Deus escreve certo...
Um provérbio bem comum pode dar boas variações. E por ene razões. Apesar dos
senões.
Nossa horta no povoado do Brumado era bem pequenina - na proporção da casa,
e do espaço do terreiro, já loteado para para a plantação, o jardim, a criação, a
circulação, e, naturalmente, as 'terras devolutas', que ficavam mais pro fundo do
quintal e se disputavam por alguma plantação sazonal do milho, do quiabo, e do
matagal, que, no período das chuvas - diferentemente das uvas - crescia pra diabo.
Pequenina, e frontal à porta da cozinha, não deixava contudo a hortinha de dar um
trabalhão danado. Ou é só desculpa de moleque mal-criado?
É que as hortaliças eram muito delicadas, além das cobiças de que eram rodeadas:
e as mais implacáveis eram as formigas. Quietinhas durante o dia, uma noite
bastava, e tudo sumia. Uma praga que nem sempre com veneno se pagava.
E o sol, normal e mornalmente tão benfazejo, tinha também os seus caprichos, pois
quando dava de esquentar, chegava a tudo esturricar. Chegamos a cobrir com um
lençol (ou era virol?) umas mudinhas de alface, para lhes salvar ao menos o valor
de face. Num era face!
Mas dava gosto também saborear-lhe as couves tenras, suculentas, arrancar-lhe
uma cenoura - ainda daquele tempo de meio século atrás em que além da cor, as
plantinhas tinham aquele inescrutável gosto de algo natural...
E aquela vez em que a produção superou as expectativas e nos vimos todos juntos
num fim de tarde a trançar alho... Pois é, dava trabalho, mas também dava alho.
Afinal, reproverbiando, Deus escreve perto por lindas hortas.