The Hunteress - A Caçadora
Prólogo
Por um instante tentei me mover. Mexer os lábios, a língua. Passei a língua pelos lábios inferiores e pude sentir o gosto do sal. Sabia que tinha que mover o corpo, mas estava confortável. Devo ter dormido novamente. Passei a língua pelos lábios outra vez, ainda sentindo um gosto salgado mas dessa vez pude sentir areia dentro da minha boca.
Foi nesse momento que senti sede. Uma sede incontrolável. Ainda não conseguia pensar com clareza. Não lembrava onde eu estava nem onde eu deveria estar. Obriguei meu cérebro a enviar informações para o resto do meu corpo de que ele precisava se mover. Aos poucos fui movendo as pernas, quadril, saí da posição bruços e fiquei de barriga para cima. Coloquei as mãos no chão e senti a areia fofa debaixo do meu corpo. Tentei lembrar novamente onde estava. Nada. Só me lembrava de como sentia sede. Meus olhos ainda não haviam respondido ao comando do meu cérebro. Parei de me mover e deixei meus outros sentidos trabalharem.
Já havia sentido a areia sob o meu corpo e já havia provado o sal. Meus ouvidos ficaram atentos ao barulho ensurdecedor que estava a minha volta. Pude ouvir bolhas. Ou eram espumas? Como se ouve bolhas ou espumas? Água. O barulho era de água. Com certeza, água. Minha sede aumentou. O barulho soava como se a água batesse violentamente em algum lugar e então eu ouvia as bolhas ou espumas. Ou os dois. O cheiro. O cheiro era de coisa limpa, mas ao mesmo tempo enjoativo. Causava-me náuseas. Só precisava de mais um sentido, mas esse ainda estava resistente ao comando do meu cérebro. Só precisava colorir meus pensamentos e dar vida ao que meus outros sentidos desenharam na minha imaginação. Fui treinada para reconhecer cada pedaço do mundo através dos sentidos à exceção da visão, mas era ela quem coloria e dava simetria aos desenhos tortos e sem cor da minha imaginação.
Percebi então, que estava em uma praia. Mas por quê? Para quê? E nesse exato momento o calor inundou meu corpo e pude sentir minhas bochechas queimarem . Subitamente abri os olhos. Eles antes não respondiam ao comando porque até meu cérebro ainda estivesse dormindo, mas quando todas aquelas informações vieram à tona em meus pensamentos e pude me lembrar de tudo, meus olhos não permaneceriam fechados. Tínhamos muito que fazer.
De olhos bem abertos, levantei-me do chão da praia. O corpo ainda dolorido. Já me lembrava de quem era, de onde vinha, para onde estava indo e o que eu tinha que fazer. Eu tinha uma missão.