Cartas de Joaninha
De estafeta a escrevente dos correios e telégrafos foram muitos anos de
bater perna para Joaquim. E Joaquim Carteiro - chamavam-no assim - era
sem fim. Na proximidade dos anos da aposentadoria seu andar era agora
compassado, devagar, e de casa pro trabalho e na volta pro lar. Aos
domingos ia à missa, mais para agradar à esposa Joaninha do que para não
desagradar ao Criador. E seu tempo de lazer era passado no alpendre da
casinha, sentado ao lado de sua sempre sorridente Joaninha. Bonitona ela,
aparentava ter quinze anos a menos do que o marido, mas pra quê pensar em
idades, quando há tantas outras veleidades e veladas vontades?
O quintalzinho da casa, o jardim, tudo tão bem cuidado, mesmo que pela
singeleza assinado. Joaninha tinha tempo para cuidar das coisas, e do
marido, com desvelo nunca esquecido. Saíam pouco. E nem precisavam, pois
ora um, ora outro, passantes os cumprimentavam e alguns mais chegados
pruma prosa se demoravam. Filhos não tinham, não tiveram essa ventura.
Mas quem iria tocar no assunto, já naquela altura? E com seus olhinhos
miúdos, seu terno de brim, sorria com a prótese amarelada, o carteiro
Joaquim, sempre no asseio, sempre na linha. As cartas, dava-as a Joaninha