EU SOU ‘NEGUINHO’? Análise da música de Caetano Veloso por Maria Cândida Santos e MOURA

Universidade Federal de Ouro Preto

Anais do SIELP. Volume 2, Número 1. Uberlândia: EDUFU, 2012. ISSN 2237-8758

mariacandidamoura@yahoo.com.br

Resumo:

O trabalho intitulado ‘Eu sou neguinho?’ propõe-se a problematizar o modo como a

linguagem, a partir das múltiplas formas e finalidades que assume, é representada em termos

de domínio político-ideológico. Para tanto, lança mão de referências teóricas como Santos

(2006), Derrida (1999) e Bakhtin (1993), para, através do entrecruzamento de suas reflexões,

buscar rever o modo como ciência e racionalidade agem e interferem no campo onto-

epistemológico da linguagem. O título escolhido para esta reflexão remete à atual composição

de Caetano Veloso, intitulada Neguinho, através da qual se pensou poder criar uma

possibilidade de diálogo entre linguagem e as perspectivas de responsabilidade, tanto

bakhtiniana quanto derridiana. O que se pretende, a partir de tais referências teóricas, é

reforçar a importância de que se considere a natureza dinâmica e mutável da linguagem, para,

a partir daí, propor que sejam reflexivamente concebidos problemas provenientes de um

modo fundamentalista de pensá-la. Neste sentido, visa-se evidenciar o jogo de interesses e de

poder do qual a linguagem sofre influência e sobre o qual também a exerce, o que determina

que se busque uma postura cada vez mais reflexiva e politicamente estratégica ao se percorrer

as suas labirínticas veredas, nas quais estão, indubitavelmente, língua e identidade.

Palavras-chave: linguagem; sociedade; ‘responsabilidade’; língua; identidade.

I- Introdução: A inscrição da linguagem no domínio político-ideológico

“Neguinho quer justiça e harmonia para se possível todo

mundo

Mas a neurose de neguinho vem e estraga tudo

Nego abre banco, igreja, sauna, escola

Nego abre os braços e a voz

Talvez seja sua vez:

Neguinho que eu falo é nós

Rei,rei, neguinho rei

Sim, sei: neguinho

Rei, rei, neguinho é rei

Sei não, neguinho”.

(Caetano Veloso)

O que pretendo, neste trabalho, é propor uma reflexão necessária sobre a forma,

digamos, descuidada com que a linguagem é representada em termos de domínio político-

ideológico. Proponho-me a lançar mão de algumas noções sobre as quais se discutiu na

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disciplina de mestrado em Letras da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), intitulada

“Linguagem e Prática Social”, para, em seguida, tentar situar a linguagem e, também, situar-

me em meio às vozes com as quais dialogamos ao longo do nosso percurso reflexivo. Trata-

se, ainda, de tentar explicitar o modo como as discussões travadas nesse percurso

repercutiram, para lembrar Bakhtin (1993), na ‘unidade histórica da minha vida’.

Para tanto, o que julgo necessário é o pretenso delineamento de alguns momentos em

que penso poder estabelecer relações entre os pensamentos de autores como Bell Hooks,

Glória Anzalduá e Kanavillil Rajagopalan, dentre outros, de modo a enriquecer a nossa

reflexão. Deste modo, tentarei trazer à luz instantes em que tais pensamentos, possivelmente,

entrecruzam-se, direcionando-me a questionamentos complexos e necessários como: de que

modo é realmente possível pensar a linguagem? Sob a égide de que concepções e de que

lógica de pensamento devo concebê-la? Ou ainda, com que finalidade apropriamo-nos dela

para este ou aquele fim?

Não se trata aqui de trazer soluções para os problemas que as questões

supramencionadas encerram, mas, sobretudo, de criar, a partir deles, uma urdidura que

contemple, ainda que de forma simples, o que a referida disciplina sugeriu-me acerca do que

acredito ser o estreito e inevitável diálogo estabelecido entre linguagem e sociedade, e de

certa forma, entre teoria e prática, instâncias nada afeitas ao pensamento dualista. Estes

elementos comporão este artigo e nortearão, sob graus distintos de importância, os caminhos

reflexivos pelos quais almejo enveredar, ainda que certa das respostas buscadas estarem além

do conteúdo com que possa preencher a “brancura sanitária” dessas folhas.

O nosso ponto de partida remonta a uma discussão primeira proposta pela disciplina à

qual me referi. Ela diz respeito ao modo como a lógica de pensamento binária, ancorada no

racionalismo cartesiano, no empirismo baconiano e, por fim, no positivismo oitocentista é

insuficiente à reflexão de certos objetos próprios ao domínio das ciências humanas. Neste

sentido, julgo tanto pertinente quanto necessária uma breve explanação a respeito do modo

como a concepção de ciência moderna atravessa os domínios da linguagem, por sua vez,

atrelada e, porque não dizer, refém da “confiança epistemológica” que define o paradigma

científico dominante.

