Cartas de Joaninha

De estafeta a escrevente dos correios e telégrafos foram muitos anos de

bater perna para Joaquim. E Joaquim Carteiro - chamavam-no assim - era

sem fim. Na proximidade dos anos da aposentadoria seu andar era agora

compassado, devagar, e de casa pro trabalho e na volta pro lar. Aos

domingos ia à missa, mais para agradar à esposa Joaninha do que para não

desagradar ao Criador. E seu tempo de lazer era passado no alpendre da

casinha, sentado ao lado de sua sempre sorridente Joaninha. Bonitona ela,

aparentava ter quinze anos a menos do que o marido, mas pra quê pensar em

idades, quando há tantas outras veleidades e veladas vontades?

O quintalzinho da casa, o jardim, tudo tão bem cuidado, mesmo que pela

singeleza assinado. Joaninha tinha tempo para cuidar das coisas, e do

marido, com desvelo nunca esquecido. Saíam pouco. E nem precisavam, pois

ora um, ora outro, passantes os cumprimentavam e alguns mais chegados

pruma prosa se demoravam. Filhos não tinham, não tiveram essa ventura.

Mas quem iria tocar no assunto, já naquela altura? E com seus olhinhos

miúdos, seu terno de brim, sorria com a prótese amarelada, o carteiro

Joaquim, sempre no asseio, sempre na linha. As cartas, dava-as a Joaninha

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 06/10/2013
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