De degrau em degrau
A casa, de dois quartos, sala e cozinha, já ia ficando pequena para abrigar a
família que a cada dois anos recebia um novo membro. E éramos seis, ou sete,
quando papai e mamãe bateram o martelo em torno do projeto de puxar um
crescente. Que, curiosamente, não foi quarto adicional, como pareceria mais lógico.
A prosposta vencedora, no comum acordo de pai e mãe foi por um novo cômodo,
nos fundos, que passaria a servir de cozinha e a cozinha em serviço então, perderia
o seu fogão, mas ganharia uma promoção, sendo elevada à categoria de copa.
Copão, em comparação com os demais cômodos da casa. E ainda por riba, com
aquele piso lisinho, de vermelhão vermelhinho.
Até ali, tudo bem, o que se seguiu é que foi o porém: fizeram-se as contas,
contratou-se um pedreiro da Companhia, que nas horas vagas construía, logo,
o Zé Maria, e o se levou a cabo a construção da nova cozinha. Mas a limitação
dos recursos, ou temores de se ultrapassar o orçamento fizeram com que o novo
cômodo ficasse abaixo - literalmente - da expectativa: é que havia um desnível
grande entre a copa e a nova cozinha, que se compensara com a construção de
uma escada. De quatro ou cinco degraus. Mamãe, com sua visão prática das coisas,
não engolia sua contrariedade. Um risco aqueles degraus dentro duma casa cheia
de pequerruchos. Tivesse sido feito um aterro, não se evidenciaria tamanho erro.
Mas como convencer um empedernido marido, e um pedreiro matreiro que além de
tudo tinha uma olho de vidro?
Uns dois anos depois, no entanto, o impasse foi resolvido: mudamo-nos do
povoado para a cidade e nunca mais voltamos a ter escada em cozinha.