Santos (2006) afirma que para este paradigma apenas um tipo de conhecimento pode

ser verdadeiro, o empírico-racional. Seus princípios epistemológicos renegam tudo o que

possa fugir ao seu domínio, dado que nos auxilia na compreensão do que caracteriza o

preterimento da ciência pelos contextos individuais, por tudo aquilo que foge ao campo da

cognição teórica ou ainda por certa resistência em aceitar que as ciências sociais necessitam

de um método próprio e distinto daquele que define o das ciências naturais.

A sobrepujança da razão, no referido contexto, excluiu tudo o que não pôde ser

racionalmente explicado do território da ciência. No entanto, o aprofundamento do

conhecimento científico e o avanço das teorias que o fundamentam expuseram “a fragilidade

dos pilares em que se funda” (SANTOS, 2006, p.41) o paradigma científico moderno, assim

como a lógica dicotômica resultante de seus princípios, revisitados e revisados, au fur et à

mésure por esse mesmo processo de aprofundamento. As inovações teóricas e o desejo de

muitos cientistas de problematizar o próprio fazer científico são aspectos relevantes ao esboço

de um novo fazer científico. Em seu bojo, a “análise das condições sociais, dos contextos

culturais e dos modelos organizacionais da investigação científica, antes acantonada no

campo separado e estanque da sociologia da ciência, passou a ocupar papel de relevo na

reflexão epistemológica” (SANTOS, 2006, p.50). Sobre o que acredita serem possíveis

resultados desta reflexão este autor afirma:

chegamos a finais do século XX possuídos pelo desejo quase desesperado

de complementarmos o conhecimento das coisas com o conhecimento do

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conhecimento das coisas, isto é, com o conhecimentos de nós próprios (...).

Eu falarei, por agora, do paradigma de um conhecimento prudente para uma

vida decente. Com esta designação quero significar que a natureza da

revolução científica que atravessamos é estruturalmente diferente da que

ocorreu no século XVI. Sendo uma revolução científica que ocorre numa

sociedade ela própria revolucionada pela ciência, o paradigma a emergir

dela não pode ser apenas um paradigma científico (o paradigma de um

conhecimento prudente) tem de ser também um paradigma social (o

paradigma de uma vida decente) (SANTOS, 2006, p.50 e p.61).

A linguagem, obviamente, não escapa às reformulações que caracterizam esse

momento de reflexão acerca do fazer científico. O modo como entendo que ela deva ser

entendida distancia-se do dualismo do pensamento metafísico ocidental e da herança do

cartesianismo, ainda muito presente no seu campo de estudo, para o qual esta é definida como

expressão de um pensamento. Pensá-la deste modo é desconsiderar tudo o que em sua

natureza é dinâmico, interacional, subjetivo, cultural e socialmente apreendido.

Para Burke e Porter (1993) a linguagem e os sistemas de comunicação desenvolvidos a

partir dela são responsáveis pela estruturação do nosso pensamento, pela transmissão de

informações e pela consolidação dos contatos interpessoais, sem os quais a vida em sociedade

tornar-se-ia inviável. Dar-se conta disso é considerar também a relação de intimidade e de

indissociabilidade que caracteriza o diálogo travado entre linguagem e vida. Como ignorar o

fato de a linguagem conter, ao mesmo tempo, uma base individual, ligada à autoconsciência e

à subjetividade, e uma base social dialeticamente relacionada a esta primeira? Refiro-me ao

diálogo entre essas duas dimensões, pois acredito que a relação dos sujeitos com a linguagem

não ocorre de modo fortuito ou ditado por razões puramente subjetivas.

Creio que ela se dê sob a égide de um jogo de interesses, de poder e de desigualdade,

instituídos pelo desejo que cada indivíduo tem de se afirmar perante o outro, sempre diferente

de si. Isso diz respeito ao fato de numa relação de alteridade haver sempre um desejo de

reconhecimento do outro, assim como de estar em um lugar de poder de onde, de uma forma

ou de outra, disponha desse reconhecimento.

