela.
- Muito prazer.
Nos levantamos e seguimos juntos pro pátio. Fernando era uma companhia agradável, bom humor e a descontração que eu precisava. No final da aula já tínhamos trocado até telefone. O que me deixou estranhamente animada.
E mais tarde...
- Quem era o gato de cachinhos? – Iasmin perguntou quando chegamos em casa. Lucas não vinha mais embora conosco há muito tempo.
- Se chama Fernando. Paga uma paixão antiga pra Olívia.
- Mentira!!! – Ela riu, adorando a informação. – E porque não deram certo?
- Ela o odeia.
- Odiar aquele gato?
- É. Ele disse pra mim que a Two colours o trata com uma frieza assustadora. E toda vez que a vê com o Lucas, sempre sorridente e brincalhona, estranha.
- Aquela Olívia é bem esquisita.
Jogamos nossas bolsas no sofá e seguimos pra cozinha, famintas. Iasmin sabia que minha relação com Lucas “de repente” mudara bastante e mesmo tendo suas suspeitas, nunca perguntou o motivo. E falando em Iasmin ela andava bastante avoada de uns tempos pra cá. Sempre saindo atrasada pra trabalhar, vivia mexendo no celular, sorridente demais, cantando. Preciso saber o motivo disso.
- Vou tomar banho pra gente assistir Friends. – Ela disse, pegando um pedaço de carne do meu prato. – Me aguarde!
- Tá bom.
Ela mal saiu da cozinha e Lucas apareceu. Eu posso estar de marcação, mas até o andar dele tá diferente. Continuei comendo, fingindo não notar sua presença.
- Eu queria saber o que foi que eu te fiz pra tu não falar mais comigo.
- Fez tudo.
- Ah! Isso muda bastante as coisas. – E riu, desgostoso. – Obrigado.
- Por nada. – Murmurei, seca.
- Rafaela... Desde aquele dia da briga tu anda na maior ignorância comigo. Tenho certeza de que não te fiz nada.
“Se quiser eu até aposto contigo que deixo a Rafaela na minha mão.” – As palavras dele ecoavam em minha cabeça, tornando-o ao meu ver, cada vez mais falso.
- Eu não quero falar contigo, só isso. – Fiquei de pé. Desconfortável com a vontade de chorar que tomava conta de mim. De novo.
- É por causa da Olívia?
- Lucas, me deixa em paz...
- Bah, não deixo tu em paz não! Estávamos come... – Cortei suas palavras batendo a mão com força na mesa. Ele se assustou.
- Você quer saber o que me fez?
- Quero.
- Você mentiu! Você é uma pessoa duas caras, falso, sonso! - E a cada palavra, Lucas ia dando um passo pra trás, recuando. – fez toda uma pose de bom menino “ah, eu to diferente” e depois só bastou uma faminha pra se tornar esse babaca egocêntrico! Eu te odeio!
Escondi o rosto, ficando de costas para ele, que ficou mudo por um tempo.
“Não chora, não chora...”
- Tu está louca, não é possível... Só tu vê isso.
- Claro.
- Rafaela, foi tu que se afastou de mim depois da briga com teu namorado. Eu te defendi e...
- NÃO DEVIA TER ME DEFENDIDO! – Berrei, furiosa entre as lágrimas e o desejo de fazê-lo entender que eu sentia a sua falta ou do que achava que ele era. – EU NÃO PRECISO DE VOCÊ OU DE SEUS FAVORES!
- Rafaela...
- VOCÊ FEZ AQUILO TUDO PRA CONSEGUIR ISSO MESMO, UM MONTE DE VAGABUNDA AOS SEUS PÉS, UM MONTE DE GENTE TE ACHANDO O MÁXIMO PORQUE BAIXOU A BOLA DO CONRADO!
- CHEGA! PARA DE FALAR IDIOTICE E ME OUVE, TU TÁ AÍ FALANDO, FALANDO, APRENDA A OUVIR TAMBÉM!
- EU NÃO QUERO NEM OLHAR NA TUA CARA, QUEM DIRÁ OUVIR AS SUAS MENTIRAS!
- TU SÓ OUVE O QUE QUER, RAFAELA! NA VERDADE ESSA CENA TODA É PRA ESCONDER O SEU EGOISMO! FALA A VERDADE! QUERIAS MESMO É QUE EU PASSASSE A MINHA VIDA TODA IMPLORANDO POR TI. – Ele gesticulava, descontrolado. Não consegui esconder minhas lágrimas. – E EU NÃO VOU FAZER ISSO. NÃO ENQUANTO TU CONTINUAR INSTÁVEL. UM DIA AMA, OUTRO ODEIA. NINGUÉM AGUENTA GURIA COMO TU!
Eu o esbofeteei com tanta força que seu rosto até se virou. Não sei porque fiz isso, mas sei que precisava fazer. Ele não falava mentiras, talvez isso justifique o tapa. Não estou preparada para ouvir isso.
Iasmin estava parada na entrada da cozinha nos olhando perplexa. Eu passei por ela sem olha-la e ainda me sentindo completamente desnorteada. Subi para o meu quarto engolindo todo o meu desejo de chorar.
- Pelo o amor de Deus, o que foi aquilo? – Iasmin entrou no meu quarto cautelosamente. – Rafaela, o Lucas está tremendo de tão nervoso que está com a discussão de vocês.
- Que morra. – Falei, sem pensar no que falava. Ela arregalou os olhos. – Eu preciso dormir.
- E eu preciso saber do que se trata a briga de vocês.
- Você ouviu tudo.
- Não, ouvi você dizendo que o Lucas era mentiroso e ele dizendo que você é egoísta.
- É isso.
- Não, não é isso.
- Eu posso falar disso com você amanhã? – Perguntei, sentindo uma dor de cabeça forte. Ela assentiu a contragosto. – Prometo que amanhã te conto tudo.
- Certo. Fica bem, por favor.
- Vou ficar.