A coruja visita as memórias de um dia que já é noite...

http://ghiraldelli.files.wordpress.com/2008/07/silveira_hegel.pdf

Jan. 2011. A coruja visita as memórias de um dia que já é noite... como os ajudantes da cozinha limpam tudo após o almoço e a festa...

Analisar arquivos: interdisciplinar

Pesquisar arquivos: olhar do arquivamento do eu nos outros...

Cuidar de arquivos – destinos

Ao realizar todos os dias certas atividades e obrigações, tornamo-nos autômanos ou robôs de vida passiva... fazemos coisas e não agimos. Estamos mantendo a vida na sua rotina e não recriando espaços de qualidade de viver.

Depois de terminado o almoço, lavamos as vasilhas e organizamos de novo a cozinha, isto é, tornamo-la transitável e utilizável. Amanhã será outro dia... e repetimos essas atividades...

Por que construímos assim a vida? Tornou-se um legado, sem o qual a vida seria um caos.

Hegel compara a noite como um rearranjo do dia. A coruja supervoa a região noturna como um registro das coisas que já aconteceram. Nesse sentido, parece-nos que não há novidade mais nos fatos da história. O filósofo como a coruja apenas discute o que já se deu como historicidade. Trata-se de pensar o pensado e repensar o que já se deu.

Mas, não será também o trabalho do pesquisador das memórias do arquivo?

Se, depois de almoçar, lavamos os talheres, programamos a condição de novamente almoçar no outro dia. Contudo, nas questões da memória e arquivo, embora a analogia possa parecer possível, há de se considerar a ação do tempo e do esquecimento. As pessoas morrem! Esquecem delas as novas gerações. Depois, que alguém morre, com ela morrem seus arquivos da memória. Se ela deixou alguma coisa, pode ser que eles se desviem, sumam, serão destruídos pelos homens, pelas forças da natureza. Os arquivos envelhecem e desaparecem. Tornam-se não legíveis...

Depois que a festa e o almoço terminam, entra em ação o pessoal da limpeza! Creio que esse pessoal metaforicamente é a equipe de pesquisadores... Muitos anos depois, se alguém fosse lembrar como fora a festa ou a limpeza, teria dificuldades de rememorar... Se fossemos crianças na época, teríamos a reminiscência... Talvez os lugares da memória ainda nos transportassem para detalhes que conjugados a outros homens-memória produziram um quebra-cabeça das lembranças... Poderiam fatos se articularem; outros talvez não.

Os vestígios seriam lidos diferentemente para cada um. Ou os rastros desse passado não seriam os mesmos? Essa desafiante e instigante viagem no portal do tempo, isto é, da memória definiria imagens e arquivos dentro da gente. As fotos seriam observadas e teríamos a sensação de recompensa quando identificássemos lugares e pessoas, objetos e animais...

Mas, seria uma decepção se não conseguíssemos alguém para nos ajudar a decifrar ou nos mostrar quem é quem e o que é que estamos lendo aí... O óbvio, em princípio, seria um enigma... Mas, a vida não é cheia deles... ? Não chegamos na vida e na história sempre como passageiros de uma viagem em andamento...?

Há viajantes, que antes de partir, deixam seu arquivo prontinho para o porvir? Outros, nem tanto. E há os que não deixam nada, nem uma epigrafe, nem uma inscrição tumular. E ai o que se faz nesses casos? Há graus de dificuldades de limpar a mesa e a cozinho depois da festa e do almoço... Há dificuldades de se obter vestígios e preencher lacunas... Mas, quem diz que devemos eliminar ou preencher lacunas? Quem disse que eu ou você ou quem quer que seja analisariam os fatos do modo como hoje os vemos ou do jeito que os deixamos lá no álbum de família, na estante e nas palavras do testamento?

E as memórias se construídas podem se desconstruir; e se a reconstruímos seriam as memórias legadas pelo seu autor quando de sua organização e catalogação...

A escrita de si implica, pois, a escrita do outro, que está em nós, e que existe fora de nós. O outro que fomos deixando criar força nas memórias e poesias que edificamos como casa para alguém morar, cidade para se viver, campo para semear, planeta para se ir...

O outro é também o pesquisador que nos olhará? Como será o olhar dele sobre nós, ou seja, sobre os restos ou cadáver de nossa vida – as memórias dos livros, currículos, fotos, malas, inventários, documentos da memória... datas e fatos que ficaram como retrato na parede e olhamos e recordamos de alguém e de algo.

autor desconhecido ou pode ser visto em http://ghiraldelli.files.wordpress.com/2008/07/silveira_hegel.pdf
Enviado por J B Pereira em 12/01/2014
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