Neste sentido, estou de acordo com Foucault (2009) quando aponta para o fato de que

a linguagem, apreendida em sua dimensão discursiva, tanto interdita quanto exclui. Isto, por

sua vez, determina que a maneira como cada indivíduo coloca-se, no momento em que está

sobre posse dela, também pode vir a limitar o seu poder de agência. Creio ser disso que o

autor está a tratar quando diz:

Sabe-se bem que não se tem o direito de dizer tudo, que não se pode falar de

tudo em qualquer circunstância, que qualquer um, enfim, não pode falar de

qualquer coisa. Tabu do objeto, ritual da circunstância, direito privilegiado

ou exclusivo do sujeito que fala: temos aí o jogo de três tipos de interdições

que se cruzam, se reforçam ou se compensam, formando uma grade

complexa que não cessa de se modificar. Notaria apenas que, em nossos

dias, as regiões onde a grade é mais cerrada, onde os buracos negros se

multiplicam, são as regiões da sexualidade e da política: como se o discurso,

longe de ser esse elemento transparente ou neutro no qual a sexualidade se

desarma e onde a política se pacifica, fosse um dos lugares onde elas se

exercem, de modo privilegiado, alguns de seus mais temíveis poderes. Por

mais que o discurso seja aparentemente bem pouca coisa, as interdições que

o atingem revelam logo, rapidamente, sua ligação com o desejo e com o

poder. Nisto não há nada de espantoso, visto que o discurso ─ como a

psicanálise nos mostrou ─ não é simplesmente aquilo que manifesta (ou

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oculta) o desejo; é, também, aquilo que é o objeto do desejo; e visto que ─

isto a história não cessa de nos ensinar ─ o discurso não é simplesmente

aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo porque,

pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar (FOUCAULT,

2009, p.9-10).

A meu ver, por conter sua dimensão discursiva, a linguagem não está livre do desejo

de apoderamento a que Foucault (2009) se refere logo acima, tampouco das estruturas de

poder vigentes em um grupo ou em uma sociedade, qualquer que sejam estes. Porque esse

desejo perpassa tanto o universo da linguagem quanto das relações sociais, precisamos

repensar e estar atentos ao modo como cada sujeito lança mão dela para consubstanciar os

seus pensamentos e, por assim dizer, conferir materialidade aos seus próprios desejos. Deste

modo, creio que a proposta derridiana de responsabilidade, pautada na idéia de “abrir o olho

para saber, fechar o olho ou pelo menos escutar para saber aprender e aprender a saber”

(DERRIDA, 1999, p.127) constitua uma estratégia exeqüível de resistência às intromissões e

violações da linguagem, ligadas por sua vez, à forma como ela interdita os sujeitos e ao modo

como agem sobre ela, segundo expõe Hooks (2008).

Esta autora incita-nos à reflexão acerca do fato de que a linguagem tende a ultrapassar

as fronteiras dos espaços nos quais tentamos inscrevê-la. Em virtude de sofrer ‘interferências

externas’, segundo observa Rajagopalan (2009), age “contra a nossa vontade em palavras e

pensamentos que se intrometem, [e] violam os mais secretos espaços da mente e do corpo”

(HOOKS, 2008, p.857).

Um exemplo desse processo de intromissão, observa a autora, está na forma como o

inglês padrão serve de instrumento de opressão e de afirmação da supremacia branca. Neste

sentido, ela propõe que possamos nos colocar com o mínimo de resistência a esse tipo de ação

silenciosa da linguagem, dado o fato de ela ocorrer, no mais das vezes, em favor das

perspectivas ideológicas e das necessidades da cultura dominante. Acredito que Hooks (2008)

adere ao apelo derridiano de aprender a aprender, lançando-se nos domínios da linguagem de

olhos bem fechados e os demais sentidos aflorados, sob a intenção de ouvir e apreender o

conteúdo do que esta tem a dizer-lhe. Desta forma, o que nos aparenta ter ouvido ao fim de

sua reflexão e o que também nos sugere é que nos distanciemos dos modos como somos

levados, pela ‘cultura da dominação’, a conceber a língua, para que, assim, possamos ter

acesso a vozes que, no mais das vezes, essa mesma cultura silencia. Esta, ao passo em que

não admite a existência de formas de comunicação verbal, distantes do que se institui como

padrão, corrobora a idéia de que línguas possam ser domadas, encarceradas por normas, assim

como presas a uma ou outra concepção. A este respeito a autora coloca:

Mudar a maneira como nós pensamos sobre a linguagem e como nós a

usamos necessariamente altera a maneira como nós sabemos o que sabemos

(...). Eu proponho que nós não precisemos necessariamente ouvir e saber o

que é enunciado em sua totalidade, que nós não precisemos “dominar” ou

conquistar a narrativa no todo, que nós possamos conhecer em fragmentos.

Eu proponho que nós possamos aprender com os espaços de silêncio tanto

quanto com os espaços de fala, que no ato paciente de ouvir uma outra

língua nós possamos subverter esta cultura de frenesi e consumismo

capitalistas que exige que todo desejo deve ser satisfeito imediatamente, ou

nós possamos romper este imperialismo cultural que sugere que alguém só é

digno de ser ouvido se fala em inglês padrão (HOOKS, 2008, p. 862-863).

