Uma nova esperança [14]

DOcE SURPRESA

Tentei preencher a lentidão daqueles dias com longas leituras, pela manhã despertava-me cedo para cavalgar Nico quase sempre estava ao meu lado, nos aproximamos muito nesta semana.

As crianças já dominavam o alfabeto e isto era gratificante, fazia planos de ensinar-lhes a escrever seus nomes e as primeiras palavrinhas.

Faustina Mascarenhas estava em meus pensamentos com certa frequência nos últimos dias, lembrava-me dela todos os dias e um nó apertava minha garganta. De certa maneira, com a distância de Acácio temia que eles ainda tentassem algo de mau contra mim. Mesmo sabendo que agora tinha muitos protetores e amigos temia voltar áquela casa e passar por tudo novamente. Durante o banho, no dia anterior, observei minhas costas refletidas no espelho. Apesar de ser uma escrava branca a marca do que sou jamais me deixaria, de certa maneira ,apesar de toda a dor, não queria que as cicatrizes do chicote sumissem pois elas sempre seriam parte do que sou.

Em contrapartida, constatei alegremente que os quitutes de Socorro estavam a deixar-me roliça pela primeira vez em minha vida meus ossos não se faziam tão visíveis e eu trazia uma aparência saudável. Minhas bochechas estavam sempre coradas, meus cabelos estavam viçosos e brilhantes a felicidade que emanava de meu coração se fazia visível no exterior.

Nico e eu havíamos arreglado uma carreira para aquela tarde, ele duvidava que eu montava melhor que ele mas vencê-lo já estava se tornando um hábito, as carreiras mantinham minha mente produtiva por um bom tempo e quitavam-me o tédio do ócio em demasia.

Finalmente o sol mostrava-se com ganas de se pôr, Nico esperava por mim de sentinela vestindo uma camisa branca, que contrastando com sua pele morena formavam uma combinação fabulosa. Seu sorriso refletia a pureza de sua alma mas seus olhos traziam um brilho diferente naquele dia, um brilho que fez com que meus olhos também brilhassem. Nico era um jovem tão bonito e seu jeito adorável me encantava mais a cada dia, o marido de Faustina Mascarenhas que fora educado por amas francesas não tinha um quinto da educação que aquele menino simples da fazenda.

Eu usava uma calça antiga de montaria de Acácio que Socorro me trouxera para dar-me mais liberdade ao cavalgar, "uma mulher de calças" ainda podia ouvir como cochichavam alguns empregados, romper os padrões causava choque e eu adorava fazê-lo afinal ter nascido uma escrava branca já me fizera uma "rompe-padrões"!

Nico fez questão que eu montasse seu cavalo naquele dia para ver se não havia qualquer tipo de sabotagem com o meu, concordei achando tudo muito divertido e acabei por vencê-lo novamente.

"Eu desisto!" gritava com certa irritação e ameaçava empurrar-me nestes momentos éramos como irmãos. Ele caminhava de costas para poder olhar-me nos olhos e queixava-se impaciente sobre como conduzir um cavalo, arte que dizia dominar com maestria. "Pois hoje foi a última vez senhorita! Eu desisto! Pois procure outro parceiro de carreiras de agora em diante"

-Eu adoraria me juntar a você, menina, se minha companhia te agrada.

Sua voz fez com que um arrepio bom percorresse cada centímetro do meu corpo arrepiando meus pelos. Fui correndo cumprimentá-lo e dei-lhe um abraço forte causando surpresa em nós 3. Nico, com certo constrangimento, pediu licença e nos deixou a sós. Meus braços envolviam seu pescoço, e, por fim, suas mãos tocaram minha cintura.

-"Senti sua falta", disse em tom suave.

-Menina, fiquei fora apenas alguns dias!

-16 dias 16! Não foram tão poucos assim!

-Tanto assim? Indagou

Assenti com a cabeça e afastei meu corpo do seu, nos pusemos a caminhar lado a lado a passos lentos rumo a casa grande. Ele me contou em detalhes sua viagem, os negócios que fechara as pessoas que vira e disse-me ter comprado algo para mim. Senti-me feliz e constrangida ao mesmo tempo.

-Está com fome? Perguntei quando chegamos em casa

-Sim, bastante, mas quero tomar um bom banho.

-Pedirei a Socorro que sirva o jantar dentro de uma hora e eu mesma preparo-lhe o banho.

-Já disse que não te quero fazendo serviço doméstico.

-Estou fazend0 um agrado para um amigo. Em caso de ele permitir-me....

-Sim, menina, claro. Perdoe-me.

-Pois deixa de tratar-me de menina! Disse-lhe que não gosto!

Ele sorriu e pegou algo em uma bolsa de couro que estava ao lado da porta e de dentro de uma pequena caixa preta tirou um pequeno colar. Ainda ajoelhado, beijou-me a mão.

-Perdoe-me

Levantou-se, e colocou o colar em mim. Uma fina e elegante corrente de ouro com um pingente de diamante. Simples, delicado e simplesmente perfeito. Ele estava atrás de mim, suas mãos estavam em meus ombros, seu rosto colado ao meu.

-É lindo, muito obrigada. Disse emocionada. Vou prepar-lhe seu banho, nos vemos em uma hora. Sorri alegremente e voei pelas escadas. Algo em mim voltara a pulsar.

[continua]

Aimée Legendre
Enviado por Aimée Legendre em 04/12/2013
Código do texto: T4597927
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