Sapatinhos vermelhos
Aline e Cosete carregavam grandes cestas cheias de verduras na cabeça. Iam sorrindo e conversando pela rua principal da vila. Cosete por ser bem mais jovem e menor que a irmã começou a reclamar do peso da sua cesta. Aline também estava cansada, exausta então resolveram parar por alguns minutos.
Colocaram as cestas no chão e se assentaram no meio fio. Ficaram ali por alguns minutos sobre a sombra de uma frondosa árvore sem dizer nada, apenas sentindo o vento fresco da manhã. Aline fechou os olhos e ficou assim por alguns instantes. Foi nesse momento que a carruagem da princesa passou diante delas.
- Veja Aline, a princesa Isabele.
Aline abriu os olhos e viu a princesa dentro da carruagem que lhe sorriu e acenou com a cabeça. Cosete muito entusiasmada acenou com as duas mãos para a carruagem que continuou seu percurso.
- Nossa! Como ela está linda! Você viu Aline?
Aline sorriu e concordou com a cabeça.
- Era ela sua amiga não era? Me lembro pouco disso...
- Sim Cosete, ela era minha amiga...
- E porque não é mais? Me conta? Eu sempre quis saber disso... Por favor.
Cosete insistiu tanto que Aline a contra gosto resolveu contar a história.
- Ela era nossa vizinha Cosete. Era minha melhor amiga. Tínhamos por volta de quinze anos e você deveria ter uns três.
- Ah! Por isso não me lembro...
- Isabele me contava todos seus segredos e sonhos. E eu dividia os meus com ela.
Aline desviou seu olhar para o chão, com um semblante triste continuou a história.
- Um dia papai me deu um par de sapatos vermelhos. Lindos! Lembro deles até hoje. Ele devia ter trabalhado muito pra ter me dado um presente tão belo.
- Nossa! Onde estão seus sapatos...
- Ah! Como eu amava aqueles sapatos, não pela sua beleza, mas pelo esforço que papai teve para me presentear com eles. Nessa época o rei decretou que o príncipe iria escolher sua noiva. E Isabele sonhava em ser uma princesa...
- É! E ela conseguiu né?
- Eu e ela éramos muito pobres. Eu não tinha as mesmas ambições que ela. Lembro que Isabele passou noites em claro costurando e lavando roupas pra conseguir comprar um vestido pro tal baile. Mas o dinheiro foi insuficiente. Ela veio atrás de mim e me pediu emprestado os meus sapatos vermelhos.
- E você emprestou?
- Sim... Emprestei com a maior boa vontade, ela era minha amiga. Eu queria vê-la feliz... Então emprestei aquilo que eu considerava mais precioso. Isabele sabia o quanto eu a amava e o quanto eu achava valiosos aqueles sapatinhos...
- E o que aconteceu?
- Bom, você deve imaginar... O príncipe se apaixonou por ela... Semanas depois ela saiu de nossa vila com sua mãe foi morar no palácio. E está lá até hoje...
- Ué... Mas ela não era sua amiga? Não veio te buscar também?
- Não.
- Nunca mais te visitou? Você nem passeou pelo palácio?
- Nunca mais falou comigo... Ás vezes durante esses desfiles da realeza me cumprimenta ou como hoje num encontro assim me dá um leve aceno.
- Não entendo isso... Vocês eram tão amigas. E seus sapatos?
- Ela nunca os me devolveu!
Cosete arregalou os olhos e colocando a mão no peito disse furiosa.
- Nem isso ela fez? Mas que ingrata!
Aline vendo a raiva nos olhos da irmã a abraçou e sorriu sem graça.
- Que mulher imprestável Aline! Estou chocada com tamanha ingratidão. Ela sabia do valor que você dava aos sapatos... Ela era sua melhor amiga! Onde foi parar a amizade depois que ela se tornou princesa! Que ingrata!
- A vida é assim irmã...
- Mas ela foi injusta!
- Sim... Mas não me arrependo do bem que eu fiz mesmo tendo me deparado com a ingratidão.
Aline sorriu, se levantou e pegou sua pesada cesta, colocando na cabeça e continuando seu caminho. Cosete fez a mesma coisa mas ia caminhando com lágrimas nos olhos de tanto orgulho da irmã.