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A relação que envolve os sujeitos e a linguagem é complexa e problematizável,

também por estar associada ao imperialismo cultural, posto que, porque esses sujeitos

retroalimentam a semioticidade da linguagem, ela escorrerá por seus dedos sempre que

pretenderem aprisioná-la. Ainda no que diz respeito a esta relação, vale ressaltar que, em seu

seio, é engendrada uma forte contradição, dado o fato de a própria enunciação constituir para

os indivíduos ─ contrariando a unidade que buscam discursivamente compor ─ um momento

de fragmentação. Ainda que um “eu” só possa existir no instante em que é proferido,

corporificado pela linguagem, esta não dá conta de repetir o vivido em sua completude e

totalidade.

Ela encontra os seus limites para exprimir o real, porque lhe é dada a árdua tarefa de

lidar com a vida e com os indivíduos no nível da consciência, num plano interior, abstrato e

subjetivo. A presença decisiva da subjetividade no campo da linguagem determina que a

busca pela reprodução fidedigna dos fatos, das pessoas e dos discursos seja perpassada pela

noção de representação. Essa idéia de indizibilidade da vida pela linguagem é corroborada

pela seguinte fala de Burke e Porter (1993):

quando nos deparamos com estranhas reações mentais e físicas, é

extremamente difícil encontrar “as palavras para expressá-las”. Os

sentimentos são intangíveis, inefáveis. É difícil traduzir adequadamente

estados corporais por palavras; acima de tudo é difícil encontrar os termos

certos para as dores e doenças, inquietações, ansiedades, estresses e

angústias. Mas precisamos fazê-lo. Queremos contar, confessar, partilhar,

buscar conforto. No mínimo, precisamos de ajuda médica, e portanto

precisamos expressar nossa “queixa” ao médico (BURKE E PORTER, 1993,

p.28).

O que quero dizer aqui é que constatar as limitações da linguagem, a exemplo da fala

descrita no trecho acima, não compromete a sua relevância, porque, mesmo levando em conta

o seu caráter lacunar, ela continua a ser um meio de o indivíduo dizer-se, de agir e, portanto,

de existir. É a partir da irrevogável imprescindibilidade de que ela desfruta que se nos impõe a

tarefa de tratá-la não apenas como algo cujo domínio possibilita o surgimento da

autoconsciência e das palavras adequadas para que se diga “eu”, mas ainda da subjetividade

moderna, tal como também pontuam Burke e Porter (1993). Todo enunciado, ainda que

coletivo, contém a sua dimensão subjetiva e individual, a qual, no entanto, jamais se dissocia

da sociedade, de suas instituições e do poder que as regula.

O caráter imanente da relação estabelecida entre indivíduo e sociedade, no bojo da

experiência da linguagem, dá-se, pois “as práticas de significação e os sistemas simbólicos

por meio dos quais os significados são produzidos, posicionando-nos como sujeito”

(WOODWARD, 2009, p.17), constituem-se na esfera das relações sociais, as quais não

prescindem da linguagem. Esta idéia é afirmada por Benvéniste (2006) quando pontua:

A linguagem é para o homem um meio, na verdade, o único meio de atingir

o outro homem, de lhe transmitir e de receber dele uma mensagem.

Conseqüentemente, a linguagem exige e pressupõe o outro. A partir desse

momento a sociedade é dada com a linguagem. Por sua vez, a sociedade só

se sustenta pelo uso comum de signos de comunicação. A partir deste

momento, a linguagem é dada com a sociedade. Assim, cada uma destas

duas entidades, linguagem e sociedade, implica a outra (BENVÉNISTE,

2006, p.93).

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Admitir que essa relação é inextricável significa tomar um caminho de reflexão acerca

da linguagem no qual ela se conforma, como também coloca Benvéniste (2006), fazendo-nos

considerar a inclusão dos falantes em seus discursos. Pensar a relação indivíduos/linguagem

significa buscar situá-los em sociedade enquanto participantes, o que para o autor desdobra

“uma rede complexa de relações espaço-temporais que determinam os modos de enunciação”

(BENVÉNISTE, 2006, p. 101).

Acredito que a maneira como discutimos sobre a linguagem e suas interfaces, no

momento da disciplina da qual esta reflexão foi um broto, conduziu-nos a refletir também

acerca de como os modos de enunciação supracitados diferenciam-se e são produzidos dentro

dessas redes, ou seja, acerca da forma como o homem se situa em uma classe para incluir-se,

no mais das vezes premeditadamente, em relação à sociedade e à natureza. Com relação a isto

Benvéniste (2006) também observa:

Cada classe social se apropria dos termos gerais, atribui a eles referências

específicas e os adapta assim à sua própria esfera de interesse e

freqüentemente os constitui com base em derivação nova. Por sua vez, estes

termos, carregados de valores novos, entram na língua comum na qual

introduzem as diferenciações lexicais (BENVÉNISTE, 2006, p.102).

O que me parece uma constante na reflexão dos autores com os quais optei por

dialogar é, de uma forma ou de outra, a presença de uma concepção não essencialista de

linguagem. Creio ser de extrema importância considerar a dimensão irrefutavelmente política

dos fenômenos da linguagem e acredito também que essa função política e ideológica que os

constitui é o que nos permite, decisivamente, repensar a idéia de que haja para si uma

natureza.

II- Língua e linguagem nas malhas do poder e da exclusão

No caso da reflexão sobre a língua, creio que se distanciar de certos essencialismos

seja bastante pertinente, o que se justifica na medida em que consideramos não haver um

rumo próprio que ela possa tomar. Em seu funcionamento, a língua sofre intervenção de

fatores externos (extralingüísticos), uma vez que “sendo uma entidade abstrata,

presumivelmente não pode fazer nada por si mesma: qualquer tipo de mudança (incluindo

empréstimos) requer a interferência dos falantes” (RAJAGOPALAN, 2009, p.19). É a partir

dessa interferência que são abertas portas para que o poder, em todas as suas formas, adentre

o universo dinâmico dos fenômenos da linguagem, pois, neste sentido, acredito que, assim

como os falantes estão para ela, o poder compromete a autonomia dos atos verbais de cada

um desses falantes.

O que julgo igualmente necessário pensar, neste sentido, é como, por exemplo, a

influência do poder determina a necessidade de que uma língua seja aprendida em detrimento

de outra, como o que ocorre com o inglês (língua), cujo domínio conformou-se como algo

necessário à inserção dos indivíduos em muitos contextos. Na medida em que o fato de não se

dominar as competências orais e escritas dessa língua determina que se esteja ou não em

alguns lugares, ou que se execute ou não determinadas tarefas, as próprias noções de ‘norma’,

‘padrão’ e, até mesmo, de ‘necessidade’ devem ter as suas funções repensadas, sob a

finalidade de incluir e não, como normalmente ocorre, de engendrar exclusão. Este, a meu

ver, é um exemplo claro e conhecido de como os poderes econômico e cultural atravessam as

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questões concernentes à língua, submetendo os sujeitos ao golpe do martelo da cultura

dominante, para lembrar Anzalduá (2006) quando se refere à sua importância para a

construção da identidade de um povo.

O cotejo entre as diversas perspectivas e abordagens teóricas às quais me referi, no

que diz respeito às formas como é consolidada a linguagem (língua, fala, discurso,

enunciação), permite-nos entrever as suas manifestações de forma cada vez menos constativa,

cristalizada. Esta forma centrar-se-ia, sobretudo, na idéia de que o campo da linguagem é um

espaço heterogêneo, bem como no fato de tal heterogeneidade ser agenciada pelo poder, o

que, ao meu ver, determina a necessidade de que cada pessoa se coloque diante da realidade

consciente da força de coerção de que tal poder desfruta.

No momento em que atrelamos à linguagem questões políticas, percebemos a

necessidade não só de buscar entender os seus jogos de modo estratégico, mas também de

manuseá-la estrategicamente. Não se trata aqui de levar em conta apenas o poder de agência

do sujeito, mas de admitir que esse poder existe sob posse da linguagem, muitas vezes

articulada pelos indivíduos e pelas instituições para fins de doutrinação política. Tratar-se-ia,

sobretudo, de considerar que

as pessoas falam para serem “ouvidas”, às vezes para serem respeitadas e

também para exercerem uma influência no ambiente em que realizam os atos

lingüísticos. O poder da palavra é o poder de mobilizar a autoridade

acumulada pelo falante e concentrá-la num ato lingüístico (Bourdieu, 1977)

(GNERRE, 1998, p.5).

Ao referir-me a tais jogos, devo deixar claro que não os concebo de modo pejorativo,

porque entendo que eles também nos permitem fugir aos dispositivos de regulação próprios à

linguagem, ou seja, criar possibilidades de ação, inclusive em contextos dos quais facilmente

somos e podemos ser excluídos. Assim, não me cabe, daqui pra frente, ignorar o fato de que o

processo de exclusão ao qual aludi não se efetive por meio da linguagem e, tampouco, deva

ser pensado dissociado da sociedade. Fazê-lo seria vendar os olhos à realidade do fato de que

“as regras que governam a produção apropriada dos atos de linguagem levam em conta as

relações sociais entre o falante e o ouvinte” (GNERRE, 1998, p.6), assim como às

constatações de que:

nunca existe a liberté, égalité, fraternité das línguas; em nenhum lugar há

uma “sociedade de niveladores” genuinamente lingüística. Os níveis de

linguagem são dispostos em hierarquias sociais que, de maneira geral, são

oficialmente reforçadas (e, às vezes, igualmente subvertidas, por meio das

formas paródicas da comédia, do carnaval e da charge).

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A linguagem de

uma língua dominante, a fortiori, de um poder colonial, como salienta Victor

Kiernan mais adiante, geralmente tem precedência sobre a de seus súditos: a

dos ricos sobre a dos pobres, das pessoas cultas sobre as iletradas, dos

manipuladores da mídia sobre as massas, dos centros metropolitanos sobre

patoás distantes (BURKE E PORTER, 1993, p.23).

Ao afirmar que os níveis de linguagem são dispostos em hierarquias sociais, o

pensamento dos autores supramencionados corrobora a idéia presente nesta reflexão de que a

língua também é um dispositivo de produção de desigualdade social, bem como de que as

cristalizações lingüísticas, quaisquer que sejam, constituem uma forma de marginalizar tudo o

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que foge à normatividade padrão das línguas. Diante desse reconhecimento, as configurações

de seu uso representam, recorrentemente, “um bom exemplo de como os “aparelhos

ideológicos do estado” de Althusser (1996) funcionam no assujeitamento dos indivíduos”

(RAJAGOPALAN, 2008, p.18). Este processo ocorre ligado às instituições do estado, família,

escola, partidos políticos, religiões, pelo fato de serem, como é sabido, pilares da formação do

pensamento social, assim como de uma forma de pensar rígida e, por assim dizer, seletiva.

Os pensamentos que provêm de tais instituições incitam-nos, conseqüentemente, a

atos de linguagem que engendram discriminação, exclusão e preconceito lingüísticos, como já

pontuamos. Repetimo-los porque também constituem disposições afetivas, cujo poder reside

em que são parte íntima de nós mesmos. O modo como elas constroem suas palavras de

ordem e difundem os seus discursos distancia-lhes da idéia de se tornarem espaços

verdadeiramente plurais e dialógicos, porque propor-se a sê-lo é, indubitavelmente, pôr em

risco a legitimidade dos discursos que produzem e o lugar de onde falam como instituição.

Diante disto, propor-se a rever sua própria estrutura reguladora comporia um ato, por assim

dizer, solidário e altruísta, afinal, não convém a elas abrir-se ao diálogo e repensar o seu

próprio funcionamento se não há obstáculos ao exercício de seu poder e se o lugar no qual se

está constitui uma zona de conforto.

Ao referir-se à língua, ao povo e à identidade ‘chicanos’, Anzalduá (2006) afirma toda

a nossa reflexão acerca do que também pensamos caracterizar a relação entre linguagem e

poder. Ela aponta para o fato de a fragmentação identitária chicana não ser apenas uma

questão relacionada às propriedades da língua em si, mas ligada, sobretudo, às imposições da

cultura dominante, no caso dos chicanos a norte-americana.

A falta de lugar para ser chicano, para afirmar, estrategicamente ou não, o que quer

que desejem que esta ‘identidade’ seja, é um processo, reflete a autora, que está intimamente

ligado à questão de dominação econômica e cultural norte-americana. Impor a língua

dominante, sugere-nos Anzalduá (2006), é uma forma de dar continuidade a um processo de

subalternização e silenciamento ‘chicanos’ e de impedir que haja qualquer tipo de articulação

que revogue a força de mando das vozes dominantes. Esta reflexão não nos é nova ou nos

processos de colonização não haveria imposição da língua do colonizador. Contudo, o que me

parece discutível, neste caso, é o fato de que essas formas de colonizar e desarticular

continuem a existir transcriadas nas diversas esferas da atividade humana nas quais haja

organização social e, dialeticamente, poder institucional.

Esta relação imanente entre língua e identidade é afetivamente pensada pela autora,

que, ao longo de sua reflexão, nos mostra a sua ampla dimensão, situando tanto uma quanto a

outra no bojo de uma discussão política necessária, a exemplo de quando pro(fere):

se você quer mesmo me ferir, fale mal da minha língua. A identidade étnica

e a identidade lingüística são unha e carne ─ eu sou minha língua. Eu não

posso ter orgulho de mim mesma até que possa ter orgulho da minha língua.

Até que eu possa aceitar como legítimas o espanhol chicano texano, O Tex-

Mex e todas as outras línguas que falo, eu não posso aceitar a minha própria

legitimidade. Até que eu esteja livre para escrever de maneira bilíngüe e

permutar idiomas sem ter sempre que traduzir, enquanto eu ainda tiver que

falar inglês ou espanhol quando preferiria falar Spanglish, e enquanto eu

tiver que me acomodar aos falantes de inglês ao invés de eles se

acomodarem a mim, minha língua será legítima (ANZALDUÁ, 2006,

p.312).

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Ao apontar a indissociabilidade entre os dois tipos de identidade aludidos, Anzalduá

(2006) incita-nos a refletir sobre o ‘baixo ventre da linguagem’, observando a este respeito

que apenas através da conexão entre uma posição com a qual se coadunem os sujeitos e uma

língua própria torna-se possível que estes comuniquem realidades e valores que lhes sejam

verdadeiros. Ela explicita o fato de que não há como haver articulação de idéias e,

conseqüentemente, uma articulação política sem que haja uma língua condizente com o

espírito do que se deseja expressar e ser.

Desta forma, a autora nos conduz a olhar para dentro de nós mesmos e ao nosso redor,

propondo-nos a busca por uma forma ‘responsável’ de dizermo-nos e, portanto, de nos

colocar; como se em nós reverberasse a idéia bakhtiniana de que não há álibi para o ser, de

que todo pensamento é um pensamento-ação, motivo pelo qual devemos buscar formas

legítimas de darmos materialidade ao que somos pela linguagem, proliferando, assim, a

heterogeneidade constitutiva dos nossos discursos.

O que julgo ser importante problematizar a este respeito é o fato de haver, em

contraste com a idéia de responsabilidade à qual me referi, uma predisposição ocidental à

teorização, à busca desenfreada por uma essência para os objetos pensados, no bojo da qual a

subjetividade, a singularidade e, portanto, a leitura que cada indivíduo faz de si próprio são

solapadas por preceitos teóricos fortemente instituídos dos quais não temos como nos

esquivar.

Rajagopalan (2006), a meu ver, contribui para a complexificação do processo

reflexivo que envolve a busca por formas novas e necessárias de se pensar a linguagem. Isto

se dá na medida em que, assim como constata que seja “impossível pensar adiante sem o

auxílio de dicotomias como “natureza versus cultura”, já que até mesmo para questioná-las é

preciso utilizá-las (p.78), desconstrói a idéia de que tal dicotomia de fato exista, o que faz ao

afirmar:

até mesmo a própria distinção natureza/cultura só poderia ter sido uma

produção cultural, o gesto fundador da episteme no sentido em que Foucault

popularizou e resignificou esse termo como sendo um arcabouço discursivo

determinado temporal e culturalmente (RAJAGOPALAN, 2006, p.77).

Esta contradição flagrante define-se tanto em virtude de não haver um meio de não nos

imprimirmos nas palavras que escolhemos e proferimos, nos discursos que corroboramos e no

modo como enunciamos, quanto em razão de não existir a possibilidade de ignorar que o

mundo das coisas, assim como a linguagem, é objeto de desejo da teoria.

De tais observações resulta a constatação de que a contradição à qual nos referimos

consolida, no universo da linguagem e em o seu campo epistemológico, um momento

‘indecidibilidade radical’, segundo pontua Derrida (1971) apud Rajagopalan (2006). O

primeiro deles usa esta noção para definir o momento de impasse em que estaríamos vivendo

no ‘limiar do impensável’, enquanto o segundo nos alerta para a necessidade de que seja

reflexivamente percorrida a espaço-temporalidade que constitui tal momento, observando, no

que tange à constatação derridiana:

Longe de ser um momento de recuo de nossas responsabilidades políticas ─

como advertem alguns críticos desavisados ─ a indecidibilidade no plano

onto-epistemológico impõe uma enorme responsabilidade no plano de ação

ético-política (Rajagopalan, 2006, p.78).

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Desta forma, cremos que pensar a linguagem implica, acima de tudo, em repensá-la-;

tomar consciência desse momento de impasse e de ‘indecidibilidade’ que atravessam e

constituem o seu campo onto-epistemológico, para buscar fugir, estrategicamente, às

imposições lingüísticas e, irrevogavelmente, políticas que o constituem.

E se a questão é sugerir reposicionamentos e resignificações, face ao que caracteriza

esse momento, acredito que se deva insistir no fato de que a língua, tal como a concebe

Anzalduá (2006), é um dispositivo de resistência, um elemento vivo e ─ acrescento ─ que

está sempre pronto para enfrentar conosco os percalços pelos quais passamos em busca de

sobrevivência. Neste sentido e a respeito de seu tema de reflexão, a língua chicana, a autora

observa:

O espanhol chicano surgiu da necessidade de os chicanos se identificarem

como um povo distinto. Nós precisávamos de uma língua com a qual

pudéssemos nos comunicar uns com os outros, uma língua secreta. Para

alguns de nós a língua é uma terra natal mais próxima do que o sudoeste ─

pois muitos chicanos vivem hoje no meio-oeste e no leste. E porque somos

um povo complexo, heterogêneo nós falamos muitas línguas (ANZALDUÁ,

2006, p.307-308).

Este é um excerto que nos serve para que sejam feitas algumas últimas colocações

acerca de questões que perpassam e compõem o universo de nosso objeto de reflexão, a

linguagem. O que gostaria de enfatizar, aqui, é a idéia de que a complexidade citada no trecho

acima existe, porque a linguagem constitui a vida e é constituída por ela. Por entender que a

relação entre elas é dialética, não há como nos esquivarmos do fato de que, embora seja uma

tarefa impossível compreendê-la, encarcerando-a nos domínios da cognição teórico-científica

ou segundo binarismos, seria ingênuo achar que haja uma forma de pensá-la que fuja a

ambos.

O que proponho, diante do exposto, é que desejemos enxergar as limitações dos

dispositivos os quais detemos para adentrar o domínio de reflexão da linguagem, de modo a

entender que o contexto a que me refiro nos impõe a consolidação de um ‘pansamento-ação’,

para lembrar Bakhtin (1993), estratégico, reflexivo e menos ingênuo.

III- Eu sou ‘Neguinho’?

Para concluir esta reflexão, gostaria de revisitar as palavras de ‘Neguinho’; de

‘caetanamente velosear’ o universo polissêmico que caracteriza esta composição do artista

baiano, em que nos diz:

Neguinho não lê, neguinho não vê, não crê, pra quê

Neguinho nem quer saber

O que afinal define a vida de neguinho.

Neguinho compra o jornal, neguinho fura o sinal

Nem bem nem mal, prazer

Votou, chorou, gozou: o que importa, neguinho?

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Rei, rei, neguinho rei

Sim, sei: neguinho

Rei, rei, neguinho é rei

Sei não, neguinho.

Se o nego acha que é difícil, fácil, tocar bem esse país

Só pensa em se dar bem - neguinho também se acha

Neguinho compra 3 TVs de plasma, um carro GPS e acha que é feliz

Neguinho também só quer saber de filme em shopping.

Rei, rei, neguinho rei

Sim, sei: neguinho

Rei, rei, neguinho é rei

Sei não, neguinho.

Se o mar do Rio tá gelado

Só se vê neguinho entrar e sair correndo azul

Já na Bahia nego fica den'dum útero

Neguinho vai pra Europa, States, Disney e volta cheio de si

Neguinho cata lixo no Jardim Gramacho.

Neguinho quer justiça e harmonia para se possível todo mundo

Mas a neurose de neguinho vem e estraga tudo

Nego abre banco, igreja, sauna, escola

Nego abre os braços e a voz

Talvez seja sua vez:

Neguinho que eu falo é nós.

Rei, rei, neguinho rei

Sim, sei: neguinho

Rei, rei, neguinho é rei

Sei não, neguinho.

(VELOSO, 2011, disponível em: http://letras.terra.com.br/gal-

costa/1992788/).

O meu intuito, ao propor este subtítulo, é, mais uma vez, o de enfatizar, sobretudo para mim,

a necessidade de estarmos atentos aos posicionamos que assumimos diante da linguagem e

para com ela, visto que ela também nos posiciona. Um dos caminhos que entendo poder ser

tomado, a partir da letra aludida, remonta à idéia platoniana de pharmakon, consubstanciada

na máxima popular que afirma: o que arde e cura é o que a preta segura. Acredito, assim

como propõe Platão em seu Fedro, que a linguagem exerce uma dupla função, a de veneno e a

de remédio, e que, por isso mesmo, faz-se importante que saiamos da zona de conforto e

comodidade que o desprezo a este fato nos proporciona.

Somos levados, em graus distintos de intensidade a viver como ‘neguinhos’, reis da

demagogia, do assujeitamento, da irresponsabilidade, seduzidos e cegos pelas malhas do

poder – ‘podre e necessário poder’ − presos a uma rede de exclusão que se retroalimenta,

aumentando cada vez mais as suas dimensões e o seu alcance.

Neste percurso reflexivo, também tive a oportunidade de começar a pensar de modo

mais articulado e sereno, para lembrar mais uma vez Gnerre (1998), o funcionamento e as

regras que governam a produção dos atos de linguagem, de modo a perceber a necessidade de

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buscar meios de resistir, ainda que timidamente, à esmagadora força de cooptação do poder –

do poder agindo sobre a linguagem, instituindo desejos e necessidades, moldando e ditando

um modo de viver que só alimenta a ele próprio e busca, antes de tudo, vetar quaisquer

práticas que coloquem sua ação em xeque.

Desejo, na medida do possível, recusar-me à escleroftalmia, à qual se refere Derrida

(1999), e distanciar-me da reprodução habitual de um modo ‘duro’ de ver o mundo. Inté,

‘neguinhos’!

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Enviado por J B Pereira em 22/01/2014
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